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Sinopse

Máiquel muda radicalmente de vida ao matar alguém. De uma hora para outra se torna um herói da Baixada Fluminense. Festejado por diversos setores da sociedade, ele não demorará a sentir o gosto amargo da notoriedade.

Crítica

Adaptado do romance O Matador, de Patrícia Melo, O Homem do Ano tem uma relação muito forte com outro longa brasileiro de alta qualidade lançado pouco tempo antes, Bufo e Spallanzani (2001). Se no anterior o escritor Rubem Fonseca era a fonte de referência (autor do livro homônimo) e Patrícia a roteirista, dessa vez o que acontece é o inverso – Rubem é quem assina o roteiro. Outros pontos em comum são as figuras de Flávio Tambellini, diretor daquele e produtor executivo deste atual, e do músico Dado Villa-Lobos, autor da trilha sonora de ambos os filmes. Dessa forma, é quase possível afirmar que se tratam de produções “irmãs”, ainda que não seja uma conclusão de todo correta. O Homem do Ano, durante o desenrolar de sua trama, termina por se aproximar mais de longas como Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003) e, principalmente, O Invasor (2002), ao mostrar como a violência atual dos grandes centros urbanos pode não só moldar, mas transformar aqueles que dela se alimentam constantemente.

Dirigido por José Henrique Fonseca (filho de Rubem Fonseca), O Homem do Ano narra a trajetória de Máiquel (Murilo Benício, em um trabalho de grande entrega, que resulta em uma das suas melhores atuações na tela grande), um desempregado que, por perder uma aposta, precisa pintar seu cabelo de loiro. Sem aguentar a gozação de Suel (Wagner Moura, ainda no início de carreira em uma rápida participação), o grande bandidão das redondezas, ele acaba o enfrentando num duelo e termina por matá-lo. Assim, de escória local vira, do dia para a noite, herói da comunidade, sendo saudado com aplausos por vizinhos, comerciantes e até pela polícia, além de receber presentes, alimentos e até um porco.

A nova situação lhe é muito confortável, o que o faz acreditar que a “profissão” de matador de aluguel talvez seja uma opção a ser seguida. Ao mesmo tempo, entretanto, precisa lidar com o ciúmes da noiva (Cláudia Abreu, esposa do diretor) e com o assédio constante de Érica (Natália Lage, estreando no cinema), ex-namorada do falecido Suel, que decide que seu destino é responsabilidade de Máiquel, agora que ele eliminou o antigo protetor dela. E há ainda a necessidade de se confrontar com novos pedidos de “serviços”, encaminhados pelo Dr. Carvalho (Jorge Dória, divertindo-se em seu último trabalho como ator) e amigos, que desejam “eliminar” todas as “maçãs podres” da região, como se Máiquel fosse um “justiceiro” a sua disposição pessoal.

O Homem do Ano é um produto cinematográfico de primeira qualidade, com um roteiro bem elaborado, atuações convincentes e qualidade técnica irrepreensível. Se possui alguns poréns, esses são mais perceptíveis para aqueles que leram o livro e esperam o mesmo ritmo frenético, além de um vigor mais intenso em sua condução. Algumas mudanças foram feitas – assim como é esperado em qualquer transposição de um meio para outro – e elas funcionam no sentido de tornar o filme uma obra independente do produto original. O resultado, se por alguns momentos parece meio arrastado e/ou cansativo, tem numa visão global um resultado positivo, fato já atestado pelas vitórias nos festivais de São Francisco (Melhor Filme) e de Miami (Melhor Filme, Direção e Ator, para Benício). Um feito merecedor de palmas e reconhecimento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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