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Sinopse

A história acompanha a ascensão do cientista Alan Turing no mundo da tecnologia, quando seus conhecimentos inestimáveis em matemática, lógica e ciência da computação contribuíram com as estratégias usadas pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, a perseguição que sofreu por ser homossexual e os próprios conflitos internos o marcaram profundamente até o fim da vida.

Crítica

Diretor do excepcional thriller Headhunters (2011), o norueguês Morten Tyldum conseguiu sua primeira indicação ao Oscar ao sair de sua terra natal e se dirigir à Inglaterra para oferecer uma justa luz a um segredo de mais de meio século em O Jogo da Imitação, longa indicado em oito categorias no prêmio da Academia de Hollywood em 2015, inclusive também a Melhor Filme e Roteiro Adaptado. Para tanto, contou com o texto afiado do estreante Graham Moore (de apenas 33 anos), que impressiona pela pesquisa histórica e fidelidade aos fatos, e, acima de tudo, com uma assombrosa atuação de Benedict Cumberbatch – ele também finalista como um dos melhores atores do ano. Esforços reunidos que se tornam ainda mais relevantes graças ao mérito de resgatarem a vida e a importância dos atos de Alan Turing, o homem que, em uma versão resumida, simplesmente acabou com a Segunda Guerra Mundial e derrotou os exércitos de Adolf Hitler!

Cumberbatch dá vida à Turing, um matemático acadêmico que na década de 1930 decide abandonar as salas de aula para se juntar às atividades militares inglesas. Ele, assim como um time dos melhores profissionais da área, é escolhido para decifrar o misterioso Enigma, máquina utilizada pelos nazistas para emitir suas mensagens em código, o que dificultava a fácil identificação pelos Aliados. A questão é que haviam milhares de possibilidades de leitura, e suas combinações eram revistas diariamente à meia-noite – ou seja, todo o empenho de compreendê-los era simplesmente descartado por completo na virada para o dia seguinte, e o trabalho precisava ser reiniciado por completo. Não bastava, portanto, se focar no problema imediato, pois ele representava apenas um dentre milhares – era preciso focar num cenário maior e mais abrangente, e, para tanto, seria necessário fugir do convencional.

Alan Turing era tudo, menos aquilo que poderíamos considerar normal. Dotado de uma espécie de autismo social, era uma pessoa cheia de manias e trejeitos. Se já existisse a expressão na época, poderia ser dito que fora vítima de bullying na juventude, além de um distanciamento paterno e falta de tato com as questões corriqueiras do dia a dia. Preferia trabalhar sozinho, pois acreditava que os colegas “o atrasariam por ter que explicar seu método de raciocínio”, e não se dava bem com as autoridades. Era um gênio, basicamente, ainda que na maior parte do tempo fosse incompreendido. Sua força, no entanto, só conseguiu vir à tona graças à três apoios imprescindíveis que recebeu: Joan Clarke (Keira Knightley, luminosa), tão genial quanto ele, porém também dona de uma fraqueza (no caso dela, o fato de ser mulher), Hugh Alexander (Matthew Goode, com uma boa presença cênica), o estudioso metido à galã que, apesar de antipatizar com ele à princípio, acaba aceitando-o como amigo e colocando-se ao seu lado nos momentos mais fundamentais, e Stewart Menzies (Mark Strong, competente como sempre), o oficial do MI6 que lhe dará o suporte necessário para seguir em frente mesmo quando todas as probabilidades estavam contra suas expectativas.

Mais do que desvendar o código do Enigma, era preciso saber quando revelar a verdade e como utilizar as informações preciosas que daí surgiriam. O Jogo da Imitação, portanto, é justamente sobre isso: como fazer uso do conhecimento que possuímos. Na primeira metade do século XX, Alan Turing possuía uma falha no seu caráter que, sob determinados pontos de vista da época, poderia ser considerada fatal: era homossexual. Ainda que tenha sido acusado pelos mais radicais de ter amenizado a abordagem desse assunto, o filme é, sim, corajoso em assumir essa questão como um dos pilares fundamentais da trama. Afinal, foi por causa dessas acusações que os grandes feitos deste homem acabaram sendo relegados ao esquecimento por décadas a fio, além de terem sido suficientes para guiá-lo a uma derrocada sem volta.

Mais do que narrar um thriller bem feito – afinal, trata-se de uma cinebiografia baseada em fatos reais dos quais a maioria sabe exatamente como termina – O Jogo da Imitação é um grande filme sobre como enxergamos o homem que somos e, principalmente, aquele que está ao nosso lado. Enquanto serve aos nossos propósitos – como a amizade conveniente que surge entre o protagonista e o espião infiltrado – as coisas tendem a funcionar, mas assim que indicam uma posição contrário ao esperado – como em um dos desfechos traumáticos de sua relação com Clarke – a revolta individual assume tal dimensão que esquece-se com facilidade o contexto maior. Ainda que convencional no seu desenvolvimento e, até certo ponto, previsível, tem-se aqui uma história de e sobre homens e os erros do dia a dia, uns irrelevantes, outros com consequências inimagináveis. A esperança é que este alerta indique como aprender com eles e evitá-los no futuro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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