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Crítica


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Sinopse

No período entre as duas guerras mundiais, o famoso gerente de um hotel europeu conhece um jovem empregado e os dois tornam-se melhores amigos. Entre as aventuras vividas pelos dois, constam o roubo de um famoso quadro do Renascimento, a batalha pela grande fortuna de uma família e as transformações históricas durante a primeira metade do século XX.

Crítica

Para quem Wes Anderson filma? Ainda que não formulada assim, a pergunta deve habitar a cabeça de muitos espectadores na saída do cinema, ainda mais após uma sessão de O Grande Hotel Budapeste. A resposta, que não é simples, parece apontar para o seguinte: se uma vez Anderson filmou para si; hoje, amarrado aos acertos anteriores, filma para ser quem foi.

Igualmente preso ao tempo, mais precisamente nos Alpes europeus da imaginária Zubrowka, está o Hotel Budapeste. Espécie de Forrest Gump estático, o hotel é o protagonista maior de uma história que o atravessa, presencia duas guerras e vê florescer a relação do concierge Monsieur Gustave (Ralph Fiennes) com seu discípulo Zero (Tony Revolori). Tendo por base esta estrutura, contada a nós em retrospectiva pela memória de um escritor (Tom Wilkinson), o diretor desenvolve pequenos núcleos de ação e nos leva pela mão para conhecer um mundo reconstruído a seu gosto, ao mesmo tempo deslumbrante e artificial. Como o filho que leva o pai para ver um feito, Anderson exibe orgulhoso o seu trabalho como quem exibe a si próprio. A estratégia, que funcionou plenamente em Viagem a Darjeeling (2007) e Moonrise Kingdom (2012), se equilibra delicadamente, aqui, entre alguns momentos bons e tantos outros apenas regulares.

Na superfície, a criação esbanja pujança artística. Os enquadramentos irretocáveis, as cores precisamente trabalhadas para o contraste e as cenas pensadas a fim de criar o inusitado são a marca legítima de um dos mais autênticos diretores da sua geração. A fantasia de Anderson é inventiva e não encontra limites dentro do bom gosto. Tudo é acerto. No entanto, sem a cobertura, quando a desfazemos por maldade ou curiosidade – ou simplesmente porque a provamos anteriormente – o longa se mostra inevitavelmente frágil. Tal qual um Thomas Crown: A Arte do Crime (1999) às avessas, caricatural e infantil, em que Monsieur Gustave tem de salvar o quadro que lhe é deixado de herança, a trama central se sustenta menos pela elaboração do que pelo humor. A mistura do improvável com o ingênuo protege – e salva – boa parte das sequências.

Prova de que o estilo ocupou em demasia o espaço do conteúdo é o fato de que o potente elenco foi claramente subutilizado. Contando com nomes de peso, como Bill Murray e Jude Law, há pelo menos dois ou três personagens que não fazem jus ao talento em tela. A exceção fica por conta de Fiennes e Revolori. A dupla surpreende pela conexão irretocável, compondo personagens difíceis de maneira cativante. O quadro pintado por Anderson tem o mérito de pelo menos mais duas mãos. De um lado a de Adam Stockhausen, encarregado da direção de arte, e, de outro, a do parceiro habitual Robert Yeoman, diretor de fotografia. É da responsabilidade deste último, por exemplo, a captura das imagens em dois formatos distintos, 1.85 e 1.33, emulando o widescreen dos dias atuais e a imagem televisiva da época em que o enredo se passa, quando por volta dos anos 30.

Muito superior ao aleatório A Vida Marinha com Steve Zissou (2004), O Grande Hotel Budapeste diverte, como outros filmes de Anderson. Contudo, se este último trabalho pode ser considerado o ápice do refinamento estético da sua filmografia, certamente não atingiu o encaixe exato de todas as partes. Isso talvez, porque o inimigo do bom é o melhor. Assim como apostar no mesmo é garantir algum acerto, também o prende e limita.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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