Crítica
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Sinopse
O casamento entre um homem iraniano e uma mulher francesa começa a desmoronar. Os dois vivem na Europa e as coisas começam a azedar quando ele abandona a família para voltar à sua terra de origem. No entanto, ela conheceu outro homem e isso causa uma tensão.
Crítica
O iraniano Asghar Farhadi foi capaz de um feito que poucos cineastas conseguem após lançarem um trabalho excepcional: entregar outro filme à altura do antecessor. Se entre 2011 e 2012 99% das listas mundiais apontaram A Separação (2011) como um dos melhores (muitas vezes, o melhor) filmes do ano, com O Passado (2013) - mesmo que o burburinho tenha sido bem menor -, o diretor firma seu pé como um dos mais interessantes realizadores do cinema atual. E o melhor disso tudo: por conseguir transformar discussões domésticas em questões macro e que atingem o espectador da forma mais profunda possível.
Desta vez o cenário é a França, onde Ahmad (Ali Mosaffa) retorna do Irã após quatro anos de separação para assinar o divórcio definitivo da ex-esposa, Marie (Bérénice Bejo) e visitar as duas filhas dela. Já em casa ele descobre que a companheira está namorando (ou sendo amante de) Samir (Tahar Rahim), que já tem um filho e a mulher está em coma no hospital. Ao mesmo tempo, Lucie (Pauline Burlet) parece não gostar do novo padrasto, enquanto tem adoração pelo antigo. E, no meio disso tudo, Marie é pega no fogo cruzado em que todos (inclusive ela) tem algo a esconder. Marie, por sinal, é confrontada a todo instante, seja pelo ex-marido, pelo atual parceiro, pelas filhas (especialmente a mais velha) e o enteado. A grande dúvida (que gera outras, na verdade) é porque ela hospedou Ahmad em sua casa. Por ainda gostar dele? Para se vingar e mostrar que ela pode ter outra família? Ou simplesmente porque ela não consegue dar conta da crescente tensão que se instalou no ambiente entre quatro paredes? Todos a questionam sobre o fato em diversos momentos do filme. E, a cada vez que a pergunta é lançada na tela, o longa avança e mostra que a decisão tem muito mais implicações do que as simples dúvidas lançadas.
Assim como em A Separação, para contar esta história Farhadi não faz uso de cortes rápidos, seja nas imagens, nos enquadramentos ou nos diálogos. Se alguma cena parece durar tempo demais, pode ter certeza: ela é necessária para a total compreensão da história. Nenhum personagem fora do eixo principal é desperdiçado: eles também cumprem suas funções. O ar de mistério não é para criar um suspense sobrenatural. Pelo contrário. É para fazer o espectador questionar e entender o que se passa naquela fusão de dois núcleos familiares (Marie e Samir), dois choques culturais tão evidentes (mesmo que ambos sejam franceses) e o olhar do oriente médio (Ahmad) que tenta apaziguar e resolver os conflitos ao mesmo tempo em que os observa.
Nisto chega a ser interessante como Farhadi dá títulos aparentemente tão simples para tocar fundo nos personagens que explora. Se A Separação dizia muito mais do que o simples (não tanto) divórcio do casal de protagonistas, mas das diversas rupturas que o fato agrega ao longo da narrativa, O Passado parece dizer que ele, o passado mesmo, sempre vai interferir nas ações dos personagens, o presente tenso que eles vivem e o futuro incerto que está por vir. Pois Ahmad visivelmente está apegado ao que teve com Marie e suas filhas, por mais que queira retornar ao Irã o mais rápido possível. Samir gosta de Marie, mas parece ter um desejo latente de que a esposa volte do coma – e para ele. Já Marie está grávida de Samir, vive uma relação às turras com o companheiro, mas também parece nutrir um desejo secreto por Ahmad, por mais que suas conversas e entendimentos se transformem em discussões acirradas segundos depois. Outro ponto favorável e intrigante do longa é como Farhadi volta a utilizar o recurso do espectador não ouvir o que seus personagens falam em momentos-chave, o que já foi visto em em A Separação. Seja no início do filme, quando o vidro do aeroporto separa Ahmad e Marie e não entendemos o que ela diz, ou quando Samir e Marie discutem em frente à farmácia e só se ouvem ruídos quando a porta do estabelecimento é aberta por algum cliente.
Quando alguns segredos são, aparentemente, revelados, pouco a pouco, O Passado mostra tudo que Farhadi quer dizer com a narrativa, mesmo que ela deixe mais dúvidas do que respostas. O que é ainda mais interessante para o público julgar e/ou entender o que se passa com os personagens. A questão principal permanece: temos direito de culpar alguém por revelar uma situação que nós mesmos não temos a coragem de expor? O passado em si parece ter a resposta que nem Farhadi, seus personagens ou o público parecem conseguir responder. Algo que dimensiona a discussão sobre moral, ética e valores dos mais diversos que parecem ter se perdido no mundo contemporâneo. Se é que eles realmente já existiram.
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Olá Matheus, tudo bem? A duvida que paira é que a mulher de Samir, sobreviveu? Se não eu creio que o pesadelo ficara entre os dois, Marie e Samir. Um abraço