Crítica
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Sinopse
O escritor Thomas Wolfe, autor inflamado por uma personalidade difícil, e o renomado editor Max Perkins, um dos maiores descobridores literários de todos os tempos, são amigos.
Crítica
Nome seminal da literatura norte-americana do início do século XX, Thomas Wolfe teve uma trajetória de vida e artística curta – faleceu aos 38 anos, vítima de pneumonia – fato que se opõe diretamente ao escopo de seus extensos romances, como os aclamados Look Homeward, Angel e Of Time and the River, marcados por um estilo extremamente original e sofisticado na mistura da prosa poética com a escrita autobiográfica e analítica. Em O Mestre dos Gênios, o premiado diretor teatral britânico Michael Grandage faz sua estreia como cineasta, levando para as telas um recorte da história do escritor através da adaptação do livro Max Perkins: Editor of Genius, de A. Scott Berg, biografia do renomado editor literário responsável por descobrir talentos como F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, além do próprio Wolfe.
Apesar de Perkins, interpretado por Colin Firth, ser o protagonista do material que serve como base para o roteiro, o olhar de Grandage se concentra quase em sua totalidade no relacionamento com Wolfe (Jude Law), fazendo com que a figura do autor ganhe uma importância equivalente e praticamente domine as ações. Essa opção pela limitação do foco narrativo – mostrando o início da carreira de Wolfe, a publicação de seu primeiro trabalho, a amizade com Perkins, etc. – permite um controle maior do cineasta, porém acaba excluindo da trama diversos outros aspectos de interesse para o espectador. Tanto o processo criativo de Wolfe quanto os métodos de edição de Perkins, por exemplo, são apresentados de maneira superficial, relegados a passagens fugazes que não transmitem todo o fascínio que deveriam.
Grandage se atém à construção de uma espécie de bromance de época, ainda que a relação dos protagonistas esteja mais próxima daquela entre pai e filho: Wolfe tem em Perkins um substituto para uma figura paterna perdida, enquanto o editor, pai de cinco garotas, enxerga em seu protegido o filho homem que nunca teve. A interação da dupla não deixa de ter seu apelo, gerando momentos que traduzem um sentimento genuíno de amizade e admiração – como quando contemplam a cidade de Nova York do alto de um edifício, celebrando o sucesso da parceria – mas a centralização integral nessa dinâmica faz com que os outros personagens que habitam a narrativa fiquem restritos a meras representações unidimensionais, principalmente os femininos.
No papel de Louise Perkins, esposa de Max, a sempre confiável Laura Linney pouco tem a fazer. A mulher, diretora de teatro que vive à sombra das realizações do marido, tem seu potencial completamente esvaziado, inclusive como contraponto para o próprio dilema existencial de Max – que deliberadamente busca ser uma força invisível por trás das obras daqueles que publica. Já Nicole Kidman, que vive Aline Bernstein – figurinista teatral, integrante da alta sociedade e amante de Wolfe – apesar de ter mais tempo em cena, também se torna refém de uma personagem mal desenvolvida. Ao invés de um tipo feminino forte, que abandonou a segurança do ambiente familiar para investir no amor e no talento de Wolfe, Aline é reduzida ao estereótipo de musa emocionalmente instável, por vezes histérica.
Esse desenvolvimento errático se estende também ao protagonista. Em determinada cena, Wolfe admite não parecer uma pessoa real, devido à sua personalidade dramática e hiperbólica, incapaz de estabelecer limites para seu discurso prolixo ou seus relacionamentos intensos, tal qual com as páginas de seus livros. Um momento de autocrítica que, apesar de sincero, não ameniza o efeito de uma concepção caricatural, reforçado pela atuação de Law, que cai na armadilha do overacting, deixando seu Wolfe extrapolar o limite do irritante. Assim, fica difícil se identificar com o escritor ou mesmo compreender a devoção daqueles que o cercam, ainda que se tenha consciência de sua genialidade. Cabe então a Colin Firth tentar equilibrar o tom com Perkins, objetivo que o ator britânico atinge de modo satisfatório.
Mesmo que a serenidade do editor por vezes se confunda com uma atitude passiva, Firth imprime profundidade em sua interpretação, demonstrando força em sequências-chave, como a da discussão após o jantar na casa de F. Scott Fitzgerald. O autor de O Grande Gatsby, vivido por Guy Pearce, assim como Hemingway (Dominic West), possui uma participação pequena e discreta. A direção de Grandage é bastante convencional, não escondendo suas raízes teatrais na encenação – não à toa, o grande confronto entre Wolfe e Aline ocorre sobre o palco. A falta de peso na passagem do tempo é outro problema, e o diretor também perde a chance de explorar o contexto histórico do período da Grande Depressão – se limitando a algumas imagens de trabalhadores desempregados, aos tons frios e acinzentados da fotografia e a um par de diálogos. Diferente de Perkins, que sabia como extrair o melhor de seus escritores, Brandage não capta a essência da escrita de Wolfe, recorrendo à literalidade até para apresentar a mais evidente metáfora – o rio que sempre deságua no mesmo lugar – e fazendo de O Mestre dos Gênios um produto distante da singularidade de seus biografados.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Leonardo Ribeiro | 5 |
Ailton Monteiro | 3 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 3.7 |
A caracterização ou troca de atores pareceu novela da Globo, mesmo que se tenha passado alguns anos entre um livro e outro uma das filhas de Perkins continua do mesmo jeito.