Crítica
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Sinopse
O trio de amigas cantoras Bia, Giulia e Laura, as BFF Girls, está prestes a participar de um festival de música muito famoso no Rio de Janeiro. Assim sendo, as coisas parecem mudar para melhor. Mas, os planos delas vão por água abaixo quando descobrem que ficaram de recuperação na escola. Assim, terão uma missão arriscadíssima pela frente: ir ao festival sem que seus pais fiquem sabendo para evitar negativas e castigos.
Crítica
Qualquer tentativa por parte da crítica contemporânea em automaticamente desvalorizar os filmes estrelados por youtubers / influenciadores constitui um gesto pouco frutífero. Pode-se esbravejar à vontade, exigindo atores profissionais no lugar dos jovens protagonistas. No entanto esta tendência constitui um sintoma importante dos nossos tempos enquanto sociedade consumidora e produtora de imagens. Os influenciadores constituem o que o século XXI trouxe de mais próximo do star system desaparecido há algumas décadas nas formas tradicionais de cinema, razão pela qual obviamente seriam aproveitados por outros suportes. Poucos fãs ainda correm às salas para acompanhar cada novo filme de humoristas consagrados ou de galãs da novela, mas se apressam para descobrir novas imagens de sua celebridade preferida do Instagram ou Facebook. Mais interessante do que descartar o projeto por sua configuração teen seria analisar de que maneira este cinema de vocação pós-moderna adapta a linguagem clássica à velocidade dos nossos tempos, e de que modo ele representa os anseios específicos da nova geração.
O Melhor Verão das Nossas Vidas é estrelado por sucessos da Internet e da televisão. As BFF Girls (Giulia Nassa, Bia Torres e Laura Castro) foram alçadas à fama pelo programa The Voice Kids, antes de formarem um grupo e sustentarem suas marcas via redes sociais. Bela Fernandes, Murilo Bispo e Maurício Meirelles, nos papéis secundários, adotam caminhos semelhantes, combinando artes clássicas (são atores, músicos) com a performance de si mesmos. Eles são ao mesmo tempo o artista e a arte, o produtor e o produto de suas imagens. Não por acaso, interpretam papéis análogos ao de si próprios: adolescentes músicos, obcecados por telefones celulares, cujos mentores são humoristas mais tradicionais, com experiência nos palcos. De certa forma, esta constitui uma passagem de bastão entre gerações de celebridades, do teatro/televisão à Internet. O projeto também funciona enquanto veículo de sustentação para os atores principais. Resta ver se o público que consome imagens “gratuitamente” via redes sociais migrará para os ingressos mais caros do cinema.
Por “linguagem da Internet”, o diretor Adolpho Knauth, o diretor de fotografia Daniel Talento e o montador PH Farias compreendem imagens picotadas, aceleradas, articulando diversos focos narrativos ao mesmo tempo. Este seria o provável equivalente de deslizar pelo feed de notícias de uma rede social qualquer: as informações se acumulam, se sucedem, sem se transformarem ou necessariamente comunicarem entre si. O projeto emula um estilo apropriado aos vídeos curtíssimos, de poucos minutos, dentro do formato narrativo de 90 minutos, acreditando que a transposição funcionaria automaticamente. Ora, a adaptação escancara as limitações do dispositivo: a história soa dispersa demais, nenhum personagem se aprofunda a contento, os conflitos aparecem de lugar algum e se resolvem como num passe de mágica. As BFF Girls brigam entre si por um motivo fútil, e na cena seguinte, através de uma narração em off, fazem as pazes. Júlio (Enrico Lima) beija uma garota, mas no momento seguinte declara o seu amor a uma segunda. As ações não possuem peso, não possuem tempo para se desenvolver. Assim, soas falsas, fáceis e acessórias dentro do contexto.
A tentativa de ser leve e despretensioso se traduz numa curiosa infantilização das relações e da linguagem. Por passar diversas cenas sozinha, Helô (Giovana Chaves) declama em voz alta o que pensa – os criadores não conseguiram encontrar outro modo de transmitir seus anseios. Após um verão claramente inesquecível, às vésperas de se apresentarem num concurso importante ao grupo, as meninas afirmam: “Esse festival representa muito para a gente!”, “Esse é um verão inesquecível”. A transição entre cenas recorre a planos aéreos da praia, com belas pessoas jogando bola, ou das avenidas tomadas pelo tráfego do centro de São Paulo. Por leveza, a mise en scène compreende “inofensivo”, refém do conteúdo, em especial dos diálogos. Parte considerável das cenas ocorre entre pessoas sentadas num sofá ou cama, discutindo o que fazer em seguida. Então eles se levantam e partem para a cena seguinte. Corte. Há poucas ações cotidianas, pouquíssimo som ao redor, quase nenhuma relação dos conflitos de Laura, Giulia e Bia com a sociedade em que se inserem. O albergue onde as meninas dormem está convenientemente vazio.
Trata-se de um mundo-bolha, cortado do resto do mundo. Quando as garotas reclamam que “foram obrigadas a estudar” para as provas, em tom de martírio ou provação, percebe-se que os dilemas da juventude retratada se resumem ao hedonismo, ao prazer de si: beijar e ser beijado, cantar e ser admirado. E só. Mesmo tentando escrever o texto para adolescentes, os diálogos soam artificiais, fazendo trocadilhos poucos elaborados entre micro-ondas e mitocôndria, ou entre Egito e Aedes Aegypti. Qualquer pessoa que se encontre diante das atrizes principais, seja na vida ou pelo filtro das redes sociais, perceberá uma espontaneidade muito bem-vinda, que infelizmente não se traduz no filme. Elas são limitadas por uma direção de atores um tanto mecânica, uma disposição estática de cenas e frases de efeito destinadas a sublinhar a obviedade das mensagens. “O melhor caminho é sempre a verdade”, afirma uma personagem, como se duvidasse da capacidade do espectador em compreender a lição.
Os jovens de hoje estão acostumados a uma linguagem ágil, mas também à malícia na produção das imagens, à mistura pop entre o espaço particular e o privado, entre a política e o individualismo, entre o flerte e o sexo, entre o ídolo teen e o modelo familiar. Enquanto Sex Education, Fora de Série (2019), Superbad: É Hoje (2017) e tantos outras comédias encontravam no modelo “proibido para menores” uma maneira de dialogar com o aspecto mais cruel da juventude, O Melhor Verão das Nossas Vidas insiste em transformar as jovens em heroínas repletas de mensagens positivas. Existe um caráter misto entre o progressivo (a inclusão de personagens surdas; a citação curta, quase paródia, a respeito da ganância dos pais) e o conservador (os relacionamentos sem desejo sexual, as letras sobre amor romântico - exclusivamente heterossexual, é claro -, o encantamento de professores e pais assim que escutam as canções das garotas). Ou seja, o filme não vende um modelo de equivalência ao público, personagens para enxergarem a si mesmas como num espelho. Laura, Bia e Giulia são posicionadas num pedestal, ou no caso, num palco, por trás do filtro sempre tão sorridente das redes sociais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Bruno Carmelo | 3 |
Alysson Oliveira | 1 |
MÉDIA | 2 |
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