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Crítica


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Sinopse

Depois de conseguir uma carona para fora do planeta antes que ele fosse explodido, Arthur está agora perdido na galáxia ao lado de uma tripulação problemática, contando apenas com o estranho guia dos mochileiros para se salvar.

Crítica

Desde que o livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, foi lançado, em 1979, Hollywood vinha pensando em como adaptá-lo para o cinema. É preciso considerar a época: Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (1977) tinha chegado às telas somente dois anos antes e o momento era de uma verdadeira febre de produções de ficção científica. Mais um, ainda que contasse com o diferencial de um olhar irônico e sarcástico, provavelmente seria uma boa pedida.

Acontece que a obra literária se tornou um fenômeno (já gerou três continuações, todas lançadas no Brasil), e as dificuldades de transposição do texto para imagens só aumentaram. A primeira tentativa foi em 1982, era para ser dirigida por Ivan Reitman e teria Bill Murray e Dan Aykroyd à frente do elenco. Algo durante o processo não deu certo, e a união desse time resultou noutra comédia de ficção, Os Caça-Fantasmas (1984). Nos anos seguintes nomes como Jay Roach (Os Candidatos, 2012) e Spike Jonze foram cotados para a direção, assim como os astros Jack Davenport (Kingsman: Serviço Secreto, 2014), Hugh Grant, Will Ferrell e Jim Carrey foram cogitados para interpretar o protagonista. Mas o passar do tempo mostrou que tudo isso não conseguiu ir além da especulação, e O Guia do Mochileiro das Galáxias chegou enfim às telas mais de duas décadas após o projeto inicial, com Garth Jennings (realizador de videoclipes de bandas como R.E.M. e Blur, aqui estreando no cinema) no comando e os até então desconhecidos Martin Freeman, Zooey Deschanel e Sam Rockwell nos papéis principais.

Essa escolha, no entanto, acabou se revelando certeira. Com nomes de pouco destaque envolvidos, o orçamento pôde ser reduzido e direcionado em sua grande parte para os efeitos especiais. Assim, nesse sentido, o filme não faz feio diante de outras produções semelhantes muito mais caras. Com um custo total de aproximadamente US$ 50 milhões, O Guia do Mochileiro das Galáxias não foi uma aposta arriscada, e como arrecadou praticamente a mesma quantia nos Estados Unidos (mais os lucros no mercado internacional, como Europa, Ásia e Brasil), terminou no lucro, mesmo não tendo sido um desempenho suficientemente impressionante para liberar sinal verde para suas continuações também saírem do papel.

O mais difícil parece ter sido encontrar o ponto certo para a adaptação. O livro de Adams é bastante singular, e muitas de suas imagens são difíceis de imaginar visualmente. É uma história de deboche, crítica e muito humor negro, acima de tudo. Logo de início somos apresentados a Arthur Dent, um homem que de manhã cedo descobre que sua casa vai ser demolida para dar espaço a uma rodovia. Quando achava ter problemas suficientes para um dia, recebe a notícia que um conhecido seu é um extraterrestre e que a própria Terra será destruída para dar lugar a uma nova estrada intergaláctica. Na companhia do amigo, consegue pegar uma carona em uma nave espacial que estava passando por perto no momento da explosão, e parte em busca das maravilhas – e das desventuras – do universo. Lá fora reencontra uma antiga paixão, o que prova também que não foi o único ser humano sobrevivente. Ao mesmo tempo, se envolve em diversas confusões ao lado do presidente da galáxia, que fugiu do governo e está em busca da “pergunta fundamental”, ou seja lá o que isso significa.

Abusando no nonsense e da ironia, O Guia do Mochileiro das Galáxias não é um filme para todos os tipos de público. Muitos ficarão na primeira leitura, e o considerarão, na melhor das hipóteses, uma grande bobagem – divertida, mas ainda assim sem muito sentido. Já aqueles que se desligarem de conceitos prévios e entrarem no espírito da obra irão encontrar algo inteligente e perspicaz. A narração em off (no Brasil com José Wilker, e em inglês com Stephen Fry) colabora muito neste sentido, explicando detalhadamente alguns dos melhores conceitos do livro. Mesmo assim, certos enxertos, como a participação de John Malkovich (pensada exclusivamente para o filme), cansam um pouco, assim como uma repetição desnecessária de piadas que são melhor exploradas na fonte original. Deixe de lado o histrionismo, o exagero e o contexto espacial: por mais disfarçada que esteja sua mensagem, temos aqui uma história que fala de problemas bastante humanos, e é bom quando podemos rir destes com consciência e reflexão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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