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Sinopse

A chegada de um imigrante de origens chechena e russa à Alemanha coloca em alerta as polícias secretas alemã e norte-americana. Agentes passam a seguir esse homem que foi brutalmente torturado antes de decidir resgatar a herança deixada pelo pai.

Crítica

Os ataques de 11 de setembro entraram para a história, cunhando no imaginário popular (e também banalizando) a expressão “terrorismo”. A sociedade ocidental ficou ainda mais paranoica desde então, a segurança nos aeroportos e fronteiras foi reforçada para evitar novos episódios trágicos, entre outras medidas mais ou menos ortodoxas. Issa (Grigoriy Dobrygin), um refugiado checheno, chega escondido à Alemanha no início de O Homem Mais Procurado. Além da ilegalidade documental, seu fenótipo não poderia ser mais perigoso, uma vez que denuncia não só sua origem, mas de alguma maneira sua fé no islã, em virtude do estereótipo. Não sabemos de antemão o que o traz à Hamburgo, se apenas busca refúgio ou se é um potencial homem-bomba, por exemplo. Temos apenas conjecturas nesse primeiro momento.

Gunther (Philip Seymour Hoffman), por sua vez, é chefe de um departamento quase fantasma da inteligência alemã, responsável por casos de extrema confidencialidade e importância estratégica. Seu pessoal passa a seguir de perto os passos de Issa, pois acredita que assim, paulatinamente, por meio dele pode chegar a esferas mais importantes das células suspeitas de terrorismo na região. Entretanto, dentro da própria polícia secreta há discordâncias quanto ao grau de risco que há em deixar um potencial terrorista à solta, e ainda por cima mantendo contatos. Some isso à presença intrusiva da CIA e teremos um enredo recheado de intrigas internas que se infiltram sorrateiramente nas frestas do trabalho de contenção das possíveis ameaças externas.

A sofisticação de Gunther não está no modo de vestir ou falar, mas na perspicácia com a qual lê os cenários em suas mais diversas possibilidades. Ele não é um homem de paletó e gravata, que nunca viu a morte de perto, como seu colega e rival Dieter Mohr (Rainer Bock). Sua equipe funciona em total sintonia, num modus operandi rígido, de movimentos previamente calculados como numa partida de xadrez. Eles dispõem no tabuleiro peças tais como Annabel (Rachel McAdams), advogada de Issa, Thomas Brue (Willem Dafoe), banqueiro envolvido na situação, Martha (Robin Wright), agente da CIA, Dr. Faisal Abdullah (Homayoun Ershadi), filantropo suspeito de desviar milhões da caridade, entre outras, criando estratégias quase à prova de falhas.

A tensão crescente de O Homem Mais Procurado é alimentada por diversas fontes, os fragmentos da investigação se encaixam pouco a pouco, formando assim uma imagem nítida do plano central, o que nos dá sensação de onisciência. A direção de Anton Corbijn é habilidosa, sobretudo na construção de uma sólida atmosfera de suspense em alta rotação e voltagem. E o grande trabalho de Philip Seymour Hoffman faz do protagonista catalisador e farol das apurações que se desenrolam cada vez mais ricas em detalhes, cada vez mais interessantes.

Não vemos com frequência algo como O Homem Mais Procurado: inteligente, muito bem dirigido e interpretado, à altura da tradição dos bons exemplares que envolvem espiões, maquinações geopolíticas, rivalidades entre as nações, etc. O terrorismo, palavra tão em voga, símbolo muitas vezes de arquétipos reducionistas, reside também nas alianças nefastas entre departamentos que penhoram o necessário por supremacia, na deformidade da ética, nas mentiras contadas de ambos os lados em troca da sujeição alheia, enfim, nos sistemas que deveriam trabalhar juntos em prol de bens maiores. Quem dera tivéssemos mais longas como este, que nos mantém grudados na tela, ansiosos sempre à espera do próximo passo. Um grande thriller de espionagem, sem dúvida.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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