Crítica
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Sinopse
Além de sócios, Santiago e Eugenio são amigos de longa data. Eugenio desaparece, mas Santiago apenas começa a entender a gravidade do acontecido quando Laura, a esposa do amigo, o procura desesperada. Juntos eles partem ao Brasil para tentar desvendar os motivos do sumiço de Eugenio.
Crítica
A sensibilidade de Daniel Burman para maximizar pequenos dramas não é novidade. Desde Un crisantemo estalla en cinco esquinas (1998) a Ninho Vazio (2008) que a filmografia do diretor argentino tem funcionado como lupa a maximizar as questões familiares e do cotidiano. Como era de se esperar, O Mistério da Felicidade não representa qualquer mudança temática ou sinal de novo encaminhamento. A classe média novamente serve como núcleo social dos personagens e acaba como matéria-prima para desenvolver as questões do enredo. No caso, temos a dupla de sócios e amigos de longa data Santiago (Guillermo Francella) e Eugênio (Fabián Arenillas). Após receberem a proposta para vender a loja que mantêm, o segundo desaparece. A situação aproxima os abandonados – a esposa Laura (Inés Estévez) e o sócio – ambos em busca do paradeiro dele.
Se não há novidade temática no trabalho de Burman, chama a atenção a mudança na proposta estética. Antes no registro do realismo e com uma abordagem íntima, o diretor tem levado às telas um cinema cada vez mais popular. Para isso, sacrificou o humor – não mais irônico e sensível, mas bonachão – e, em parte, a construção da emoção. As cenas iniciais, com o propósito de marcar a amizade quase “clonada” de Eugênio e Santiago, por exemplo, tem no tom, no manejo e na insistência da repetição a dignidade de um comercial barato. A preguiça com que os primeiros momentos exploram a trama, buscando cativar o espectador de uma maneira instantânea, como o abrir de uma história de folhetim, poderia ter levado o filme a um desastre.
Por sorte, Burman é talentoso o suficiente para controlar os deslizes de O Mistério da Felicidade. A partir da abertura, o drama torna-se interessante por realizar aquilo que o diretor faz de melhor – construir e dar voz aos personagens. Sobreviventes à mudança de estilo, os diálogos são o ponto alto da trama, assim como as ótimas atuações de Francella e Estévez. A união enfrenta a forma instável – o excesso de slow motion, por exemplo, é um recurso desnecessário usado com a dispersão de uma criança – e consegue solidificar a psicologia dos personagens.
A relação crescente de Laura e Santiago, que superam o momento inicial de inimizade e desavenças em uma trajetória de revelações, funciona além do esperado. É dela que vemos emergir o íntimo das relações humanas. Desta vez, porém, a tensão existencial é substituída por uma reconciliação, pois a experiência leva à profundidade ou à leveza. A do cinema de Burman, no caso, parece ter se decidido por esta.
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