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Crítica


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Sinopse

Após dedicar anos de sua vida ao estudo de física quântica, relatividade e fenômenos atemporais, João decide, finalmente, botar seu ousado plano em prática: conseguir parar o tempo. Mas para realizar os experimentos que precisa, ele terá que embarcar em uma solitária viagem sem volta, que o isolará de sua família e amigos, trazendo graves consequências a seu estado mental.

Crítica

Com pouco mais de uma hora de duração, O Homem que Parou o Tempo é um recorte brevíssimo do cotidiano modorrento de João (Gabriel Pardal). Ele não se sente instigado por qualquer interação social, permanecendo quase integralmente em seu apartamento, ora realizando tarefas burocráticas para pagar o aluguel, ora alimentando uma obsessão nebulosa, estampada em sua parede cheia de folhas coladas e anotações às quais não se tem acesso. Não fosse o título do longa-metragem de Hilnando SM, sequer haveria a noção de que esse sujeito pesquisa alguma coisa ligada ao tempo. Na verdade, esparsos são os indícios do que o protagonista deseja, excetuando-se um dado aqui e outro acolá, prevalências fugazes em meio a deambulações sem sentido e diálogos expositivos, além de bastante frágeis. A tentativa de criar uma ambiência/realidade distópica, senão basilar, mas moral/ética, é malfadada pela ausência de criatividade, fruto da repetição contraproducente que tampouco afirma um caráter cíclico.

A comunicação que João tem com as outras pessoas é truncada, evidência de um desajuste cuja ordem não nos é facultado compreender. Lucas (Iuri Saraiva), autoproclamado seu melhor amigo, demonstra preocupação com o isolamento do camarada, mas é recebido sempre com apatia. Mai (Camila Márdila), a menina que flerta com o casmurro numa das poucas vezes em que ele se propõe a participar de um evento social, logo é derrotada por essa incapacidade de, minimamente, integrar-se no âmbito social. Em O Homem que Parou o Tempo as ocorrências são essencialmente episódicas, com eventos acontecendo para expressar a irregularidade do comportamento de João se comparado aos dos demais. O roteiro instaura uma pasmaceira improdutiva, produto do esforço infrutífero para edificar uma atmosfera existencialista como algo fundamental. No mais, há uma sucessão de caminhadas desnorteadas por um Rio de Janeiro mutante, com foco nas obras e nas ondas do mar.

O Homem que Parou o Tempo não oferece indícios claros do que João almeja, incorrendo numa construção demasiadamente lacônica que, inclusive, dá margem a mal-entendidos. As falas supostamente intentam demonstrar que seu deslocamento é decorrente de uma capacidade ímpar de entender o fluxo do tempo, de uma vontade utópica de viver o presente eternamente, assim expurgando passado e futuro. Todavia, o resultado é um amontoado de platitudes sobre viver o momento, não preocupar-se muito com o porvir e esquecer-se das tristezas do outrora. No plano puramente imagético, soa forçada a expressão material da passagem temporal, aqui aludida pelo progresso da cidade, os esqueletos prenunciadores da presença de edifícios que certamente modificarão a paisagem. Ainda nesse sentido simbólico, as ondas do mar são utilizadas como signo de fluxos ininterruptos. Porém, a reiteração sem variações, além de não gerar um padrão expressivo o suficiente, alimenta uma frieza colateral.

O cineasta Hilnando SM estica artificialmente certos planos, dilatando o tempo, não para criar uma instância de abstração, mas para chegar à duração de longa-metragem. Prova disso, as repetições mal disfarçadas de evidências da periodicidade existencial, vide a insistência em mostrar João acossado pelas exigências do “mundo externo” via o toque do celular, algo que quebra a fluidez de sua inércia. Ao invés de valorizar o personagem como alguém que observa dados cotidianos e imateriais por um viés insólito, o realizador faz dele passível de leituras patológicas, como se fosse portador de alguma desordem psiquiátrica, com tendências suicidas, inclusive. Essa confusão, no entanto, não é alimentada pelo roteiro, tampouco pela encenação, mas deriva da falta de orientação de uma trama que gira em torno de um mesmo ponto durante seus arrastados 60 minutos. As interpretações enrijecidas, sem qualquer naturalidade, somam-se às várias fragilidades de execução para gerar um filme inócuo e vão.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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