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Sinopse

Cientista ridicularizado, Zero finalmente consegue inventar uma máquina do tempo que o leve ao passado a fim de reparar erros e evitar más escolhas. De volta à época da faculdade ele encontra seu grande amor, a linda Helena.

Crítica

Quando despontou no cenário cinematográfico nacional, Claudio Torres virou logo aposta de sucesso. E como podemos ver em O Homem do Futuro, esse impacto está sendo direcionado apenas às bilheterias, e não à crítica. Ao contrário dos seus dois primeiros trabalhos – um dos episódios de Traição (1998) e o excelente Redentor (2004) – tudo que fez depois deixou a desejar. Foi assim no insuportável A Mulher do Meu Amigo, em que desperdiçou os talentos de Marcos Palmeira, Mariana Ximenes e Antonio Fagundes. O mesmo aconteceu com o leve e passageiro A Mulher Invisível, que merece mais destaque pelo corpão da Luana Piovani do que pelo empenho de Selton Mello. E mais uma vez agora, em que até o sempre ótimo Wagner Moura consegue estar ruim. Uma pena!

O Homem do Futuro nada mais é do que o resultado do que acontece quando brasileiro resolve fazer cinema americano, porém sem os recursos e toda a estrutura que Hollywood oferece. Assim como ‘trocentos’ outros filmes com a mesma trama – desde o inesquecível De Volta para o Futuro (1985) até clássicos como A Máquina do Tempo (1960), sem mencionar outras obras que também são "chupadas", como Carrie: A Estranha – a temática de voltar ao passado para refazer o futuro muitas vezes rendeu tramas interessantes, porém repletas de questionamentos e dúvidas. E isso, infelizmente, é o que mais se tem por aqui. São tantos os furos nas idas e vindas no tempo que o protagonista interpretado por Moura comete que o melhor mesmo é deixar a lógica de lado e se fixar somente nas tentativas de fazer humor. Nesse ponto os esforços até que convencem, principalmente pelo empenho dos coadjuvantes Maria Luísa Mendonça e Fernando Ceylão.

No começo da história, Moura é Zero, um cientista que dá aulas na faculdade enquanto investiga uma nova fórmula de energia no laboratório da universidade. Desacreditado e sem grandes feitos, desenvolve uma máquina que o leva ao passado, exatamente para o dia em que sua vida miserável começou: a formatura do colegial, quando foi humilhado perante todos os colegas pela namorada (Alinne Moraes, adequada) e o galã da escola (Gabriel Braga Nunes, já velho para o papel). Ao tentar refazer o próprio destino, é óbvio que altera tudo, e ao retornar ao presente a situação é completamente diferente. Para ajeitar as coisas, precisa retornar mais uma vez ao dia fatídico, e assim alertar suas versões paralelas do perigo que ele mesmo está correndo.

A fórmula aqui empregada é mais ou menos a vista nos dois Se Eu Fosse Você, ou seja, parte-se de um clichê exaustivamente repetido anteriormente para se tentar criar uma edição nacional. E tudo o que o espectador ganhar de novo é mais um cover do Legião Urbana, agora com Wagner Moura e Alinne Moraes também como cantores. De resto, só arremedos de um roteiro e interpretações em piloto automático. Até Wagner, geralmente um ator acima da média, como vimos nos campeões de bilheteria Tropa de Elite e mesmo em comédias como Deus é Brasileiro, consegue derrapar aqui. Sua versão fracassada, a do professor insatisfeito, é de longe uma das atuações mais caricatas da temporada. Ao menos pode ser comparado com ele mesmo, e nas demais composições aparece mais equilibrado e sem tantas caretas e trejeitos.

Claudio Torres, filho de Fernanda Montenegro e irmão da Fernanda Torres, comprova aqui que talento não é um elemento genético. Ao contrário da mãe e da irmã, que sempre transitaram com tranquilidade entre o drama e a comédia, ele demonstra mais uma vez não ter a mesma habilidade nestes dois gêneros. Sua marca, no entanto, está sendo o uso exagerado de efeitos especiais, algo raramente visto no cinema nacional, mas que sempre aparece em destaque nos seus trabalhos. E como quem curte visual já teve sua cota de blockbusters, não deverá ser essa aventura verde e amarela que irá fazer diferença. O Homem do Futuro tem todos os ingredientes para ser um grande filme. Falta-lhe apenas uma boa receita.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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