Crítica
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Sinopse
Diana, aos 42 anos, é uma mulher bem-sucedida, com uma carreira estruturada, culta e que mantém um casamento feliz com seu marido. Ao menos, é o que ela acha – até que descobre que o esposo está lhe traindo com uma jovem aspirante a bailarina de apenas 23 anos.
Crítica
Mulher bem-sucedida, Diana (Luana Piovani) é a requisitada ghost-writer de uma editora afeita a lançar biografias bastante edulcoradas de celebridades. Seu marido, Rodrigo (Marco Luque), é um cartunista prestigiado em seu meio, porém pouco apegado ao dinheiro. O fato dele ser, no entanto, constantemente reconhecido em locais públicos, especialmente por gente que o trata como artista, potencialmente afeta a esposa que escreve à sombras de contratos impeditivos quanto à revelação da verdadeira autoria dos livros. Todavia, o cineasta Marcus Baldini não investe nessa dinâmica óbvia, fazendo dela uma mera observação periférica. Assim que os dois terminam – numa cena completamente postiça, em que o homem diz não aguentar os desmandos da companheira controladora –, surge a verdadeira intriga que move O Homem Perfeito. Recorrendo à convenção anacrônica da disputa feminina com toques cruéis, a protagonista cria um perfil falso numa rede social e passa a engambelar a nova namorada do ex-marido. Esse comportamento reprovável sequer é criticado para além da superfície.
Estamos num terreno cheio de “lugares” conhecidos. O sujeito que “troca” a cônjuge por uma ninfeta bem mais nova e cheia de vida; o contraponto entre a energia da novata e o “peso” da abandonada; e a resposta estabanada (insensível) da escritora corroída por ciúmes. O Homem Perfeito ganha novas tintas com a entrada na trama de Caíque (Sérgio Guizé), músico porra-louca que exibe frequentemente uma conduta machista. Ele precisa dos préstimos de Diana para limpar a sua barra publicamente. A reunião com o editor vivido por Eduardo Sterblitch é outro indício da tortuosidade que perpassa integralmente o filme, dirimindo suas potencialidades. Difícil acreditar na organicidade da invenção de um passado totalmente mentiroso, como saída editorial viável, isso num tempo de conectividade quase integral e circulação intermitente de informações. Disso decorre a sensação de artificialidade da atuação da personagem de Luana como sensata e eficiente. Mas as coisas se complicam na interação dela com Mel (Juliana Paiva), a inocente garota enfeitiçada por um perfil virtual inventado.
Embora constantemente diga-se feminista, que demonstre a indignação momentânea diante dos impropérios proferidos por Caíque, Diana reproduz uma série de postulados machistas. Nada de sororidade, pois ela pensa apenas em si quando separada. Sua falta de escrúpulos para manipular a jovem remotamente, sabotando o relacionamento do ex, não encontra uma barreira crítica na sua representação. Aliás, O Homem Perfeito aborda diversas complexidades de maneira leviana, como isso de induzir alguém remotamente a, inclusive, encontrar-se com uma personalidade inexistente. Não bastasse tal acontecimento, a noção que a protagonista tem de sucesso passa irremediavelmente pelo êxito financeiro. Ela chega a dizer, em dado instante, que fica feliz, mesmo numa situação desconfortável, em virtude de um homem pagar a conta após tanto tempo. Portanto, supostamente escudado pelo guarda-chuva da comédia, o realizador reforça estereótipos e incorre numa dinâmica narrativa que reafirma preconcepções desgastadas, como isso da fêmea procurar machos que provejam seu sustento.
O personagem de Marco Luque é delineado de forma oscilante. Primeiro, um cara gente boa, enxotado de casa por não ter ambição. Segundo, um acomodado, o que justificaria o interesse de Mel pelo bonitão fake que faz juras de amor no inbox. Já o famoso (que ninguém tieta nos espaços públicos, diga-se de passagem) percorre um caminho mais que conhecido, de porco chauvinista a sensível capaz de arrebatar a “mocinha”. Não fosse esse telegrafar dos acontecimentos que seguem sem desvios as lógicas das comédias românticas, há o olhar torto à relação das mulheres com o mundo circundante. Uma é manipuladora, capaz de barbaridades para estragar a felicidade alheia por puro egoísmo. A outra é tão cegada por carência e inexperiência desproporcionais que embarca numa aventura com claros ingredientes de engodo. A inconsistência dos personagens é, também, um problema capital. Suas mudanças são falsas, não decorrentes de uma jornada de amadurecimento ou o que o valha, mas condicionadas pelas necessidades de um roteiro desprovido de densidade e estofo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Roberto Cunha | 5 |
MÉDIA | 4 |
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