Crítica
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Sinopse
Jenn percebe que está completamente sozinha numa inóspita ilha tropical. Não lhe resta alternativa, a não ser tentar sobreviver enquanto qualquer resgate não chega. Mas, uma força mística passa a lhe assombrar diariamente.
Crítica
Uma garota acorda na beira de uma praia. Metade do seu corpo ainda está submerso na água, sendo banhado por ondas que vem e vão. Quando se dá por si, olha para os lados e nada encontra, além de uma areia quase branca, uma mata verde em sua frente e o mar azul atrás de si. Ela está machucada, mas não de modo grave: bem diferente do rapaz ao seu lado, ferido por um recife e com um sangramento que parece não ter fim. Tanto é que acaba morrendo em seguida, e ela fica sozinha. Quanto ao espectador, esse permanece na mais completa ignorância. Não sabe ao certo quem é essa moça, nem o que aconteceu com ela e quais seus planos a partir de agora. Para piorar, há um sentimento de ameaça cada vez mais próximo. O lugar que ela agora se encontra certamente já foi cenário de outras tragédias, e os indícios não tardarão a aparecer. Em O Mistério da Ilha, muito pouco é dito, e quase nada é explicado. E essa é justamente a força desse pequeno, porém poderoso, filme.
Tem-se aqui um título que merece uma atenção diferenciada desde o começo graças à presença do produtor Jason Blum nos créditos. Para quem não ligou o nome aos trabalhos que realizou nos últimos anos, é bom lembrar que ele conta – ao menos até o momento – com três indicações ao Oscar, além de ser responsável por novas sagas de terror, como Atividade Paranormal, Uma Noite de Crime e Sobrenatural, por exemplo. Portanto, é de se esperar que o segredo a ser revelado deverá ser não apenas assustador – no sentido de causar sustos – mas também perturbador – na sensação de provocar questionamentos na audiência. Que lugar é esse? Quais os perigos que este lugar paradisíaco pode esconder? E como alguém tão jovem, como a protagonista (e não vamos esquecer do amigo recém falecido), pode parar lá, literalmente com uma mão na frente e outra atrás, sem saber de onde veio e nem para onde deveria ir?
No filme de J.D. Dillard (de séries como The Outsider, 2020, e a nova versão de The Twilight Zone, 2020), apenas parte dessas dúvidas serão respondidas – e muitas delas, não da forma como se poderia esperar. Uma coisa, no entanto, pode ser dita, ao menos para aqueles que não se fazem de rogado diante de um ou outro spoiler: este é um filme de monstro. Há uma criatura marinha que sai de um buraco do fundo do oceano todas as noites, e até o litoral se direciona em busca de alimento. Pode ser um pequeno animal, uma presa desprevenida, ou mesmo um corpo humano deixado pela metade. Uma vez ciente disso, ela precisará se esconder, e mais do que isso, descobrir como fugir dali. No dia seguinte, quando uma boia se aproxima da costa e outros dois conhecidos surgem a bordo – o namorado (Emory Cohen, de Brooklin, 2015) e a melhor amiga (Hanna Mangan Lawrence, de Pelo Direito de Ser Feliz, 2018) – descobrimos que seu nome é Jenn (vivida por Kiersey Clemons, de Além da Morte, 2017). Ela precisa convencê-los da ameaça que os espera à noite. Uma tarefa, como se pode imaginar, nada fácil.
Aos poucos a situação vai se definindo, e apesar dos recém-chegados, o embate é e será, de forma definitiva, entre a bela e a fera. A alusão não é gratuita. Nessa Lagoa Azul aterrorizante, na qual é proibido cair no sono, pois o bicho-papão está à espreita e pronto para engolir aquela que com ele sonha, tem-se uma diva desprotegida que precisa lidar com esse King Kong aquático. Aquele é terreno dele, ela é que está invadindo. Mas nenhum dos dois está disposto a ceder. Ainda que a atração seja mútua, não há intenção em seduzir, nem mesmo em conquistar: o que cada um quer é destruir, apesar de toda admiração e encantamento que possa existir entre eles. É uma Forma da Água invertida. São dois lados da mesma moeda. Estão ligados, e cortar esse laço que os une será tão traumático, quanto libertador. Somente um permanecerá em pé. E o que cair, não terá outro desfecho senão o fim irreversível.
Ela parece ser apenas a mocinha. Mas está longe de ser indefesa. Aquele que a chama de ‘querida’, não faz ideia do que ela é capaz. O medo está presente, mas enquanto uns se apequenam, ela cresce, se agiganta a ponto de ficar pronta para enfrentar até mesmo aquele que sempre caçou, e nunca antes havia sido caçado. Kiersey Clemons entrega um trabalho maiúsculo em O Mistério da Ilha, em uma performance comprometida e difícil, absolutamente física – há pouquíssimos diálogos durante todo o filme – mas também de muita intensidade e tensão. Nos ombros de alguém menos interessado e interessante, o resultado poderia ser catastrófico. Mas, felizmente, é o contrário que acontece. Jason Blum acerta mais uma vez, em uma aposta arriscada, que talvez peque pelo final abrupto, pelas tantas portas abertas e poucas atendidas, mas de grande alcance. Quando tudo é sugerido, o imaginado tem muito mais poder. No instante em que o segredo é exposto, a razão passa a valer, e o temor se esmaece. Sem prometer além do que é capaz, termina por atingir mais do que o esperado. Uma fórmula difícil de dar errada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 7 |
Esse tinha tudo para ser um bom filme, porém a história fica sem explicação ou seja péssimo.