Crítica
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Sinopse
Rupert Angier e Alfred Borden são mágicos britânicos do século XIX travando disputas ferrenhas por notoriedade.
Crítica
Após o sucesso de Batman Begins (2005), o diretor e roteirista Christopher Nolan decidiu pisar no freio. Ao invés de partir para outro blockbuster, preferiu usar a máquina de Hollywood – ao seu dispor após os mais de US$ 370 milhões arrecadados em todo mundo com a aventura do Homem-Morcego – para construir uma trama mais autoral e intrincada, nos moldes do seu primeiro sucesso, Amnésia (2000), porém com um visual refinado e com astros gabaritados. E o resultado desta vontade é O Grande Truque, que coloca novamente sob o comando do cineasta o ator Christian Bale (o Batman em pessoa), que aparece ao lado de Hugh Jackman (que ficou famoso ao interpretar outro super-herói, o Wolverine). O encontro dos intérpretes dos dois heróis mais badalados do cinema atual é igualmente emocionante.
Nolan, em conjunto com o irmão Jonathan, adaptou o romance de Christopher Priest sobre dois ilusionistas que, no final do século XIX, se tornam rivais e admiradores. Apesar de terem começado suas carreiras trabalhando juntos, uma trágico acidente termina por separá-los – e mais, passam a ser inimigos um do outro. Se um é mais hábil na execução dos truques, o outro se sai melhor junto ao público, com uma atitude mais simpática e envolvente. Deste modo, nenhum nunca estará completo, procurando eternamente aquilo que tinha à disposição quando atuavam juntos, pela sintonia que exerciam reciprocamente. A obsessão que acabam desenvolvendo simultaneamente irá afetar não só suas vidas, como as daqueles que os cercam – a esposa, o melhor amigo e companheiro, a amante – definindo os rumos de uma relação de gato-e-rato que não tem como ter final feliz. Ao menos não para ambos.
Jackman, apesar do desempenho hipnotizante como o mutante de garras retrátil da Marvel, é capaz de voos muito mais altos, e aqui ele confirmou pela primeira vez um talento que está além de aventuras de histórias em quadrinhos ou de comédias românticas. Seu personagem é complexo e triste, mas ao mesmo tempo irresistível. Por outro lado, Bale constrói com competência a metade oposta desta moeda, oferecendo um universo mais triste, amargurado e sombrio ao espectador. Em muito lembra a performance como o Cavaleiro das Trevas, porém sem uma racionalização simplista. Os dois funcionam bem quando juntos em cena, porém são melhores ainda ao serem observados individualmente. Se os confrontos que estabelecem parecem necessitar de uma fagulha para atingir a combustão desejada, é quando vistos separadamente que percebemos melhor os potenciais envolvidos, assim como são nestas ocasiões em que os próprios intérpretes desenvolvem o que possuem de melhor.
Mas O Grande Truque tem mais a oferecer. Somente no elenco há outras surpresas, como a presença sempre gratificante de Michael Caine (duas vezes vencedor do Oscar), e um surpreendente David Bowie (sem atuar numa grande produção desde A Última Tentação de Cristo, em 1988). Se há um ponto em falso está na participação da equivocada Scarlett Johansson, que dá mais um sinal do seu despreparo e falta de versatilidade, como percebido no anterior Dália Negra (2006). A personagem dela, além de ter pouca relevância na trama, teve uma participação obviamente reduzida. Além de algumas caretas e muita afetação, sua única utilidade é servir como chamariz de público, pois pouco contribui para o desenrolar da trama. O filme, no entanto, se destaca ainda pela trilha sonora caprichada (cortesia de David Julyan, em seu terceiro trabalho consecutivo com o diretor) e da fotografia estudada (Wally Pfister, vencedor do Oscar por A Origem, 2010). Isso sem deixar de mencionar a elaborada edição de Lee Smith (indicado ao Oscar por Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008), que não só colabora decisivamente na narração como proporciona uma visão ainda mais interessante dos acontecimentos.
Assistir a O Grande Truque é como estar diante de um bom show de mágica: ficamos impressionados com o que presenciamos, ao mesmo tempo em que nos esforçamos para tentar descobrir o que está por trás do que é oferecido para a audiência. E, tal qual nas melhores apresentações, o mistério aqui permanece após as resoluções, principalmente por estas não serem tão completas quanto talvez gostaríamos que fossem. De qualquer forma, saímos da sala satisfeitos em termos sido enganados, uma vez que a magia permanece conosco após o término da sessão. E o que melhor podemos exigir de um bom filme?
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