Crítica
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Sinopse
Nicolau leva uma vida tranquila, com uma família amorosa e diversos amigos. Um dia surpreende uma conversa entre os pais, o que o leva a acreditar que sua mãe está grávida. Logo entra em pânico, pois imagina que assim que o bebê nascer não mais receberá atenção e será abandonado na floresta, assim como ocorre nas histórias do pequeno Poucet, de Perrault.
Crítica
Em dado momento de O Pequeno Nicolau, o garotinho do título, junto de seu grupo de amigos, inventa uma forma de ganhar dinheiro fácil: copiar a poção mágica de Asterix e vender para seus colegas, afirmando que eles ficarão tão fortes quanto os personagens do gibi. As crianças, obviamente, acreditam na promessa depois de um forjado teste de força, que faz com que um pequeno fedelho consiga virar um carro com suas próprias mãos. Este pequeno trecho dá uma boa ideia do estilo de humor inocente utilizado pelo filme e também coloca lado a lado os dois personagens mais conhecidos de René Goscinny, artista por trás das histórias de Le Petit Nicolas e do simpático gaulês Asterix.
A direção de O Pequeno Nicolau é de Laurent Tirard, com roteiro do próprio ao lado de Grégoire Vigneron e Alain Chabat. Na trama, Nicolau (Maxime Godart) é uma criança que vive uma infância tão feliz que a última coisa que ele deseja é mudar alguma coisa. Ao ouvir uma conversa de sua mãe (Valérie Lemercier) e de seu pai (Kad Merad), o garotinho entende errado toda a situação e acredita que um irmãozinho está a caminho. Temendo ser deixado de lado pelos pais, Nicolau resolve montar um plano junto com seus amigos para se livrar do bebê. E muitas confusões acontecem a partir daí.
A ingenuidade infantil é muito bem trabalhada no roteiro escrito a seis mãos, baseado nos livros de René Goscinny, com ilustrações de Sempé. É muito fácil acreditar na veracidade da trama por ela ser contada sob o ponto de vista de uma jovem criança imaginativa. Todos os planos mirabolantes do guri, suas atitudes junto de seus amigos e as características do grupo são críveis por se apresentarem dentro do imaginário infantil. Toda esta inocência da tenra juventude acaba conquistando o espectador, que se diverte ao acompanhar as desventuras de Nicolau e sua turma.
A escalação do elenco é fantástica, e os garotinhos são todos muitos expressivos. Maxime Godart, o protagonista da história, consegue convencer sem dizer palavra alguma. Mas o grande destaque é o limitado Clotaire (Victor Carles), que por ter um intelecto pouco privilegiado acaba sempre ficando de castigo. O jovem ator tem uma ótima performance, fazendo rir tão logo aparece em cena, tamanho o engajamento entre espectador e personagem. No lado adulto, Valérie Lemercier e Kad Merad estão hilários como os pais de Nicolau, cada um mais atrapalhado que o outro.
O mais impressionante de O Pequeno Nicolau é como ele consegue trabalhar uma narrativa interessante com personagens tão unidimensionais. Saído de histórias infantis onde é prática comum o biotipo rígido para cada personagem (vide a tupiniquim turma da Mônica), o longa-metragem consegue ser fiel às origens e ainda se manter consistente. Só isso explica o fato de não rechaçarmos de bate pronto personagens como Alceste (Vincent Claude), um garoto gordinho que só pensa em comer, ou Geoffroy (Charles Valliant), um menino rico que adora vestir fantasias. A trama é tão bem contada e este imaginário infantil está tão bem costurado à narrativa que nada disso atrapalha. É quase como assistir a um desenho animado em live action.
Por falar em desenho, a bela sequência dos créditos iniciais, trabalhada como um livro, conversa intimamente com as origens da história de O Pequeno Nicolau. A bela direção de arte, recriando muito bem a França dos anos 50, junto com sua música característica, encaixada como uma luva em toda a narrativa, transformam este longa-metragem em um ótimo programa. E não apenas para crianças. Adultos que curtem um humor mais ingênuo acharão divertidíssimo. O público infantil se encantará com as peripécias de Nicolau e companhia, enquanto que seus pais acharão graça da imaginação fértil, tão aguçada naqueles jovens pequenos franceses. Um belo programa familiar.
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