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Sinopse

Uma pequena garota desde muito cedo está sendo preparada por sua mãe para encarar o mundo da mesma forma que os adultos. Por outro lado, um excêntrico vizinho leva para ela fabulosas narrativas sobre suas aventuras e sobre um novo universo, ao qual ele foi apresentado há muito tempo, quando era um aviador. Com essa nova amizade, a menina irá redescobrir sua infância e aprender o que é importante na relação com os outros seres.

Crítica

O livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, foi publicado pela primeira vez em 1943. Desde então, se tornou a obra em língua francesa mais vendida em todo o mundo, com cerca de 143 milhões de exemplares, entre 400 e 500 edições, e traduzido para 160 idiomas e dialetos. No cinema, a primeira versão data de 1974 (há uma anterior, de 1965, porém feita para a televisão), dirigida por Stanley Donen (realizador do clássico Cantando na Chuva, 1952) e com nomes como Gene Wilder e Bob Fosse no elenco. Desde então houve quase uma dezena de outras adaptações, mas nenhuma que conseguisse capturar com efeito a magia do original, ao mesmo tempo em que apresentasse algo de novo e curioso. Tarefa essa que é atingida com êxito por esta animação que, apesar de ter sido realizada na França, é falada em inglês e com elenco internacional.

Antes de mais nada, um alerta: quem for aos cinemas esperando encontrar a história clássica do menino que mora sozinho em um planeta, passa o dia eliminando futuros baobás, se apaixona por uma rosa e decide viajar pelo espaço de carona com um aviador irá se surpreender. Afinal, ainda que esta trama esteja no filme, ela apenas tangencia o enredo principal, servindo mais como argumento do que como linha narrativa. A protagonista aqui não é o Príncipe, e sim uma ‘princesa’ – algo que vem de encontro com o atual revisionismo artístico que tem se preocupado em ceder maiores espaços para minorias (?), como mulheres, negros e homossexuais. A garota em questão é uma menina, filha de mãe solteira, que tem sua vida milimetricamente planejada para lhe garantir um futuro perfeito na melhor escola da cidade. Só que enquanto uma sai para trabalhar e garantir o sustento da casa, a outra acaba se distraindo com as trapalhadas do vizinho, um senhorzinho um tanto amalucado que guarda mistérios e segredos. Os quais ele parece disposto a revelar para a nova amiga.

Ainda que as mudanças visuais sejam grandes, o diretor Mark Osborne (Kung Fu Panda, 2008) é hábil em manipular essas imagens para superar a estranheza inicial e trazer o espectador para esse novo mundo. De um lado, temos uma perfeita animação digital, no mais moderno estilo que apenas os grandes estúdios de Hollywood parecem conseguir – não por nada, o orçamento do longa foi de mais de US$ 80 milhões, o que fica bem claro na tela. Porém, quando a menina se aproxima do velhinho e ele começa a contar para ela a história de um pequeno príncipe, amigo de uma raposa e de seres estranhos, como um contador preocupado apenas em acumular e um rei solitário, o que vemos é um encantador uso da técnica de stop-motion, a tradicional ‘massinha’, com bonecos articulados que nos remetem a uma época quase que perdida no tempo e no espaço – tal qual o nosso protagonista.

A mensagem continua a mesma: você é eternamente responsável por aquilo que cativa. E isso não teria como ser diferente. No entanto, a proposta do roteiro nessa releitura do clássico se aproxima da abordagem escolhida por Steven Spielberg ao adaptar para a tela grande a criação de J. M. Barrie em Hook: A Volta do Capitão Gancho (1991) – e é justamente aí que peca pela falta de originalidade. Afinal, se antes o que víamos eram os vilões tomando conta da ação a partir do momento em que Peter Pan esquece dele próprio e de quem foi e, com isso, começa a crescer até se tornar um pai de família, a mesma questão é novamente levantada: o que aconteceria se o Pequeno Príncipe crescesse e se tornasse um adulto que não mais lembra quem ele foi?

De fácil leitura para os pequenos e intrigante o suficiente para despertar a atenção do público mais velho, esse novo O Pequeno Príncipe se coloca à altura do que se poderia esperar de um conto com quase um século de idade, porém focado numa audiência moderna e que muito provavelmente irá descobri-lo somente agora. Sai a poeira dos discursos das misses e temos uma trama envolvente, que ressalta a importância de não deixar morrer a criança que há dentro de cada um de nós, ao mesmo tempo em que não se pode esquecer das responsabilidades que vão sendo adquiridas pelo caminho. Visualmente encantador e com um bom trabalho de dublagem – na versão dublada em português destaca-se a participação do veterano Marcos Caruso – é uma obra que ainda hoje se revela pertinente, independente da idade do espectador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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