Crítica
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Sinopse
Os Zachary são uma família influente e rica do Texas. Sua aparente tranquilidade é perturbada quando todos descobrem que Rachel, sua filha adotada, é originalmente indígena. A tribo originária da menina exige que ela volte e deixe para trás a vida construída ao longo dos anos.
Crítica
“Eles são humanos como nós, apenas voam mais alto”, se refere a jovem e sonhadora Rachel a um bando de patos, migrando em busca de melhores temperaturas. A frase, que dá o tom exato da personagem, indica também uma condição fundamental para o seu entendimento: a negação sobre a realidade na qual está inserida. Defendida com leveza e a graça habitual de Audrey Hepburn, a heroína é uma das protagonistas de O Passado não Perdoa, filme levado às telas no início dos anos 1960 com muitas boas intenções, mas que resultou em um capítulo menor nas filmografias dos seus principais envolvidos, tanto da atriz quanto do seu parceiro de elenco, Burt Lancaster, ou do diretor John Huston.
A situação vivida por Hepburn em O Passado não Perdoa, apesar do registro dramático, é semelhante àquela enfrentada por Steve Martin no engraçado O Panaca (1979), em que o comediante vivia um rapaz branco que, assim que se torna adulto, é mandado embora de casa para tentar ganhar a vida por conta própria a partir de uma triste revelação: ele é adotado. O humor, no entanto, está no fato de se tratar de uma família de negros, sem que o ingênuo houvesse se dado conta de sua posição enquanto ‘agregado’. Pois o que acontece nesta adaptação do texto de Alan Le May é que a musa europeia faz o papel de uma índia, criada desde bebê por uma família de brancos, sem nunca ter desconfiado do seu histórico pessoal. Quando a comunidade ao seu redor começa a suspeitar de que há algo de incomum na garota, a polêmica e os conflitos passam a se suceder.
Lancaster faz o irmão mais velho e figura de comando após a morte do pai. A matriarca ganha vez na presença da icônica Lillian Gish, uma das grandes damas do cinema mudo. É ela que carrega o segredo da filha, desconhecido por todos. Mas logo nos primeiros minutos da trama um desconhecido aparece, declamando frases de efeitos que indicam o mistério que paira sobre eles. Indígenas se aproximam em busca da verdade – afinal, se há naquele rancho uma irmã deles, precisam levá-la consigo – e os vizinhos se dividem entre aqueles a favor (poucos) ou contra (muitos) a permanência da jovem. Quando uma tragédia acontece, o caos aumenta rumo ao clímax em que a própria Rachel precisará decidir a quem irá ouvir: ao sangue que corre em suas veias ou aos laços e relações que construiu durante toda sua vida.
John Huston só aceitou embarcar nesse trabalho porque precisava do dinheiro para finalizar a reforma de sua nova mansão. Audrey Hepburn também achou atraente o cachê oferecido, além de ter ficado atraída pela oportunidade de finalmente estrelar em um faroeste. E este era uma dos primeiros projetos da produtora de Burt Lancaster, que buscava se consolidar também nesta nova atividade. Porém pouco seguiu conforme esperado. Huston entrou em conflito direto com o astro e produtor, pois possuíam visões distintas sobre a história – o primeiro queria se aprofundar na questão do preconceito e no debate racial, enquanto que o segundo buscava apenas um sucesso de bilheteria. E Audrey, por sua vez, após um acidente com um dos cavalos, sofreu um aborto de sua primeira gravidez, resultando em um atraso nas filmagens de quase dois meses.
A situação a respeito de O Passado não Perdoa só não foi pior pois John Huston partiu direto para um desafio que há muito acalentava, o épico intimista Os Desajustados (1961), com roteiro de Arthur Miller e estrelado pelos astros Marilyn Monroe (esposa de Miller na época), Clark Gable e Montgomery Clift. Lancaster ganharia finalmente seu único Oscar de Melhor Ator no mesmo ano pelo seu outro longa da temporada, o drama Entre Deus e o Pecado (1960). E Audrey Hepburn não só conseguiria se recuperar, engravidar novamente e dar à luz ao seu primeiro filho no ano seguinte, como ficaria eternizada de vez com seu filme seguinte, o icônico Bonequinha de Luxo (1961). Ou seja, todos partiram dessa para projetos muito melhores, e os problemas, felizmente, foram esquecidos, assim como esta obra que não soube envelhecer bem, resistindo até hoje apenas como uma curiosidade de época.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
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