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Crítica

Foi-se o tempo em que o Brasil poderia ser considerado o “país do futebol”. A participação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2014 deixou bem clara sua atual condição, em que muitos dos antigos conceitos precisam ser revistos com urgência. E neste mesmo campeonato, quem se destacou positivamente foi a Alemanha, um time forte, técnico e comprometido. Se os brasileiros parecem ter perdido o talento que outrora os consagrou internacionalmente, cabe agora aos alemãs seguirem com essa responsabilidade como campeões do mundo. Para tanto, este é um momento oportuno para relembrar um dos momentos mais emblemáticos dessa trajetória: justamente a conquista do primeiro título mundial, em 1954. Um episódio muito bem retratado no emocionante O Milagre de Berna, de SönkeWortmann.

Ainda que seja uma trama ficcional, O Milagre de Berna tem sua história fortemente baseada em um fato real. Sua trama se desenvolve no caminho da conquista – verídica – da seleção alemã da Copa de 1954, na Suíça. Combinando um emocionante drama familiar com episódios reais que serem como pano de fundo para a ação, temos aqui a história de um garoto alucinado pelo esporte bretão. Trata-se do caçula de uma casa sustentada pelo esforço da mãe e dos irmãos mais velhos. A situação muda, porém, quando o pai, afastado desde os tempos da Segunda Guerra Mundial, retorna inesperadamente. Desajeitado e sem saber como restabelecer o contado com os filhos, será protagonista de uma seqüência de conflitos familiares, indo ao ponto de uma quase separação. Mas, pouco antes da tragédia, a redenção acontece, e esta vem na forma do futebol.

O menino tem como ídolo um jogador convocado para a seleção nacional. Este, por sua vez, tem no pequeno fã um amuleto de sorte. Quando esta se afasta durante a competição, o atletaacredita estar diante do fim de sua carreira como esportista. Mas nem tudo está perdido, e a aparição do pequeno amigo, nos braços do pai, em pleno campo de partida suíço, irá alterar o rumo da vitória.Com bom equilíbrio de emoção e melodrama, O Milagre de Berna é uma trama esportista que deve envolver até mesmo aqueles que não são fãs do gênero. O longa de quase duas horas passa sem que olhemos no relógio, tão bem que a seqüência de acontecimentos discorre na tela. Com outros enredos paralelos que ajudam a conquistar a atenção, a projeção acaba por ser bem sucedida, mesmo que sem grande arroubos de imaginação ou soluções muito criativas.

Produzido na Alemanha em 2003, foi premiado em diversos festivais ao redor do mundo, como em São Francisco (EUA) e em Locarno (Suíça), além de ter ganho os principais reconhecimentos cinematográficos do ano em seu país de origem, como o BavarianFilmAwards, o GermanFilmAwards e o Golden ScreenGermany. Típico de uma cinematografia não tão tradicional, que produz poucos filmes a cada ano e acaba exagerando na percepção dos méritos daqueles que se destacam simplesmente por não correrem muitos riscos e se assumirem literalmente simples, mas competentes. O Milagre de Berna é uma obra que justifica uma eventual curiosidade, desde que sem grandes expectativas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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