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Sinopse

Crítica

A plataforma de petróleo onde Roberto (Rodrigo Lombardi) trabalha é um espaço muito bem aproveitado cinematograficamente por Paulo Sacramento em O Olho e a Faca. A câmera passeia por corredores estreitos, casas de máquinas e demais ambientes dessa engrenagem de metal incrustada no oceano, criando uma dinâmica instigante. Some-se a isso o cuidado com a delineação da rotina laboral e o vislumbre da alternância entre quinzenas embarcado e as subsequentes em terra. Também entra como ativo no conjunto o desenho das relações dos personagens, com destaque para a amizade fraternal do protagonista com Wagner (Roberto Birindelli), além do entrosamento afinado com os demais colegas. Portanto, é promissor o começo deste longa-metragem que ainda instila pitadas de mistério ao longo de observações cotidianas. A recorrência à placa com números de acidentes nas jornadas fatigantes e, adiante, o relato de um episódio traumático, conferem contornos curiosos ao todo.

Após o suspense quanto ao profissional que deveria ser promovido a gerente operacional, com uma demonstração inequívoca do companheirismo de Wagner, Roberto vira chefe e começa a experimentar uma derrocada vertiginosa, conduzida pela mão diretiva pesada que a torna abrupta e muitas vezes forçada. No trabalho, ele passa a ser visto como agente do patrão, cometendo erros crassos, alguns alimentados pela mesquinha articulação interna de poder. O cineasta, contudo, não consegue estabelecer a contento os parâmetros desse jogo de nervos, patinando exatamente no instante de deflagrar a desestabilização do homem ideal para segurar a bronca da administração. Trocando em miúdos, quando é necessário voltar-se à paisagem humana, preterindo ligeiramente a vislumbrada da plataforma, o filme começa uma descida em desabalada carreira rumo a um lugar repleto de passagens destituídas de força dramática, bem como atravessadas por lugares-comuns e inconsistências de várias naturezas.

O Olho e a Faca perde potência quando em terra, ao focar distúrbios familiares comezinhos. Maria Luisa Mendonça, intérprete da esposa de Roberto, é restrita a um par de demonstrações de insatisfação diante das turbulências do marido. A revolta do primogênito, a não comunicação entre o petroleiro e seu pai posteriormente hospitalizado, o caso extraconjugal mencionado com certa dose de moralismo – a danação seria, nesse sentido, uma "punição" à suposta falta de retidão moral –, a ligação com o caçula, tudo acaba caindo na vala do praticamente irrelevante. Participações frugais como a de Débora Nascimento, limitada à performática cena de sexo e a uma em que não consegue se fazer escutar, são sintomáticas da falta de habilidade para criar o popular “feijão com arroz”. É no registro das interações, e de tudo o que as intermedia em boa medida, que o conjunto deixa expostas suas principais fragilidades, conceituais e de mera execução.

As necessárias dublagens, especialmente nas partes filmadas na barulhenta estação de petróleo, nem sempre se encaixam bem, tornando perceptível a técnica e certo artificialismo. O Olho e a Faca entra numa espiral guiada pela desgraça de Roberto, sem, contudo, substanciar tal percurso. As crises parecem levianas, frutos de circunstâncias anteriores, às quais não há pleno acesso. O desmoronamento do outrora proeminente petroleiro passa pelas esferas familiar e profissional, mas é construída de maneira ordinária, sem tônus dramático e desajeitadamente. A ida do protagonista com o filho ao jogo entre Corinthians e Santos é um bom exemplo da recorrência a expedientes descartáveis, sem os quais o conjunto não sofreria prejuízos consideráveis. No que tange especificamente ao elenco, Rodrigo Lombardi bem que tenta oferecer espessura a essa figura torturada pelo cotidiano e acompanhada por um corvo, metáfora deslocada e forçosamente encaixada para representar os tempos de mau agouro. Todavia, seu esforço é insuficiente para salvar o filme de uma incômoda tortuosidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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