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Sinopse
Em O Jogo da Espionagem, o oficial do serviço secreto dos Estados Unidos Harris está envolvido em missões para deter e realocar estrangeiros para interrogatório. No entanto, ele vira bode expiatório quando o cenário político muda e seus aliados se transformam em seus inimigos. Estrelado por Mel Gibson.
Crítica
Caso você seja fã de Mel Gibson e tenha se interessado por esse filme justamente por conta do envolvimento do ator norte-americano, aqui vai um aviso: se somadas todas as cenas dele, não deve dar um clipe com cinco minutos de duração. O Jogo da Espionagem é a típica produção genérica de ação que contrata um astro conhecido popularmente para servir como chamariz comercial. Gibson não deve ter ficado mais do que dois dias filmando a sua participação nesse filme, até porque ele aparece somente em dois cenários. No entanto, isso não significa que o seu personagem é desimportante, pois Olsen é uma espécie de arquiteto da conspiração principal envolvendo espionagem, entidades sérias criminalizadas para encobrir os rastros da atuação escusa dos Estados Unidos e agentes traindo companheiros guiados por ordens superiores. A trama se desenvolve em duas linhas temporais. Na primeira delas, uma equipe recém-formada de mercenários a serviço do Tio Sam é encarregada de extrair um alvo e transportá-lo pelos ares rumo à Tailândia. Os três incumbidos da missão são profissionais com fichas corridas marcadas por falhas operacionais. Portanto, ninguém duvidaria se o trio colocasse tudo a perder mais uma vez, não é mesmo? Eles são perfeitos para acobertar as verdadeiras intenções do contratante que os está manipulando sorrateiramente. Mas o filme tenta esconder isso tudo no espectador.
O cineasta britânico Alfred Hitchcock, considerado o mestre do suspense, defendia a ideia de que um bom filme do gênero dava ao espectador mais informações do que a boa parte dos personagens. Hitchcock refutava quase completamente a surpresa como elemento do suspense, pois ele possui efeito passageiro. Claro que Grant S. Johnson não chega aos pés do autor de obras-primas como Intriga Internacional (1959), mas talvez transformaria O Jogo da Espionagem em mais do que uma produção esquecível se tivesse colocado em prática um pouco desse princípio defendido por Hitchcock. O que temos aqui é a uma trama completamente baseada na revelação anticlimática de verdades “surpreendentes”, de exposições de agentes duplos e das reais intenções de pessoas que seguem as ordens nebulosas do personagem de Mel Gibson – ele apenas fica sentado diante da mesa distribuindo telefonemas pretensamente enigmáticos. Mas, um pouco antes nesse texto foi afirmado que a trama tem duas linhas temporais, então falta citar a segunda. Nela, três agentes estão interrogando um prisioneiro sobre a sua possível participação na rede de terrorismo que os Estados Unidos tentam desmantelar. Há um material muito interessante na conexão operacional entre essas duas situações, principalmente quanto à manipulação dos mercenários pelo Estado que os considera mão de obra barata e descartável.
Infelizmente, Grant S. Johnson não é o tipo de cineasta em busca de subtextos ou de produzir comentários críticos/consistentes acerca das instituições e das pessoas. Mas é preciso também dividir responsabilidades, pois O Jogo da Espionagem não é frágil somente por conta da direção burocrática incapaz de extrair tensão das conspirações e muito menos de sublinhar o que há de simbólico nas missões sabotadas de dentro para fora. O roteiro assinado por Mike Langer e Tyler W. Konney não dá muita atenção para qualquer uma dessas coisas e, ainda por cima, formula personagens como se eles fossem simples reproduções de arquétipos sem traços significativos de subjetividade. Todos são cascas sem conteúdo. Não temos acesso à personalidade dessas pessoas envolvidas em situações de num contexto geopolítico muito maior. Desse modo, quando cada decisão é tomada, assim que um gesto estratégico específico é feito, não temos como os analisar com base na individualidade. A agente que esconde dos colegas suas reais intenções por uma devoção cega aos superiores faz isso exatamente por quê? Não sabemos, pois ela é praticamente oca de sentimentos e psicologia, assim como os demais que estão ao seu redor. Alguém pode questionar “mas estamos num suspense de ação, será mesmo que algum panorama pessoal das figuras envolvidas é vital?”. Minimamente, sim. Para elas serem humanas.
O Jogo da Espionagem poderia, então, se apoiar numa ação vertiginosa, afinal de contas nem todas as obras-primas têm personagens profundos, complexos emocional e psicologicamente? Poderia, mas para isso Grant S. Johnson teria de fazer muito mais. Os tiroteios, os embates físicos e as outras formas de confronto são filmadas sem emoção e senso de perigo. E isso é acentuado quando as duas linhas temporais finalmente se encontram e uma conspiração ainda maior acaba sendo revelada. A partir disso, a situação geral é a seguinte: todos, absolutamente todos os personagens, são descartáveis e servem estritamente ao propósito maquiavélico de um homem que não foi desenhado devidamente como maquiavélico. O cineasta poderia enfatizar que desse ponto em diante as maquinações políticas pouco importam, pois o mais urgente é sobreviver. A tentativa de Grant S. Johnson era ir justamente por esse caminho, mas a execução deixa muito a desejar. Como não possuímos instrumentos para nos fixar aos personagens em primeiro lugar, assim que eles estão em risco simplesmente não existem motivos para ficarmos tensos. Por que exatamente teríamos de torcer por fulano na luta contra ciclano se o roteiro não nos deu boas razões para nos conectar com qualquer um deles? Percebem como é importante, até para o mais acelerado e frenético filme de ação, que haja uma atenção para os aspectos humanos em jogo?
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assisti ao filme e espero pela segunda parte.