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Crítica


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Sinopse

A família Donahue se dedica a gerações ao mundo dos espetáculos, caminho almejado por dois irmãos, enquanto o terceiro deseja ser padre.

Crítica

Irving Berlin é um dos maiores compositores da música norte-americana. Canções imortais, como God Bless America e Cheek to Cheek, fizeram sua fama e sucesso. Contabilizou, ao todo, 9 indicações ao Oscar, ganhando por Melhor Canção em Duas Semanas de Prazer (1942), pela bela e comovente White Christmas. Poucos dos seus musicais, no entanto, receberam adaptações cinematográficas dignas do seu potencial. E um bom exemplo disso é esse O Mundo da Fantasia, título nacional inapropriado para a canção-tema There’s no business like show business! Foram tantas mudanças em relação ao original dos palcos, diversos interesses contraditórios em sua realização e objetivos equivocados que o que se tem como resultado é um trabalho irregular, com boas canções e interpretações muito soltas, sem um equilíbrio que colabore no balanço da obra. É curioso, e nada mais.

Elaborado à princípio como um veículo para a atriz da Broadway Ethel Merman, o filme sofreu um desvio do seu curso devido a uma imposição dos Estúdios Fox, responsável pela produção: Marilyn Monroe, sua celebridade mais rentável na época, precisava estar no elenco. Nem a própria Monroe tinha interesse no projeto, e só o aceitou porque ele foi colocado como condição para que, após o seu término, ela pudesse protagonizar O Pecado Mora ao Lado, papel que de fato almejava. Para atender tantos pedidos, foi criado uma personagem especialmente para a loira, um papel coadjuvante que, durante o processo, foi adquirindo outras proporções, a ponto de eclipsar inclusive os protagonistas originais. Esse é o principal motivo da irregularidade da trama: cada vez que Marilyn entra em cena sentimos um desvio do enredo principal, e esse casamento forçado não funciona de forma alguma.

O Mundo da Fantasia se apresenta como a história da família Donahue, grupo de artistas de grande sucesso nos palcos americanos. O que começou com o casal Molly (Ethel) e Terry (Dan Dailey), com o passar dos anos ficou conhecido como Os Cinco Donahue, pois a eles se juntam os três filhos: Tim (Donald O’Connor, já famoso com o clássico Cantando na Chuva, 1952), Katy (Mitzy Gaynor) e Steve (Johnnie Ray, que era surdo, mas disfarça bem essa deficiência). Dos tempos de abundância até a crise do final dos anos 1920, a luta pela reconquista do estrelato e os destaques individuais de cada um dos descendentes, é um filme que encanta mais nos números musicais do que durante os embates dramáticos. Marilyn aparece como a jovem e obstinada atriz que deseja fazer sucesso por conta própria e que, é claro, acaba virando a cabeça do rapaz mais velho (O’Connor), que fica perdidamente apaixonado por ela. Se busca de toda forma harmonizar a presença da novata ao lado da família, mas nem no número final, quando os seis cantam em conjunto, a união soa harmônica ou natural.

Indicado a 3 Oscars – Melhor Roteiro, Trilha Sonora e Figurinos – O Mundo da Fantasia não está à altura nem do talento de Irving Berlin e muito menos da popularidade de Marilyn Monroe. Serve, no entanto, para oferecer uma nova visão da estrela, longe da figura frágil e inocente que a eternizou. Aqui ela luta pelo que quer e não se deixa ser feita de boba, resistindo até o último momento em ter que optar entre a carreira ou o coração. Com direção de Walter Lang (O Rei e Eu, 1956), é um filme indicado somente aos curiosos ou aos fãs mais devotos – tanto do gênero musical quanto da musa que se recusa a abandonar o imaginário pop.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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