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Sinopse

Jordan Belfort foi um corretor de títulos da bolsa norte-americana que entrou em decadência nos anos 1990. Sua história envolve o uso de drogas e crimes do colarinho branco.

Crítica

O Lobo de Wall Street é um filme de excessos. Seja pelo exagero das ações de seu protagonista, Jordan Belfort. Seja pela longa duração do longa-metragem. Seja, principalmente, pelo excesso de talentos reunidos. Um elenco cheio de atores em sua melhor forma capitaneados por Martin Scorsese, cineasta que a cada novo filme mostra estar ainda no topo do seu jogo. Esqueça as imitações trapaceiras. Este é um Scorsese original e vale cada centavo do ingresso. São três horas em alta rotação, com o espectador acompanhando a vida desregrada de um homem que passou por cima de tudo pelo dinheiro. E viveu para contar a história.

O roteiro é assinado por Terence Winter, baseado no livro de Belfort, corretor da bolsa de valores que, através de muitas maracutaias, conseguiu erguer um verdadeiro império. Na trama, vemos o início da vida de cobiça de Jordan (Leonardo Di Caprio), seus primeiros trabalhos como aprendiz, seguindo os conselhos do alucinado Mark Hanna (Matthew McConaughey), sucumbindo à crise de Wall Street nos anos 80, começando novamente de baixo vendendo ações pequenas, até começar sua própria firma, ao lado de Donnie Azoff (Jonah Hill). Sem se prender a nada, nem a ninguém, Jordan pensa exclusivamente em se dar prazer. Seja através do dinheiro, das mulheres ou das drogas, o que movimenta o interesse de Jordan é esta máxima. Quando o FBI começa a investigar os ganhos de Belfort, através do agente incorruptível Patrick Denham (Kyle Chandler), é chegada a hora de parar com os exageros e sossegar. Ou não?

Em sua quinta parceria com Martin Scorsese, Leonardo Di Caprio entrega a performance de sua carreira. Insano, engraçado, desbocado, obcecado. O ator vai aos extremos em seu trabalho, mostrando-se completamente focado em acertar as notas do personagem. Di Caprio apresenta um lado cômico pouco explorado, fazendo rir com o exagerado vício de Belfort pelas drogas. À frente do microfone dando discursos de incentivo aos seus funcionários, ou tentando enganar agentes do FBI com seu charme jovial, Belfort é um homem de muitos talentos – infelizmente utilizados para contravenções. São praticamente três horas em que acompanhamos Di Caprio nos guiar pelas mais inacreditáveis histórias (raramente a narrativa se afasta do protagonista) e ele é o cicerone ideal nesta trama politicamente incorreta.

Di Caprio é destaque e tem uma atuação alucinada, mas os demais integrantes do elenco também estão fantásticos. Matthew McConaughey aparece pouco mais de cinco minutos e deixa sua marca como o insano mentor de Belfort. Sua forma de prender a atenção do interlocutor é incrível e seu canto de guerra ressoa por boa parte da história. Jonah Hill repete seu ótimo desempenho como o sidekick de confiança visto em O Homem que Mudou o Jogo (2011), agora acompanhado de uma dentadura estranha que o deixa com um visual bastante bizarro. Dignas de nota são as pequenas, mas essenciais participações de Rob Reiner (como o explosivo pai de Belfort), Jean Dujardin (como o bancário suíço Jean Jacques Saurel), Joanna Lumley (a sábia tia Emma) e Kyle Chandler (divertido como o implacável agente do FBI).

Com um elenco interessante como este, Martin Scorsese só precisava contar bem sua história para prender a atenção do espectador. E, felizmente, nisso o cineasta é especialista. Scorsese brinca com a narrativa durante todo o tempo, deixando o público completamente vidrado na história. Primeiro, Jordan Belfort conversa com a câmera, explicando os termos mais complicados do metier de corretor de ações e, lá pelas tantas, não se importando realmente se o seu interlocutor está entendendo ou não suas palavras. Em outros momentos, vemos conversas que se passam apenas na cabeça dos personagens – a cena em que Belfort coloca seu dinheiro na Suíça e tem uma conversa mental com Saurel é engraçadíssima. Além disso, a narrativa vai e volta no tempo, nos mostrando algumas informações que, por causa do estado mental do protagonista, nos foram negligenciadas num primeiro momento.

Cheio de palavrões, sexo, nudez e drogas, O Lobo de Wall Street foi produzido de forma independente e, por isso, conseguiu esta liberdade ao mostrar os excessos de Jordan Belfort. E nada disso é gratuito. É completamente necessário para esta história ser contada mostrando qualquer tipo de exagero. Afinal de contas, o protagonista desta trama não foi conhecido por ser uma pessoa contida. E é exatamente isto que Scorsese e Di Caprio nos mostram.

Ainda que o cineasta tenha sido criticado por, aparentemente, glorificar o meio de vida de Belfort, esta ressalva não poderia ser mais mentirosa. É verdade que vemos o protagonista se divertir e passar muitos para trás com seu estilo inescrupuloso, mas também o vemos em papéis ridículos, sucumbindo ao uso de drogas e mostrando ser uma sombra do homem que poderia ser ao delatar seus “amigos”. Scorsese nos mostra a opulência e também nos mostra a derrocada. Quer forma mais interessante de criticar uma forma de vida predatória como esta?

Se Gordon Gekko, de Wall Street: Poder e Cobiça (1987), pudesse escolher um pupilo, certamente Jordan Belfort seria o escolhido ideal para continuar sua trajetória profissional. Scorsese faz um filme intenso, engraçado e dramático em iguais proporções, com uma bela trilha sonora (indo de Elmore James a Foo Fighters), a edição sempre competente de Thelma Schoonmaker e com um elenco afiadíssimo. Sempre bom ver um mestre trabalhando. Principalmente quando esta figura se mostra em total forma no alto de seus 71 anos, fazendo um filme arrojado que muitos cineastas jovens não ousariam – ou saberiam – fazer. Filmaço.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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