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Sinopse

Quatro anos após a catástrofe de Jurassic Park, numa ilha próxima, alguns dinossauros sobreviveram secretamente. Mas agora existe uma ameaça maior, um plano para capturá-los e trazê-los para o continente. John Hammond, que perdeu o controle de sua empresa InGen, vislumbra uma chance de redimir seus erros e envia uma expedição, liderada por Ian Malcolm, para chegar à ilha antes dos mercenários. Os dois grupos se encontram e, em meio a extremo perigo, unem-se para sobreviver, numa corrida contra o tempo.

Crítica

Steven Spielberg nunca foi um cineasta muito afeito a realizar sequências. Com a rara exceção da saga Indiana Jones, recusou propostas de continuações para Tubarão (1975) – que ainda assim foram feitas, sem seu envolvimento – e E.T.: O Extraterrestre (1982) – proposta, felizmente, nunca levada adiante – por exemplo. Mas quando se deparou com o maior sucesso comercial de toda a sua carreira – Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993), longa que sozinho arrecadou quase US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo – revisitar aquele universo era inevitável. E mesmo que tenha demonstrado uma resistência inicial, quatro anos após o primeiro capítulo chegou aos cinemas O Mundo Perdido: Jurassic Park, obra frustrante em diversos aspectos, ainda que competente naquilo ao qual, de fato, se propunha: é entretenimento do começo ao fim, sem exigir muito em troca.

O roteirista David Koepp, enquanto escrevia a adaptação do romance de Michael Crichton, afirma ter mantido sempre ao seu lado a carta de um fã que, apesar de ter admirado o filme anterior, reclamava que “os dinossauros demoravam muito a aparecer”. Pois bem, dessa vez eles demoram quase nada – já no prólogo vemos uma menina ser atacada por dezenas de pequenos répteis famintos. Mas não há motivo para excitação – afinal, estamos em um filme de Spielberg – pois a garota apenas fica machucada, como um outro personagem faz questão de esclarecer em seguida. E ainda que haja algum argumento-desculpa bastante esfarrapado, o que se tem aqui é, basicamente, uma repetição daquilo visto antes: homens e mulheres despreparados e inconsequentes fugindo para salvar seus pescoços do ataque de um bando de dinossauros irritados.

De Jurassic Park, apenas Jeff Goldblum – e Richard Attenborough, em uma rápida participação – aceitou retornar ao elenco principal. Sam Neill e Laura Dern se resguardaram para Jurassic Park III (2001), um filme que, por ambicionar menos, até consegue mais do que esse aqui. Após a desastrosa experiência do Parque dos Dinossauros vista anteriormente, os animais até então extintos acabaram soltos e deixados para viver isolados em uma ilha. Tudo começa a mudar quando uma pesquisadora (Julianne Moore, que afirmou ter aceito esse projeto para pagar os custos do divórcio pelo qual estava passando na época) vai até lá para estudar os seres pré-históricos, motivando a ida em seguida do namorado, o matemático Ian Malcolm (Goldblum) e um fotógrafo (Vince Vaughn, em um dos seus primeiros trabalhos). Ao mesmo tempo, o sobrinho do milionário que criou aquele lugar também decide visitar o lugar, porém acompanhado de uma equipe militar e disposto a caçar as feras para a construção de um novo parque de atrações, muito mais violento e selvagem.

Não é preciso ter muita imaginação para adivinhar que estes planos logo darão errado e será um salve-se quem puder. Neste ponto, o filme se resume a, basicamente, três boas sequências: o ataque dos Tiranossauros Rex em busca do filhote, com a queda do ônibus de pesquisa pelo penhasco, deixando os protagonistas pendurados por uma corda; Malcolm, a filha e a namorada lutando para escapar da perseguição dos velociraptores; e, já mais para o fim, o T-Rex sozinho invadindo San Diego, após ser levado até lá pelo ganancioso chefe da expedição. Essa última passagem, particularmente, é uma homenagem ao clássico King Kong (1933), e representa, em última instância, a única verdadeira novidade de O Mundo Perdido – ironicamente, ela acontece quase se sai do lugar anunciado no título. Este, aliás, é outra referência assumida que o filme pega “emprestada”, uma vez que foi inspirado no romance homônimo de Arthur Conan Doyle.

Durante as filmagens, Spielberg afirmou posteriormente ter ficado tão deprimido que quase abandonou o trabalho, repassando-o para Joe Johnston (que acabou dirigindo o terceiro episódio). Para o diretor, o que estava fazendo não representava desafio, e por isso não fazia sentido sua presença. Tanto que nas futuras sequências seu envolvimento foi apenas como produtor, partindo para outros projetos. O Mundo Perdido: Jurassic Park chegou a ser indicado ao Oscar de Efeitos Especiais – que hoje, vinte anos depois, soam ridículos – mas o que chamou mais atenção foram as três indicações que recebeu nas Framboesas de Ouro: Pior Sequência, Pior Roteiro e Pior Exemplo de Desrespeito à Vida Humana ou à Propriedade Privada (ou seja, pior desculpa para gastos exagerados e sem sentido). Tudo bem que Velocidade Máxima 2 (1997), O Mensageiro (1997) e Con Air: A Rota da Fuga (1997) – os respectivos ‘premiados’ – sejam mesmo ruins de doer, mas caso Spielberg tivesse levado uma dessas “glórias” não teria sido uma injustiça tão grande assim.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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