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Sinopse

Numa residência repleta de mistérios, nasce uma maldição poderosa após determinada pessoa morrer num momento de terrível tristeza. Voraz, a entidade maligna evocada não perdoa ninguém, fazendo vítimas, uma atrás da outra e passando o fardo adiante. Quem será capaz de deter o fantasma preso na casa?

Crítica

Depois de passar cerca de um minuto e meio no Japão – quiçá para cumprir o protocolo de aludir à origem da saga que se presta a engrossar – O Grito, nova tentativa ocidental de capitalizar sobre a onda do horror oriental (que cansou há algum tempo), desloca a ação para território conhecido, uma cidadezinha interiorana e aparentemente pacata. O fato de Fiona (Tara Westwood) trazer “na mala” um espírito obsessivo nascido do sofrimento pode ser encaixado no famigerado medo do estrangeiro, um lugar-comum utilizado à exaustão no passado pelo cinema estadunidense. Todavia, por esse fio da meada nem se pode dizer que a produção dirigida por Nicolas Pesce chega a estabelecer qualquer subtexto (inclusive os anacrônicos e reprováveis) mais importante, pois passada a fase de apresentação o que se tem é uma sucessão aparentemente interminável de pequenas tramas costuradas displicentemente, sendo condutora uma protagonista bastante fraca e esquecível.

A contextualização inicial, especialmente no que tange às particularidades dos personagens, ensaia instaurar uma dinâmica boa. Sim, pois tanto Muldoon (Andrea Riseborough) quanto Goodman (Demián Bichir) são detetives em luto. Ela perdeu o marido para a agressividade do câncer. Ele precisou se despedir da mãe, cuja casa mantém intacta como forma de continuar apegado. Mas, no fim das contas, esses pontos de convergência nada significam, são jogados numa passagem qualquer para estabelecer forçosamente esse elo. Do ponto de vista prático, as similaridades sequer permitem uma aproximação melhor entre os agentes da lei. O retorno ao caso famoso de outrora é uma desculpa para os roteiristas se escorarem na “boa e velha” lógica expositiva, com tudo sendo explicadinho em detalhes, peças formando desajeitadamente um quebra-cabeça enfadonho que nem possui um tempero singular no que diz respeito à utilização (ordinária) dos fantasmas em cena.

Na medida em que Muldoon avança nas histórias atreladas à casa, nesse trajeto tragada ao mistério de meandros dispostos inabilmente, O Grito ganha um vai-e-vem temporal estéril e truncado. É como se o caminho principal se bifurcasse em vários para termos um contato pretensamente íntimo com a praga sobrenatural. Porém, a falta de tato de Nicolas Pesce na costura das frações faz com que haja uma compartimentação excessiva, com os núcleos se comunicando superficialmente. Numa hora estamos vendo o martírio dos casados que, prestes a completar bodas de ouro, são acossados pela entidade Made in Japan. No outro, os holofotes iluminam o casal diante do dilema de levar ou não adiante uma gravidez, assim deixando como rastro à sucessora somente a maldição. A condução é frouxa, nem mesmo os sustos funcionam e a construção atmosférica deixa a desejar, sobretudo pela incompetência para conjugar imagens e sons.

O Grito possui um elenco de respeito. Todavia, os intérpretes não conseguem fazer milagre com o material à disposição. Demián Bichir mimetiza o cowboy, vive um sujeito soturno, de voz ora rouca, ora quase sussurrada, mas não tem meios para lutar contra o roteiro que, por exemplo, ensaia desenhar uma devoção religiosa aparentemente imprescindível e nada faz com ela. O grande Frankie Faison também sofre com o papel insosso do marido que deseja ajudar a esposa a abreviar o seu sofrimento. O talento imenso de Jacki Weaver é subaproveitado, uma vez que a restringem a gritar na companhia de assombrações e ser diligente ao deparar-se com o infortúnio alheio. E Andrea Riseborough fica amarrada pelas limitações dessa protagonista gradativamente sem estofo, uma mulher fragilizada que, sem mais aquela, é presa num redemoinho demoníaco. Pior que o filme nem se presta a ser um divertimento passageiro. É entediante e nada mais.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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