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Crítica


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Sinopse

Abandonada na escadaria de mosteiro no século 17, uma criança espanhola cresce em meio aos religiosos e se torna um importante propagador da fé. Na medida em que sua fama cresce, os pares começam a se sentir incomodados.

Crítica

O melhor do clichê é quando ele é bem usado no cinema. E desde que a sétima arte surgiu, filmes que abordam o pecado da carne sob a ótica de devotos à religião tendem a causar tédio ou surpreender do lado de cá da tela. No francês O Monge (2011), de Dominik Moll, isto acontece de forma irregular, deixando o espectador ora intrigado, ora irritado com a história. Adaptação de um conto gótico escrito por Matthew G. Lewis em 1796, a trama se passa na Espanha do século XVII, onde o frei Ambrósio (Vincent Cassel) é um dos mais famosos pregadores da Ordem dos Capuchinhos da região. Ele foi abandonado em frente ao mosteiro quando bebê, cresceu entre as lições católicas e agora é respeitado e invejado por seus colegas pelo encantamento que causa na população local, que sempre o procura para confissões, por mais escandalosas que elas sejam. O longa faz questão de ressaltar este “poder” do religioso na cena inicial, quando um pedófilo confessa ao monge em questão que sempre se deita com sua sobrinha pequena. O pecador questiona se Ambrósio está acima de todos, se nunca cometeu nenhum pecado, mas não recebe nenhuma resposta. Porém, é esta questão que conduz a narrativa nos seus mais de noventa minutos.

A religiosidade e a fé do frei são colocadas em xeque quando Valerio, um jovem que supostamente teve o rosto muito ferido e só pode andar com uma máscara para se proteger, chega ao refúgio monástico. Apesar da maioria não querer aceitar o garoto, Ambrósio acolhe o rapaz. Na verdade ele é uma garota refugiada (Déborah François) e é a partir da descoberta do sexo da menina que começam as tentações de Ambrósio, que parece reprimir tanto seus desejos que está sempre tendo rompantes de dor de cabeça. Ao mesmo tempo, recebe o pedido da jovem Antonia (Joséphine Japy), que quer aliviar o sofrimento da mãe Elvire (Catherine Mouchet) com as fortes palavras do frei. O problema é que Antonia pode ser mais uma tentação que o religioso não quer assumir. O jogo de fé contra tentação é representado de forma muito sutil no início do filme e vai tomando formas mais grotescas no decorrer da trama. Ambrósio passa boa parte da produção tendo sonhos e visões com uma mulher vestida de vermelho que ele nunca consegue tocar. A cor da roupa pode remeter ao pecado original, à maçã que o frei tem medo de morder e se deixar levar por uma vida que não conhece fora do recluso mosteiro. Quando o personagem de Cassel é picado por um inseto e Valerio chupa o veneno de sua mão, ele começa a ter alucinações eróticas com a menina, para logo após surgir um tabu ainda mais intenso, o incesto.

Um dos grandes problemas é querer atribuir ao sexo oposto a culpa da mudança de personalidade de Ambrósio. São as mulheres que o levam “para o mau caminho” e o fazem cair em desgraça perante a sociedade. Este talvez seja o clichê mais absurdo, ainda mais se levarmos em conta que, por mais que na época o sexo pudesse ser visto desta maneira, hoje em dia a discussão acerca da história do pecado remete a outras questões que poderiam ter sido abordadas em O Monge. Não era necessário fazer esta guerra dos sexos. O final, que pretende ser impactante e surpreendente, acaba sendo mais moralista e sem graça, o que estraga toda a questão (que já é duvidosa) colocada no filme. Por outro lado, a direção de arte e o figurino merecem aplausos pela reconstituição de época. A atmosfera gótica remete a uma inspiração no expressionismo alemão, principalmente por uma das cenas iniciais, em que o gigante mosteiro é retratado à noite de uma forma fantástica.

Com um elenco eficiente, quem se destaca é o protagonista. Cassel faz de seu frei um personagem intenso em sentimentos e que vai alterando sua personalidade numa rica construção. De início é o religioso fervoroso e sisudo, que aos poucos se transforma em um homem tentado pelos prazeres da carne e que não consegue mais esconder a sua vontade de dar vazão às suas necessidades sexuais. Essa mudança gradual é retratada de forma sutil pelo ator. O Monge acaba sendo um interessante estudo de personagem, mas que no fim deixa mais perguntas do que respostas acerca do destino final de Ambrósio, por mais evidente que possa parecer. Longe de ser um melhores filmes do ano, porém deve ser conferido por quem ainda acredita que o tema possa trazer uma nova abordagem.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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CríticoNota
Matheus Bonez
5
Alex Gonçalves
5
MÉDIA
5

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