O Natal do Bruno Aleixo
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João Moreira, Pedro Santo
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O Natal do Bruno Aleixo
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2022
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Portugal
Crítica
Leitores
Sinopse
Bruno Aleixo odeia o Natal com todas as suas forças. A época que para muitos significa festas e reuniões familiares, para ele traz lembranças dolorosas, como ceias péssimas e presentes de muito mau gosto. Será que esse coração endurecido será tocado pelo espírito de Natal?
Crítica
Personagem muito popular da televisão portuguesa, Bruno Aleixo está de volta às telonas depois da sua estreia cinematográfica em O Filme do Bruno Aleixo (2019). Mas, desta vez, a trama, ora vejam, é natalina. Ou quase isso. Bruno está viajando (e resmungando) com seu amigo Homem do Bussaco quando um acidente automobilístico o coloca em estado de coma a poucos dias da comemoração da festa simbolizada pelo Papai Noel. Pegando emprestada a premissa de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, os diretores (e criadores do personagem) João Moreira e Pedro Santo propõem uma viagem pelos natais ruins desse protagonista que parece estar em sono profundo como estratégia inconsciente para escapar de outra comemoração falida. Então, Bruno Aleixo se torna um equivalente Ewok de Ebenezer Scrooge, transitando desacordado pelas lembranças mais desagradáveis dos natais passados em família ou ao lado dos amigos que têm a suas parcelas de parentes inconvenientes. O humor corrosivo do universo de O Natal do Bruno Aleixo integra de modo afiado/cortante o protagonista semelhante a um cão Yorkshire Terrier e coadjuvantes como o alvo busto de Napoleão Bonaparte (Busto), a action figure da série O Homem de Seis Milhões de Dólares (1974-1978) (Homem do Bussaco), o Mostro da Lagoa Negra (Renato Alexandre), o médico invisível (Dr. Ribeiro) e o porteiro inocente (Nelson).
A fatura que começa com os personagens bizarros unidos em torno de discussões cotidianas é potencializada pelo texto afiado que coloca tiradas impagáveis na boca dessas figuras estranhas. Bruno Aleixo transita por suas lembranças animadas revivendo traumas com os quais não é difícil se identificar. Afinal de contas, quem nunca ficou pistola na infância por ter ganhado roupas, e outras coisas que não brinquedos, dos parentes no Natal? Ao recordar desse tempo, o protagonista faz uma viagem ao Brasil para enfatizar suas raízes latino-americanas – ele é filho de pai português e mãe brasileira. O diálogo entre Bruno e a priminha latina que não entende o acento europeu da língua portuguesa carrega um comentário ácido a respeito das diferenças culturais enxergadas como motores de mais confusões familiares. Enquanto os amigos de Bruno ficam tentando reanimá-lo ao redor da cama de hospital, ele segue mergulhado em suas memórias natalinas mais traumáticas. Elas expõem a rixa com o primo adolescente que morre de medo de ser desmascarado como fumante, remontam à avó centenária que tendia a ficar ao lado da netinha brasileira e colocar a culpa das travessuras no netinho português, entre outras coisas. No entanto, um traço interessante é que João Moreira e Pedro Santo não colocam Bruno Aleixo no centro como vítima traumatizada, mas o percebem como parte ativa do caos natalino.
Seria uma espécie de traição à natureza ácida de Bruno Aleixo encará-lo como alguém que ficou amargo e ranzinza por conta das inúmeras agruras natalinas. João Moreira e Pedro Santo fazem do protagonista acamado um símbolo da grande família luso-brasileira em situações (a natalina) nas quais as distâncias são encurtadas e pessoas que compartilham sangue/sobrenome precisam agir como se fossem íntimas o ano inteiro – sendo que cada uma tem o próprio núcleo familiar a ser apaziguado. Seguindo a estrutura de Um Conto de Natal, os roteiristas partem da visão de Bruno na infância, na citada visita ao Brasil em que se torna vítima da tal priminha encapetada – a chantagista emocional que o prejudica –, mas rapidamente deslocam Bruno do papel de vítima. Sim, pois a ameaça ao primo, a de revelar a todos o seu tabagismo precoce, faz de Bruno o sacana chantagista da vez. Ele também é visto escapando de um Natal com os seus por conta da malsucedida importação do Jogo do Bicho brasileiro a Portugal – trocando animais por signos para “não dar muito na cara” –, e tendo de lidar com as peculiaridades da família de sua então esposa Cristina. O mais interessante é a forma como os realizadores expõe as dores e as delícias (bem mais as dores) de conviver com parentes numa época do ano em que somos convocados a agir de modo ecumênico. Cada gesto pode ocasionar um conflito e uma cara feia.
Lançado às vésperas do Natal de 2002 em Portugal, O Natal do Bruno Aleixo chega ao Brasil em janeiro de 2023, ou seja, algumas semanas após o período natalino. Essa opção da distribuidora é interessante, pois parece mais uma das peças pregadas pelo sacana do Bruno Aleixo. Assim, ele surge por aqui para falar de Natal quando o assunto está saturado depois de um mês predominantemente verde e vermelho cheio de conversas sobre ceias, panetones, amigos ocultos, arroz com passas e planos para juntar pequenos grupos em torno da mesa de famílias enormes. O Natal do Bruno Aleixo nos permite conhecer um pouco melhor a biografia do protagonista, pois passamos pela experiência brasileira da infância, testemunhamos a interação belicosa com os parentes da ex-esposa (de quebra, percebemos como era o relacionamento entre eles). De brinde, temos a sequência na casa do Dr. Ribeiro, em que Bruno Aleixo responde à altura as chateações do tio com a mesma doença de invisibilidade do amigo, mas que ficou opaco em virtude do tratamento experimental nos anos 1960. A escalada de absurdos é típica do personagem maluco, o centro de um universo cheio de coadjuvantes semelhantes no quesito peculiaridade. Estimular o sujeito em coma com histórias natalinas poderia ser terapêutico, mas apenas se o Natal fosse tão feliz e gregário como dita o senso comum demolido por Bruno Aleixo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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