Crítica


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Sinopse

Repentinamente a Terra parou de realizar seu movimento de rotação, devido a uma força ainda desconhecida que está agindo sobre o planeta. A paralisação traz consequências desastrosas para o planeta, já que proporciona a deterioração do magnetismo da Terra e, consequentemente, também de sua atmosfera. Para tentar descobrir o que está havendo e resolver a crise o geofísico Josh Keyes escala uma equipe com alguns dos mais brilhantes cientistas do planeta, que tem por missão ir até o núcleo da Terra para reativar a rotação do planeta.

Crítica

Filmes catástrofe são um gênero próprio dentro do cinema hollywoodiano. Desde o primeiro King Kong (1933), passando pelos clássicos Inferno na Torre (1974) e Aeroporto (1970), até os mais recentes como Armageddon (1998) e Guerra dos Mundos (2005), a humanidade está sempre em perigo segundo a visão norte-americana – e é claro, somente eles podem nos salvar! Em O Núcleo: Missão ao Centro da Terra a situação não é diferente, porém ao invés do perigo vir de seres monstruosos, ameaças espaciais ou calamidades humanas, o problema está no interior da própria Terra: o núcleo ao que o título se refere é o do nosso planeta. O que aconteceu é que ele parou de girar, e com isso houve uma desestabilização do campo eletromagnético que nos envolve, causando danos de orientação, o fim da camada de ozônio na atmosfera e outros danos mundiais. Em resumo, se não for feito algo logo, em menos de um ano a vida animal e vegetal estará extinta.

Claro que os americanos nunca são pegos de surpresa. Após uma série impressionante de acasos nada casuais, logo teremos as melhores cabeças do mundo reunidas em busca de uma solução para esse dilema. E o que é decidido? É preciso mandar alguém para o centro da Terra e, uma vez lá, explodir uma sequência de ogivas nucleares na esperança que com o impacto o núcleo volte a girar. Simples, não? Portanto, uma vez formada a tripulação (5 americanos e 1 francês, para deixar as responsabilidades mundiais bem distribuídas), lá vão eles numa nave que mais parece uma gigantesca seringa, rumo ao indescritível.

As explicações científicas são pura perda de tempo. Ninguém que vai ao cinema assistir a este tipo de filme está muito preocupado com isso. Desde que os absurdos não sejam óbvios demais – um dos muitos pecados de O Núcleo, principalmente nas coincidências iniciais – e consigam manter uma aura de mistério e dificuldade no ar, o entretenimento daquele espectador menos exigente estará garantido. O problema aqui é que, por mais benevolente que seja a audiência, a forçação de barra ultrapassa todos os limites de tolerância do gênero.

A maior fragilidade de O Núcleo está no cerne da questão: o roteiro, por demais inverossímil, construído a partir de clichês cansados e bastante óbvios. Outro ponto é a condução da trama, que ficou à cargo de um diretor pouco afeito a temáticas tão explosivas: o geralmente calmo Jon Amiel, o mesmo do drama sonolento Sommersby: O Retorno de um Estranho (1993) e da aventura morna Armadilha (1999). Como imaginado, ele se sai relativamente melhor nas cenas envolvendo os dramas humanos – nada muito elaborado, no entanto – do que nos momentos de maior tensão e pirotecnia. Já o elenco, encabeçado por Aaron Eckhart e pela oscarizada Hilary Swank, parece ser uma reunião de prováveis astros que naufragam em suas intenções por um estrelato maior – são competentes, porém carecem de um carisma maior que possam salvá-los de desastres anunciados como esse. Entre os coadjuvantes, destaque apenas para os geralmente competentes Alfre Woodard e Stanley Tucci, que ao menos se esforçam para atingirem alguma relevância num enredo em que ninguém parece levar muito à sério..

Se O Núcleo: Missão ao Centro da Terra possui algum destaque digno de nota, estes são os efeitos especiais, responsáveis pelos momentos de maior evidência e que, no final das contas, salvem o projeto da mediocridade total. A destruição de Roma durante uma tempestade elétrica, a Golden Gate Bridge de São Francisco sendo literalmente fritada ou o ataque das pombas desnorteadas (numa citação curiosa do clássico Os Pássaros, 1963) em pleno centro de Londres são capazes de prenderem a atenção até do mais desinteressado. No entanto, isso não parece ter sido o bastante: com um orçamento de US$ 60 milhões, arrecadou nas bilheterias norte-americanas pouco mais do que a metade deste valor. É de se lamentar o desperdício dessa tentativa, que buscava renovar as antigas aventuras de Júlio Verne, transfiguradas num legítimo exemplar do popular cinema-pipoca de Hollywood. Porém, ao deixar de lado o básico – uma trama envolvente, um diretor no domínio do seu ofício e atores que entendem o que se espera deles – o resultado mais evidente é o esquecimento imediato.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
4
Francisco Carbone
2
MÉDIA
3

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