Crítica
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O cineasta Derek Cianfrance havia apresentado, em 2010, seu primeiro longa-metragem de ficção, Namorados Para Sempre (2010), uma crua e realista história sobre o início e o fim da história de amor de um casal interpretado por Michelle Williams e Ryan Gosling. Apresentando vários fatos que culminaram tanto na paixão arrebatadora do começo quanto no sofrido término por conta de um desgaste, o diretor mostrou seu belo potencial para contar o enredo de um microcosmo, algo tão particular e ao mesmo tempo tão comum (até banal). Agora, em O Lugar Onde Tudo Termina, Cianfrance volta a falar de amor, atos e consequências, o que parece determinar a base de sua filmografia se ele seguir no mesmo caminho: os relacionamentos.
Se no longa anterior a narrativa era contada em duas frentes (passado e presente) que se cruzavam para causar um choque de realidade na plateia (uma hora um momento romântico, em seguida algo totalmente contrário que tirava o encanto da cena anterior), desta vez Cianfrance segue uma narrativa linear que dura três atos. No primeiro e mais interessante, Luke (Ryan Gosling, de volta à parceria com o diretor) é um motoqueiro que trabalha no globo da morte de um circo da cidade. Ele viaja por um ano e, ao retornar, descobre que tem um filho com Romina (Eva Mendes), garota com quem ele passou uma noite apenas e agora vive com outro homem, que assumiu a paternidade da criança. Para reconquistar a mulher e tomar seu lugar como chefe da família, Luke vira assaltante de bancos. Após o sucesso de alguns roubos, um destes “trabalhos” dá errado e ele vira alvo da perseguição de Avery (Bradley Cooper), policial novato nas ruas. É o desfecho desta corrida frenética de quase dez minutos que vai culminar em mudanças para as famílias de ambos ao longo de quase 20 anos posteriores.
Revelar mais da sinopse seria um tremendo spoiler. Não que haja grandes surpresas ou reviravoltas que possam diminuir a atenção do filme, mas é o tipo de questão que o espectador precisa responder por si. O interessante é notar que, a partir do fim do primeiro ato, o mais trágico, as escolhas dos personagens vão ser sempre baseadas neste passado, para o bem ou para mal. Muito além da relação causa/consequência, o que Cianfrance determina é como as escolhas são cíclicas e sempre afetam os mais próximos, direta ou indiretamente. Se em Namorados Para Sempre o centro era o amor de um casal, o que move O Lugar Onde Tudo Termina é a relação entre pai e filho, ou melhor, o amor entre ambos.
Estas relações afetam também a formação de caráter dos personagens. Luke não foi criado pelo pai, por isso não quer que o mesmo ocorra com seu filho. Já Avery tem no seu um herói, o que talvez tenha lhe deixado numa situação muito confortável, sem imaginar que seu status nos anos seguintes implicaria justamente no afastamento do próprio filho. É uma ciranda que nunca termina, onde papéis se invertem, mas o resultado acaba sendo o mesmo: a tragédia para uns e a felicidade para outros.
Quando os primeiros teasers e trailers do filme começaram a pipocar pela internet, muito se falou que o filme seria ao estilo Drive (2011), desta vez com Gosling interpretando um motoqueiro ladrão em vez de um motorista de carros que dá carona a assaltantes. Há semelhanças, com certeza (especialmente no que tange à escolha de jaquetas estilosas), mas não é para tanto, pois os personagens são diferentes em outros aspectos muito mais interessantes que vão no âmago de suas personalidades. O motorista do filme de Nicolas Winding Refn agia conforme sua natureza, implodia (e não o contrário) à medida que as coisas aconteciam à sua volta. O Luke do filme de Cianfrance é o oposto.
Como já falado aqui, há três atos durante o filme e o diretor não se preocupa em diminuir radicalmente o ritmo da história de um para outro. Se no primeiro há corridas e perseguições de moto, assaltos a bancos e tiroteios, o segundo dá lugar a uma atmosfera de suspense, onde o público entende como funciona a corrupção na polícia daquela cidade, mas não tem ideia de como o caso vai ser desvendado. Já o terceiro é tomado pela maior carga dramática e conduzido de forma lenta, sem pressa, com os filhos de Luke e Avery já adolescentes entrando em crises existenciais. É neste que a mudança de tom é maior e mais chocante, o que, por um lado, acaba enfraquecendo a história narrada naquele momento, porém, no todo, mantém a qualidade da obra.
Com atuações eletrizantes de Ryan Gosling e Bradley Cooper e participações memoráveis de, entre outros, Bruce Greenwood e Ray Liotta, O Lugar Onde Tudo Termina aparece como um dos candidatos a melhor filme de 2013. Claro que há ainda muita água (quer dizer, filmes) pra passar, mas ao menos uma certeza a produção deixa: Cianfrance é um dos cineastas mais promissores da atualidade. Se o ritmo continuar com seu próximo filme anunciado, Metalhead, o diretor deve se firmar como um dos maiores de sua geração.
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Realmente, Carol, esta experiência de trocar opiniões tão adversas sobre um filme é que faz o cinema e o trabalho como crítico valerem tanto a pena. Mesmo gostando muito de O Lugar Onde Tudo Termina, entendo que não é um filme que vá agradar a todos. Mesmo não concordando com sua opinião sobre a obra, sei o que você quer dizer e acredito que há ainda muito mais argumentos que possam colocar Derek Cianfrance e todo o elenco ladeira abaixo. Porém, o melhor de tudo é esta troca, esta discussão. Um filme que levanta esta possibilidade já merece aplausos por si só. :) Grande abraço!
Acho incrível, fantástica a experiência pessoal com o cinema. A possibilidade, quase condição que cada um de nós estabelece enquanto assistimos um filme. " A beleza está nos olhos de quem vê". Concordo integralmente com esta máxima. E quando li essa crítica pensei muito nisso. Pois enquanto alguns conseguem extraír tanto de um filme, tantos aspectos positivos, atribuindo a estes qualidades variadas, outros como eu por exemplo não conseguiriam imaginar argumentos que justificassem a ousadia de filmar por mais de 1 hora e meia um filme como este. O lugar onde tudo termina foi uma grande decepção pra mim!Nunca imaginei que após "Namorados para sempre" Derek Ciafrance faria um longa com quase 2 horas e meia tão pretencioso como este. A começar pela construção de personagens tão desinteressantes ou melhor: chamarizes interessantes mas que não funcionam. Ainda mais em 3 etapas distintas que quando o diretor tenta articular fica pior do que se não tivesse feito esse link nada crível. As atuações são surrealmente fracas.Acho que Derek Ciafrance ficou fixado em " Drive" e não conseguiu separar sua imensa admiração na hora de criar O lugar onde tudo termina. Chega a ser ingênuo de tão pretencioso. Há cenas tão ruins que beiram o ridículo. Uma em especial que me pergunto até o presente momento: pra que aquilo meu Deus? (pra quem viu: balão de gás para um marmanjo na saída do hospital?)!!!! Esta entre outras cenas me causaram péssima impressão. E quando leio que as atuações foram eletrizantes e que o diretor é um dos cineastas mais promissores da atualidade, penso: o que seria do amarelo se todos gostassem do vermelho? E viva a diversidade!