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Sinopse

Passados 10 anos da estreia de A Hora do Pesadelo (1984), a estrela do longa-metragem é atormentada por ligações de alguém com a voz de Freddy Krueger. Será que realmente temos uma força maligna invadindo o mundo real?

Crítica

Para o criador de um personagem, nada pior do que ver ele ser deturpado, subutilizado, vilipendiado. Wes Craven parece ter sofrido isso ao observar seu assustador Freddy Krueger ter virado um arremedo de si mesmo nos demais filmes da série. Depois de ter dirigido o primeiro A Hora do Pesadelo (1985), Craven se recusou a seguir o caminho ordenado pelo estúdio e não teve envolvimento com o segundo filme da série, lançado em 1986, que praticamente renegava diversas das regras impostas pelo primeiro longa – Freddy ataca fora do mundo onírico, por exemplo. Voltou ao personagem no terceiro filme da série, o irregular A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros do Sonhos (1987), apenas como roteirista e, tudo indicava, nunca mais visitaria a rua Elm.

Anos se passaram, o personagem chegou a ganhar um desfecho que se pensava definitivo em A Hora do Pesadelo 6: Pesadelo Final – A Morte de Freddy (1991), mas ainda existia uma história a ser contada – principalmente depois do filme ter estreado com a maior bilheteria de abertura da série. E Wes Craven, pai de Krueger, contaria esta trama. Aplicado, buscou os filmes anteriores, mas simplesmente não conseguiu bolar nada que pudesse seguir a trama das demais produções. Pensou fora da caixa e trouxe um conceito interessante, metalinguístico. E se Freddy Krueger escapasse dos filmes e atacasse o elenco? Desta forma, o diretor poderia ressuscitar personagens do original, como é o caso de Nancy e seu pai, interpretados por Heather Langenkamp e John Saxon, respectivamente. Aqui, no entanto, os atores viveriam eles mesmos, borrando as linhas entre o real e o imaginário. Até Robert Englund, o intérprete do temível Freddy Krueger, apareceria sem a maquiagem. Com esta premissa criativa, Wes Craven estava de volta em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger. E não só ele. O próprio Krueger, combalido com piadas demais nos filmes anteriores, também retornou com sua faceta mais séria.

Na trama, Wes Craven (o próprio) está tendo pesadelos novamente e isso o encoraja a escrever um novo roteiro para seu personagem mais infame. O cineasta pensa em convidar Heather Langenkamp para viver novamente Nancy (sem perceber, aparentemente, que a personagem morreu em um dos filmes anteriores). A atriz, por sua vez, também está tendo pesadelos recorrentes, todos com a figura do seu algoz no cinema. Quando seu marido, o profissional de efeitos visuais Chase (David Newsom) morre em um estranho acidente e o filho do casal, Dylan (Miko Hughes), começa a apresentar um comportamento estranho, Heather passa a acreditar que está sendo assombrada, de alguma forma, pelo vilão Freddy. Mas como fazer com que alguém acredite neste drama, visto que Krueger sempre foi um personagem da ficção?

O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger é, praticamente, um ensaio do que Wes Craven faria logo depois na quadrilogia Pânico. Entendendo como poucos e brincando com as máximas do gênero de horror, o cineasta faz um filme completamente autoconsciente. De bandeja, nos apresenta pretensos bastidores de uma produção e aproveita para retrabalhar até algumas características do seu vilão. Com maquiagem diferente no rosto e com uma nova luva, Robert Englund tem oportunidade de retornar ao papel que o eternizou nos cinemas de forma mais assustadora. Suas frases de efeitos seguem, mas as cenas em que o monstro desfigurado aparece são mais sombrias. Se no longa-metragem anterior tínhamos até uma versão de Krueger dentro de um vídeo game (!), neste, a vontade é trabalhar o personagem de forma mais dark.

Ainda que tenha a prerrogativa de interpretar a si mesma, Heather Langenkamp continua pouco convincente, mesmo que tenha crescido muito nos quase 10 anos que separaram a primeira produção deste filme. De qualquer forma, é interessante vê-la revivendo tangencialmente a personagem do longa-metragem original, fazendo dobradinhas com John Saxon e Robert Englund. Este, inclusive, parece se divertir ao poder surgir em tela sem a maquiagem pesada de Freddy. Sua participação, no entanto, é o máximo da oportunidade perdida, visto que seria ótimo ver Krueger atacando Englund no reino dos sonhos, cena que inexplicavelmente não é incluída no filme.

Com algumas boas cenas oníricas, mas ainda muito aquém do original, O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger é um final acima da média para o personagem, principalmente quando temos contato com os demais filmes da cinessérie. O vilão ainda voltaria aos cinemas no crossover com Jason Voorhees, Freddy vs Jason (2003), e em um remake esquecível, desta vez vivido por Jackie Earle Haley, em 2010. Nenhum conseguiu chegar perto do primeiro pesadelo. Não é de se espantar. O primeiro pesadelo sempre é mais assustador.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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