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Sinopse

Andy considerado é um inovador e enigmático comediante. Arrancando gargalhadas do público, entre altos e baixos, vai se tornar o gênio da comédia americana.

Crítica

Andy Kaufman foi um dos mais controversos nomes da comédia norte-americana. Alcançou fama com suas participações no Saturday Night Live e na série Táxi, mas nunca quis se acomodar como um comediante comum. Dentre suas escolhas pouco ortodoxas, encarnar um cantor irascível chamado Tony Clifton e agitar mulheres para que elas servissem de adversárias em lutas greco-romanas foi apenas algumas delas. Falecido em 1984, Kaufman virou referência para diversos comediantes – dentre eles, Jim Carrey. No final da década de 1990, a vida do finado humorista serviria de base para uma cinebiografia dirigida pelo cultuado diretor de Um Estranho no Ninho (1975) e Amadeus (1984), Milos Forman. E o astro, recém-vencedor do Globo de Ouro por O Show de Truman (1998), parecia a escolha correta para viver Kaufman na tela. Assim, surgia O Mundo de Andy.

Como mostrado no documentário Jim & Andy (2017), os bastidores do longa-metragem foram conturbados, com Carrey vivendo Andy Kaufman (e Tony Clifton) dentro e fora dos sets. Isso se mostrou um pesadelo aos colegas de elenco e ao diretor Milos Forman, mas também resultou numa das performances mais interessantes do astro naquela década. O Oscar ter lhe virado as costas foi uma das grandes injustiças da época, com o Globo de Ouro, ao menos, lhe entregando seu segundo prêmio, bem como uma indicação à estatueta do Sindicato dos Atores.

Na trama, assinada para Scott Alexander e Larry Karaszewski, acompanhamos a trajetória de Andy Kaufman (Carrey), passando rapidamente por sua infância e já chegando aos seus primeiros dias como performer de stand-up. Com um número pouco ortodoxo, basicamente fazendo lip sync de um disco do Super Mouse, Kaufman confundia a plateia, que nunca sabia direito o que sentir olhando seu set. Quem gostou muito do que viu foi o empresário George Shapiro (Danny DeVito), que se ofereceu para representá-lo. Foi assim que surgiram os papéis em Taxi e no SNL, além de outros trabalhos. Errático, Kaufman adorava fazer pegadinhas com seu público, obtendo auxílio de seu amigo e parceiro Bob Zmuda (Paul Giamatti), que ajudava nas piadas. Tony Clifton surgiu da parceria entre os dois, por exemplo. O filme conta essa história, dando destaque às brigas do comediante com o lutador Jerry Lawler (interpretado por ele mesmo), o namoro com Lynne Margulies (Courtney Love) e suas demais pegadinhas, até a sua prematura morte em 1984.

O Mundo de Andy tem o espírito do seu retratado. O longa já começa tentando pregar uma peça no público, avisando que o filme seria (muito) encurtado – encerrando nos primeiros minutos, com direito aos créditos finais subindo na tela. Como qualquer biografia, muitos detalhes da vida pessoal do comediante foram modificados ou limados – a filha que Andy teve, por exemplo, e que nunca conheceu o pai é sumariamente descartada da história, bem como as relações amorosas que Kaufman viveu, com exceção de Lynne.

A recriação de época é fantástica e Milos Forman se mostra minucioso ao remontar os sets de Taxi, bem como ao reunir o elenco da série original. Temos Carol Kane, Jeff Conaway, Christopher Lloyd, Marilu Henner e Judd Hirsch retornando aos seus papéis. Curiosamente, um dos poucos a não retornar para seu personagem foi Danny DeVito, que vive aqui o empresário George Shapiro, numa performance cheia de carisma. Por falar em performance, o elenco como um todo é excepcional – com o lógico destaque para Jim Carrey e sua interpretação sobrenatural de Andy Kaufman. O próprio ator considera aquele filme algo extraordinário – como se Andy tivesse voltado para atuar em seu próprio filme.

Com a inesquecível música do R.E.M. Man on the Moon (do disco Automatic for the People, de 1992) e com The Great Beyond tendo sido composta especialmente para o filme, O Mundo de Andy é um drama sensível sobre um dos artistas mais controversos da TV norte-americana. Não levou as pessoas ao cinema, infelizmente, se transformando em um dos primeiros fracassos de bilheteria da carreira de Jim Carrey. Como acontece várias vezes, a falta de sucesso monetário não retira em nada a qualidade artística deste belo longa-metragem, que tem tudo para ser descoberto agora com o documentário lançado pela Netflix, falando dos seus agitados bastidores.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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