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Crítica

O diretor francês François Truffaut foi um homem que amou apaixonadamente as mulheres, os filmes e os livros, fazendo isso sempre com muito talento. Este sentimento está inserido de diversas maneiras em cada um dos 120 minutos desta curiosa e interessante produção de 1977, O Homem que Amava as Mulheres. O realizador demonstra veneração pela condição feminina, em uma obra conduzida pelas memórias de Bertrand Morane (Charles Denner), protagonista solteirão de 40 e poucos anos, por vezes um cara até desajeitado, mas que desperta nas mulheres interesse e admiração. Bertrand passa o filme todo obcecado pelas pernas de suas amadas.

Na abertura, temos um desfile de belas mulheres se despedindo do conquistador em seu funeral. Logo depois, ele nos brinda com uma frase espetacular sobre as conquistadas: “As pernas das mulheres são compassos que circulam pela terra dando a elas balanço e harmonia. Mas há mais. Muito mais”. Bertrand praticamente existe para estar entre as mulheres, faz disso sua condição de vida. Ainda nos créditos iniciais, durante o misterioso funeral, sentencia sua filosofia essencial: “A companhia das mulheres era indispensável para mim. Eu preciso estar com elas ou simplesmente olhar para elas”.

 

Truffaut abusa de sofisticados planos e movimentos de câmera para apresentar as diversas aventuras amorosas de Bertrand, ele que jamais se fixa em apenas uma mulher. Não é um Casanova ou um Don Juan, não, em absoluto, pois busca outra coisa. Pode ser afeto, ou o prazer em conseguir um simples encontro. Sua atitude é sempre de respeito e consideração pelas parceiras, postura digna de um grande cavalheiro. Aliás, esta é uma condição da proposta do personagem: a maneira delicada como a qual ele trata e se refere a todas as mulheres.

Truffaut realizou com O Homem que Amava as Mulheres um filme com sua requintada assinatura técnica. Planos de composição, mix de imagens e sobreposições, são alguns dos elementos que exercem o papel de memória do protagonista, ele que não é um sujeito bonito, nem alto, e que demonstra fragilidade e certa melancolia no olhar e no modo de viver. Está mais para um conquistador às avessas do que para os tradicionais galãs viris que o cinema americano produziu. Em mais da metade da projeção, vemos ele se lançando às mulheres que despertam atenção. Todas corresponderem positivamente parece inverossímil, mas aos poucos vamos conhecendo motivos que podem explicar seus êxitos, bem como seu comportamento obsessivo. Na , a mãe o deixava sozinho para se encontrar com os amantes. Mas, foi a desilusão no casamento que fulminou com qualquer possibilidade dele se fixar em uma nova companheira.

O objetivo de Bertrand é perseguir suas paixões repentinas, exercer de qualquer jeito a aproximação e, então, estar com suas divas. Ele não trata nenhuma delas como objeto ou com furor sexual, e por isso ganha o carinho e admiração das amantes que vai colecionando. A mais destacada é a bela Geneviève Bigey (Brigitte Fossey), que narra boa parte do longa a partir da biografia deixada pelo protagonista. Este livro escrito por Bertrand é, contudo, o ponto alto de um filme bastante datado. O tempo está muito presente na arte e nos objetos. Máquinas de escrever, fichários, figurinos e penteados são inconfundíveis. Mas isso não passa de um detalhe frente ao estilo vigoroso e elegante de filmar deste que é certamente um dos melhores diretores franceses de todos os tempos.

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é diretor de cena e roteirista. Graduado em Publicidade e Propaganda com especialização em Cinema (Unisinos /RS). Dirige para o mercado gaúcho há 20 anos. Produz publicidade, reportagem, documentário e ficção. No cinema é um realizador atuante. Dirigiu e roteirizou os documentários Papão de 54 e Mais uma Canção. E também dois curtas-metragens: Gildíssima e Rito Sumário. Seus filmes foram exibidos em vários festivais de cinema e na televisão. Foi diretor de cena nas produtora Estação Elétrica e Cubo Filmes. Atualmente é sócio-diretor na Prosa Filmes.
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