Sinopse
Um advogado de muito sucesso, Hank Palmer, volta à cidade em que cresceu para o velório de sua mãe. No local, acaba descobrindo que seu pai é o principal suspeito de um atropelamento que terminou na morte da vítima. Ele, então, decide defender o pai, que foi ausente na sua criação, no tribunal.
Crítica
Esqueça o juiz do longa homônimo estrelado por Sylvester Stallone em 1995 e baseado no criatura selvagem das histórias em quadrinhos – que, inclusive, ganhou uma nova aventura muito mais interessante em 2012. Este da versão estrelada por Robert Downey Jr. é tão convencional quanto possível, um veículo feito única e exclusivamente para o estrelato do seu protagonista. No entanto, são diversos os problemas esse longa apresenta, a ponto de que a grande dúvida que paira durante sua projeção é o que teria levado o astro a se envolver com esse projeto, e não apenas atuando – ele é também um dos produtores! Afinal, esse O Juiz é tão tedioso e óbvio que perde feio até em comparação com qualquer episódio das inúmeras séries televisivas sobre o tema que pululam pelos canais de tv à cabo. De provocar bocejos, literalmente.
Após uma meia hora perdida apenas para apresentar o personagem principal aos espectadores – um Downey Jr. arrogante e poderoso, eficiente e esnobe, advogado que liquida sem pensar duas vezes qualquer um que se coloque no seu caminho – somos introduzidos à verdadeira trama em questão: o pai dele, interpretado por Robert Duvall, é um juiz de longa data, já em fim de carreira, que é acusado de atropelar – e matar – um antigo desafeto, justamente no dia do enterro de sua própria esposa. As provas são todas contra ele. E caberá ao filho a tarefa de defendê-lo. Apimentando a situação – é claro, pois nada é tão simples – há o fato dos dois simplesmente se odiarem e estarem há anos sem se falarem.
Como se pode perceber já pela sinopse, o personagem de Robert Downey Jr. é somente uma leve variação do Tony Stark que o consagrou na trilogia Homem de Ferro – que, por sua vez, é por si só muito similar ao protagonista de sua outra franquia, o detetive inglês Sherlock Holmes (2009). Tira a armadura de um, ou as roupas de época do outro, e voilá! Por debaixo dos figurinos, tem-se exatamente o mesmo tipo, sem esforço interpretativo algum que os diferencie. Duvall, um mestre por si só, também não está diferente do tipo carrancudo com o qual tem se acostumado nos últimos anos, tal qual visto em filmes como Segredos de um Funeral (2009) ou Lições para Toda Vida (2003), entre tantos outros. E é basicamente isso em relação ao elenco. Coadjuvantes de luxo, como Vera Farmiga (a ex-namorada), Vincent D’Onofrio (o irmão traumatizado), Dax Shepard (o advogado novato), Leighton Meester (a ninfeta) e Billy Bob Thornton (o promotor impiedoso) escassas oportunidades possuem, e pouco além dos estereótipos que lhes são oferecidos eles conseguem avançar.
No entanto, nada disso seria problemático caso estivesse envolto a uma história interessante e surpreendente – o que, por outro lado, está longe de acontecer. Escrito e dirigido por David Dobkin, diretor que tem no currículo títulos como o medíocre Eu Queria Ter a Sua Vida (2011) e o sucesso Penetras Bons de Bico (2005), O Juiz em nenhum momento da sua longa duração – são mais de 140 minutos – consegue se diferenciar ainda que minimamente de todo e qualquer drama de tribunal que volta e meia chega às telas. As reviravoltas aparecem nos momentos calculados, os dramas que conectam os personagens são superficiais a ponto de serem superados na hora certa e tudo parece estar disposto na tela com o único propósito de comover o espectador mais desavisado. Afinal, somente aquele que se mantiver alheio aos clichês mais comuns do gênero poderá ficar minimamente surpreso com o desenrolar dos eventos aqui mostrados.
No entanto, se Robert Downey Jr. entrega apenas o que se espera dele e marca presença com o claro intuito de apenas agradar seus fãs mais convictos, O Juiz peca antes de mais nada por não se preocupar com a relevância de sua história. O mistério no qual se baseia beira a irrelevância, e em mais de um momento nos pegamos perguntando os por quês de tudo aquilo. Tanto é que, no final, tem-se dois ou três finais que, individualmente, talvez até fossem satisfatórios, mas que juntos remetem apenas à insegurança do cineasta responsável, incapaz de se decidir por um ou outro. E se nem aqueles que estão por trás dessa realização parecem preocupados com a consistência da obra que nada mais é do que descartável, pouco resta à audiência além de ignorá-la ou, em último caso, esquecê-la irremediavelmente.
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