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Crítica


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Sinopse

Aposentada, Regina vive em Copacabana, no Rio de Janeiro. Para afastar a solidão, ela participa de um serviço da polícia denunciando pequenos delitos, geralmente os flagrando de sua janela.

Crítica

O Outro Lado da Rua foi um dos “grandes” filme nacionais de 2004 a chegar aos cinemas. Diários de Motocicleta não contou, pois de brasileiro havia apenas o diretor (Walter Salles) e o editor (Daniel Rezende) – o resto era tudo internacional. Bons filmes também chegaram às telas naquele ano, mas a maioria possuía um “porém”: Narradores de Javé era uma produção de 2003, Onde Anda Você teve uma exibição muito limitada e Sexo, Amor e Traição tinha muita cara de televisão, por exemplo. Nenhum, e por diferentes motivos, foi merecedor de suficiente interesse. Já o trabalho de estreia do diretor Marcos Bernstein, por outro lado, é uma obra que permanece relevante com o passar dos anos, sempre causando boas memórias. Pois qualidades suficientes para isso não lhe faltam.

Bernstein, também autor do roteiro (no seu currículo está, entre outros, a co-autoria de Central do Brasil, 1998), contou com uma presença de grande força: a musa do seu filme mais famoso, Fernanda Montenegro. E Fernandona é a dona de O Outro Lado da Rua. Ela é a protagonista, que conduz a ação e na qual o desenvolvimento da história está centrado. Uma responsabilidade enorme, que a nossa grande dama tira de letra, num desempenho tão bom quanto – senão melhor – ao visto no seu trabalho de maior destaque até hoje (que lhe rendeu, entre outros reconhecimentos, uma indicação ao Oscar como Melhor Atriz).

Dessa vez Fernanda atende pelo codinome de “Branca de Neve”. Ela é uma mulher solitária, que mora sozinha num apartamento em Copacabana, Rio de Janeiro. Para ocupar seus dias, está envolvida num serviço voluntário de espionagem policial para a terceira idade (por mais absurdo que possa parecer, algo semelhante a isso realmente existe). Ou seja, sua grande preocupação é vigiar a vida dos outros, e qualquer suspeita que lhe surja, uma eventual anormalidade, algo estranho ou afim, corre à delegacia para contar o que viu e/ou ficou sabendo no bairro onde mora. Seus problemas começam quando acredita ter presenciado, enquanto bisbilhotava o edifício defronte ao seu através de binóculos, um importante juiz (Raul Cortez) cometer eutanásia na própria esposa através de uma injeção letal. A denúncia é feita, mas revela-se infundada, e o delegado, insatisfeito com o alarme falso, acaba dispensando-a de sua colaboração. Sem se dar por vencida, ela passará a vigiar mais de perto o vizinho, ao ponto de ambos acabarem se conhecendo melhor, envolvendo-se emocionalmente e criando uma confusão da qual ninguém conseguirá sair sem ferir um ou o outro.

O Outro Lado da Rua foi exibido no Festival de Berlim deste ano, numa mostra paralela, de onde saiu vencedor. Foi também o grande vitorioso do CinePE – Festival do Audiovisual, e tem arrebatado diversos prêmios ao redor do mundo, em diferentes ocasiões. Com uma trilha sonora discreta e uma fotografia envolvente, o que vemos na tela é uma obra singular ao discutir com respeito e seriedade assuntos relevantes como a velhice, a solidão e relacionamentos amorosos na terceira idade. Fernanda Montenegro, com seus impressionantes olhos, e Raul Cortez, um ator de uma dignidade singular, são parceiros ideais para a ocasião, oferecendo ao espectador um presente que deve ser degustado aos poucos, mas com muito prazer e paciência, sem pressa ou afobação. É um filme com um ritmo à parte, um senso de humor próprio e uma amostra do quão longe se pode ir quando os talentos envolvidos superam qualquer expectativa.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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