Crítica
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Crítica
Stanley Kubrick já era um cineasta consagrado, vencedor de um Oscar e responsável por clássicos como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica (1971) quando decidiu transformar em seu próximo filme o romance de um autor relativamente desconhecido, que possuía até então apenas uma obra anterior adaptada para o cinema: Stephen King, que em 1976 havia feito algum sucesso com o terror Carrie: A Estranha (1976). O nome do livro era O Iluminado, e apresentava uma linha narrativa bastante simples: casal, acompanhado do filho pequeno, vai passar o inverno num hotel bastante afastado, após o marido ser contratado como zelador durante esse período. Uma vez isolados, no entanto, coisas estranhas começam a acontecer. E até que ponto elas são reais ou não?
A recepção do público e da crítica quando O Iluminado chegou aos cinemas não foi das melhores. Além de ter ficado aquém do esperado nas bilheterias – com um orçamento de US$ 19 milhões, faturou pouco mais de US$ 40 milhões nos EUA (para termos comparativos, O Exorcista, lançado em 1973, faturou mais de dez vezes esse valor em todo o mundo) – recebeu o desprezo de muitos, que o acusavam de ser pouco convincente ou redundante. O ápice deste desprezo foram as duas indicações que o filme recebeu nas afamadas Framboesas de Ouro: Pior Direção e Pior Atriz, para a pobre Shelley Duvall. E para culminar com a fama de maldito do projeto, o próprio King decidiu se manifestar publicamente contra o filme, acusando-o de ter deturpado o texto original. No entanto, o tempo se encarregou de fazer justiça à obra.
Jack Torrance (Jack Nicholson, logo após ter ganhado seu primeiro Oscar por Um Estranho no Ninho, em 1975, no papel que lhe foi determinante para sua fama de excêntrico) está cansado de levar a vida em subempregos como atendente de posto de gasolina. Sua sorte vira quando é chamado para cuidar de um enorme e imponente hotel, localizado numa região turística distante. Durante os cinco meses de frio e nevascas o lugar ficará fechado, e é preciso de alguém que tome conta. Torrance não só aceita a oferta como leva a esposa e filho para acompanhá-lo. O que deseja, na verdade, é aproveitar esse período para escrever seu primeiro livro e, assim, ter finalmente sua grande chance. No entanto, ainda durante a entrevista para o emprego, é avisado sobre um caso que teria acontecido naquele local anos antes, quando um antigo zelador enlouquecera e assassinara a mulher e as duas filhas, antes de se suicidar. Encarando o fato mais como uma anedota, ignora-o e segue em frente com o planejado.
Apesar do que o imaginário comum possa ter criado, o tal “iluminado” do título não é o protagonista, e sim seu filho, o pequeno Danny (Danny Lloyd, de apenas 6 anos, que nunca mais trabalhou no cinema após esse filme). O menino, assim que chega no hotel, percebe algo estranho. Quem o alerta é um velho mordomo, pois o garoto, assim como ele, seria dotado de um talento especial para se comunicar com espíritos “de hoje e de amanhã”. E se visões de crianças, antigos hóspedes, e até uma perigosa visita ao quarto 237 passam a lhe perturbar, não será nada comparado ao que irá acontecer com o pai, que passará a se comunicar com o zelador assassino, que lhe incutirá a ideia de repetir os mesmos atos por ele cometidos naquele lugar anos antes.
Frases e expressões como “all work no play makes Jack a dull boy” (algo como “só trabalho sem diversão fazem de Jack um bobão”) e “redrum” (murder, ou assassinato, ao contrário) entraram para a história do cinema por vários fatores, elementos que foram sendo descobertos aos poucos, ganhando valor e relevância graças ao culto estabelecido por fãs e apreciadores de O Iluminado ao longo das décadas seguintes. A força de Kubrick como cineasta se revela no preciosismo do trabalho (afirma-se que a cena da esposa enfrentando o marido com um taco de baseball tenha sido repetida mais de 120 vezes), na precisa escolha do elenco e na estética de suas imagens – como esquecer dos elevadores cheios de sangue ou do labirinto na neve? Cada detalhe revela suas motivações, nada é gratuito, e o medo crescente e apavorante domina não somente os personagens, mas também cada espectador.
Atualmente reverenciado como um dos trabalhos mais emblemáticos – e, curiosamente, populares – de Stanley Kubrick, O Iluminado é um filme para ser não apenas visto, mas também estudado como uma master class de cinema. O modo como o suspense vai se instalando num crescente é contagiante, e a claustrofobia provocada num ambiente inusitadamente amplo é ao mesmo tempo surpreendente e curiosa, tendo gerado diversos imitadores. King pode ter tido suas razões para criticar este belo e impactante trabalho, mas os mais 90% de aprovação que o filme tem hoje em dia junto à crítica especializada não podem ser ignorados: estamos diante de uma obra que só melhora com o tempo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 9 |
Daniel Oliveira | 10 |
Thomas Boeira | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
Chico Fireman | 10 |
Diego Benevides | 10 |
Marcelo Müller | 10 |
Bianca Zasso | 10 |
Yuri Correa | 10 |
Roberto Cunha | 10 |
MÉDIA | 9.9 |
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