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Crítica


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Sinopse

Fernando é um garoto cansado de fazer as coisas chatas da vida. Seu sonho era ter um sósia que ficasse com estas tarefas, enquanto ele poderia se divertir sem se preocupar. Até que isto acontece quando o reflexo dele deixa o espelho e ganha vida.

Crítica

Assim como outras produções infantis recentes, como O Menino da Porteira (2009) e Meu Pé de Laranja Lima (2013), O Menino no Espelho se apoia por demais em sua fonte literária e parece esquecer o atual público que vai aos cinemas. A história, bonita e singela, é econômica em sua realização e vai direto ao ponto, sem tramas paralelas nem personagens engraçadinhos que mais distraem do que colaboram com o desenrolar da trama. No entanto, é também exageradamente ingênua e linear, sem possibilitar segundas leituras nem um maior aprofundamento por parte do público adulto. Nesta mesma linha, outro título mais bem sucedido – e muito similar, até pela questão geográfica – foi Uma Professora Muito Maluquinha (2010), com Paola Oliveira. Assim tem-se um registro de uma época, uma homenagem simpática, e não muito mais do que isso.

Baseado no romance homônimo lançado em 1982 por Fernando Sabino (a quem o filme é dedicado), O Menino no Espelho tem traços autobiográficos do escritor, que nasceu em Belo Horizonte e levou uma infância tipicamente mineira. É isso que o diretor Guilherme Fiúza Zenha (responsável por um dos segmentos de 5 Frações de uma Quase História, 2007) tenta replicar em cena, porém sem muito sucesso. A direção de arte é asséptica – tudo muito limpo, sem vida – e os figurinos parecem sob medida para as gravações, saídos ontem das lojas ou das máquinas de costura. Nada é muito real, verossímil. Outro ponto falho da produção é a trilha sonora, insistente e contínua, presente quase que ininterruptamente, pontuando toda a ação, como que a reforçar as emoções dos espectadores. Porém, como tudo que é exagerado, logo ela perde seu propósito e serve apenas como um incômodo do qual queremos nos livrar.

O protagonista de O Menino no Espelho é Fernando, um garoto travesso como tantos outros. Logo na cena de abertura ele inventa um avião improvisado, e tudo o que consegue são machucados e hematomas. Ao esconder as feridas em casa, acaba de castigo. Porém sua imaginação segue correndo solta, e a solução é se desdobrar em dois: Odnanref (‘Fernando’ ao contrário) é o seu ‘outro’, a versão oposta que sai do espelho e ocupa o seu lugar em todas as ocupações chatas (lidar com o pais, ir à escola, se ocupar com a prima que chega de visita), enquanto ele próprio trata de passar seu tempo brincando com os amigos na organização secreta P.E.I.DO (Polícia Especial de Investigações Domésticas), bisbilhotando os vizinhos (há uma subtrama sobre a frente integralista durante o primeiro governo de Getúlio Vargas – o filme é ambientado na primeira metade do séc. XX – que não chega a ser desenvolvida a contento) e descobrindo que crescer não é algo fácil. Só que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, e chegará o momento em que somente um dos dois meninos poderá seguir em frente.

O Menino no Espelho é uma produção voltada quase que exclusivamente para o público da mesma faixa etária dos seus personagens principais, feita com cuidado e dedicação, o que merece ser destacado. Porém falta experiência aos realizadores para saber dosar melhor os elementos reunidos e conduzir com mais precisão seu elenco. Se nomes como Mateus Solano, Regiane Alves, Gisele Fróes, Ricardo Blat, Laura Neiva e Murilo Grossi pouco podem fazer com o limitado espaço que lhes é oferecido, o resultado apresentado pelos pequenos é mais constrangedor, pois lhes falta uma mão firme que os conduza. E o pior acaba sendo mesmo o protagonista, vivido por Lino Facioli, que apesar de ter nascido em São Paulo se mudou aos cinco anos junto com a família para Londres e hoje é popular como o insuportável príncipe Robin Arryn, no seriado Game of Thrones (2011). Se ele conseguiu agrupar um sem número de detratores na televisão, com o que apresenta agora na tela grande não se pode esperar nada muito melhor. E sem poder apostar naquele em qual toda a história se apoia, tudo tende, inevitavelmente, a desabar. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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