Crítica
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Sinopse
Crítica
Talvez o mais curioso a respeito de Do Outro Lado da Dor, longa de estreia na direção de Dan – agora Daniel – Levy, seja o fato desta ser uma história sobre personagens britânicos, em grande parte filmada em Londres. Afinal, está se aqui falando de um dos maiores representantes da indústria cinematográfica... canadense, responsável por nada menos do que nove (quatro exclusivos para ele) Emmys conquistados pela série Schitt’s Creek (2015-2020), um feito e tanto para uma produção do país. Essa mudança de ares pode ser explicada por uma questão financeira – entre os investidores, além da Not a Real Production Company, do próprio Levy, está a Sister, que dois anos antes despertou alguma curiosidade com a série Landscapers (2021), estrelada por Olivia Colman e vencedora de três Baftas. De resto, pouco pode ser percebido de diferente pelos já familiarizados com o senso cômico do realizador. Talvez um pouco mais de honestidade, deixando de lado tiradas sarcáticas em busca de uma investigação mais íntima e, portanto, dolorosa. Pode ser apenas um detalhe, mas felizmente acaba por justificar um olhar atento ao resultado final.
Não há muito a se desenrolar em Do Outro Lado da Dor. Este é um filme mais sobre o antes e o depois, e menos sobre o agora. Até porque o momento a ser vivido pelo protagonista é, como o título adianta, de dor e superação. Mas não no estilo usualmente explorado por histórias do gênero, com enlutados desesperados jogados na cama ou embaixo de cobertas pesadas, recusando convites de amigos e familiares e entregando-se livre ao abandono e à depressão. Pelo contrário, por mais que se imagine que tais situações tenham sido experimentadas por Marc (Levy, mais contido e, por isso, contribuindo numa maior identificação quanto aos dilemas que enfrenta, ampliando a universalidade dos acontecimentos). Afinal, este é um homem que há pouco perdeu seu marido de anos, vítima de um tolo e inesperado acidente de trânsito. O espectador é convidado a vislumbrá-los juntos por poucos instantes, em um breve prólogo antes da tragédia. O que vem a seguir se dá após quase um ano, quando, já superada a falta mais imediata, ele decide abrir o cartão de natal ainda lacrado que fora deixado pelo amante na noite de sua partida.
É neste ponto que a trama foge de uma investigação óbvia e dedicada a percorrer caminhos há muito explorados para oferecer uma guinada, se não surpreendente, ao menos curiosa o bastante para que a audiência siga atenta. Na mensagem derradeira, Oliver (Luke Evans, em participação quase especial) anuncia que está envolvido com uma outra pessoa e que, mesmo não desejando se separar, acredita que os dois precisam “conversar” a respeito da novidade. Por mais que o relacionamento deles tenha sido “aberto”, uma convenção social na maioria das vezes aceita por um apenas para atender aos anseios do outro (o que fica claro em um diálogo posterior), a revelação toma Marc de assalto, levando-o a questionar muito do experimentado por ele, tanto nos últimos meses (teria sido aquele um luto real?), como no período em que viveram juntos (teria havido amor de fato entre eles?). Ainda sem saber o que fazer, vem na sequência a notícia de que há o aluguel de um apartamento em Paris, supostamente usado por Oliver para se encontrar com o amante. E é para a capital francesa que o sobrevivente, enfim, terá que se dirigir.
Mas Marc não está sozinho nessa empreitada. Eis, portanto, um diferencial na abordagem da perda e da reconstrução desenhada por Levy enquanto diretor e roteirista: sua ideia é de um processo coletivo, por mais que certas individualidades tenham que ser respeitadas de tempos em tempos. Assim, com ele irão os dois melhores amigos, figuras que também possuem seus próprios desapegos a serem vencidos. Enquanto Sophia (uma ótima Ruth Negga, leve e extrovertida, oferecendo um retrato preciso de uma Sra. Dalloway sempre com muito a fazer para esconder o vazio que traz consigo) há pouco se separou do namorado, Thomas (Himesh Patel, de Yesterday, 2019) carrega consigo uma inabilidade em lidar com novos relacionamentos que evidenciam um trauma passado, uma ligação que apenas um corte radical poderá permitir que algo de novo surja no mesmo espaço. O trio, como geralmente acontece em filmes de viagens, irão experimentar os sabores locais – os três, de um jeito ou de outro, irão se envolver com desconhecidos atraentes o bastante para que possam esquecer as cicatrizes que há muito carregam. Marc, em especial, irá encontrar no belo Theo (Arnaud Valois, sexy e sério em iguais medidas) o apoio necessário não apenas para esquecer a mágoa recém descoberta, mas também para se preparar para quais passos precisa dar a seguir.
De certa forma, Do Outro Lado da Dor é mais sobre os sentimentos que unem – e afastam, ainda que temporariamente (em alguns casos) – estes personagens, e menos sobre o que eles fazem (ou deixam de) uns com os outros. Algumas decisões podem soar desnecessárias – como a introdução do amante francês (que, na verdade, é alemão) – e outras, se no tecido dramático podem soar deslocadas, ao menos proporcionam passagens de forte carga emotiva (como os diálogos finais de Marc com o pai de Oliver, um afável tipo vivido pelo geralmente desprezível David Bradley – muitos devem lembrar dele na série Game of Thrones, 2011-2017, ou na saga Harry Potter – ou com a agente interpretada pela veterana Celia Imrie, que deixa de lado sua habitual euforia vista em longas como O Exótico Hotel Marigold, 2011, ou Garotas do Calendário, 2003, para oferecer uma visão profunda, ainda que fugaz, da despedida amorosa). São por momentos como esses, e todos aqueles levados adiante ao lado dos que se mostram fortes quanto tudo que se tem a oferecer é tristeza e desamparo, que essa investigação nunca leve, mas por vezes necessária, encontra sua razão de ser.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Maria Caú | 7 |
Daniel Oliveira | 5 |
MÉDIA | 6 |
vi o filme... nada é consistente! dialogos pessimos, cliches parisienses, roteiro incrivelmente ruim! nao entendo uma critica tao condescendente...