O Homem que Sabia Demais
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Sinopse
Bob (Leslie Banks) e Jill Lawrence (Edna Best), juntamente com a filha Betty (Nova Pilbeam), estão passando as férias praticando esportes de inverno. Tudo corria bem, até o momento em que Louis Bernard (Pierre Fresnay), um amigo deles, é atingido por um disparo enquanto dançava com Betty. Antes de morrer, Louis conta para Bob de um assassinato político que deverá acontecer em Londres. Temendo que sua trama seja revelada, os assassinos seqüestram Betty para manter Bob calado. Diante deste quadro, o casal retorna para Londres e tenta salvar sua filha e, se possível, resolver este grave problema.
Crítica
Se existe uma certeza no mundo do cinema é essa: é impossível fazer uma refilmagem de valor de qualquer filme de Alfred Hitchcock. As tentativas que já vimos no passado foram todas rasteiras, para dizer o mínimo. Simplesmente não é possível recriar trabalhos tão bem realizados pelo Mestre do Suspense. A não ser, claro, que o próprio Hitchcock veja esta necessidade e retrabalhe um de seus clássicos. Foi assim em 1956, quando o cineasta, já filmando em Hollywood, dirigiu o remake de O Homem que Sabia Demais, lançado originalmente em 1934, em sua fase inglesa. Com uma produção mais aprimorada e com James Stewart encabeçando o elenco, esta pode ser uma das poucas refilmagens de um filme de Hitchcock que valham a pena ser assistidas.
Por incrível que pareça, essa qualidade da produção de 1956 acabou tendo um lado negativo. Eclipsou o longa-metragem de 1934, que acabou menos conhecido que seu irmão rico. Mesmo que o próprio Hitchcock tenha achado motivos suficientes para um polimento da trama em uma produção mais refinada no futuro, O Homem que Sabia Demais original possui diversas qualidades que saltam aos olhos.
Na trama, assinada por Charles Bennett, D.B. Wyndham-Lewis, Edwin Greenwood e A.R. Rawlinson, o casal Bob (Leslie Banks) e Jill Lawrence (Edna Best) está em férias nos Alpes Suíços junto com sua filha, Betty (Nova Pilbeam). Durante o jantar, o casal testemunha a morte de Louis Bernard (Pierre Fresnay) que, em suas últimas palavras, confidencia um segredo perigoso: um assassinato acontecerá em Londres e eles são os únicos que podem fazer algo para evitar. A tarefa não será fácil, já que o mandante do crime, Abbott (Peter Lorre), decide sequestrar a filha do casal para que os dois silenciem sobre o futuro atentado. Agora, os pais de Betty precisarão descobrir o paradeiro da filha, envolvendo-se em uma trama perigosa.
Em muitos aspectos, a segunda versão de O Homem que Sabia Demais é superior à primeira tentativa de contar esta história. No entanto, o longa-metragem de 1934 tem um trunfo que pesa bastante a seu favor: o vilão. Interpretado por um Peter Lorre de sotaque arrastado, o nêmesis da família Lawrence é muito mais interessante e ameaçador, mesmo que sempre tenha uma expressão amistosa em seu rosto. Sua caracterização, com direito a mecha grisalha e cicatriz na testa, agrega muito ao personagem, assim como suas vestimentas pesadas. Conhecido na época pelo seu papel emblemático no clássico do cinema alemão M – O Vampiro de Dusseldorf (1931), Lorre empresta sua persona aterrorizante ao vilão deste filme. Papel de antagonista que faria muitas e muitas outras vezes em seus mais de trinta anos de carreira. Lorre é, sem dúvidas, o grande destaque desta versão. Até porque os mocinhos são um tanto insossos em comparação.
O clima de suspense de O Homem que Sabia Demais é palpável em boa parte da narrativa e ganha um plus pela fotografia em preto e branco. O lado cômico, tão presente em alguns clássicos de Hitchcock, também dá as caras neste trabalho, personificado pelos diálogos entre Bob e seu amigo Clive (Hugh Wakefield). O clímax no Albert Hall é muito bem trabalhado, com a câmera se movimentando ora em círculo, mostrando a procura de Jill pelo assassino, ora destacando a orquestra, que tem um papel importantíssimo nessa cena. O suspense, no entanto, se esvai na sequência final, do tiroteio, dando espaço para uma ação bang-bang extensa, que destoa do resto do filme. Hitchcock ainda procurava por seu estilo, sucumbindo a uma cena que pouco contribui para a história.
Em entrevista ao crítico e diretor francês François Truffaut, Hitchcock disse que sentiu necessidade em fazer uma nova versão de O Homem que Sabia Demais porque a primeira era uma obra de um talentoso amador, enquanto que a segunda seria feita por um profissional. Não deixa de ser interessante para um fã do Mestre do Suspense – ou do cinema em geral – observar estes dois momentos distintos do cineasta e notar que ambos possuem qualidades que se destacam. De um lado Peter Lorre, de outro James Stewart. Fantástico seria vê-los no mesmo O Homem que Sabia Demais.
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