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Crítica


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Sinopse

Aos 13 anos, Nina é cheia de conflitos pessoais. Certo dia ela é transportada a um universo fantástico. Nesse cenário fabuloso, ela conhece diversas criaturas extraordinárias e tenta superas vários desafios.

Crítica

Num cenário como o brasileiro, no qual longas-metragens de animação são cada vez mais raros, é com salutar interesse e curiosidade que se fica a par de um projeto como O Pergaminho Vermelho. A despeito dos diversos artistas nacionais de comprovado talento, e do reconhecimento internacional que esse gênero já alcançou, como a indicação ao Oscar de O Menino e o Mundo (2013), as conquistas seguidas no Festival de Annecy – o mais importante do ramo – deste e do anterior Uma História de Amor e Fúria (2013), e a indicação ao Prêmio Platino de Até que a Sbórnia nos Separe (2013), esses são percebidos mais como casos isolados, e não frutos de uma política de entendimento, promoção e incentivo. Portanto, partindo dessa premissa, não há como não destacar os evidentes méritos da produção assinada por Nelson Botter Jr., ao mesmo tempo em que também persiste um sentimento de déja vù, como uma oportunidade perdida pela repetição de signos que poderiam ter sido substituídos por um discurso mais local e menos genérico.

A decisão de contar com uma menina como protagonista deixa de ser algo ‘avançado’ ou ‘moderno’, para ser, apenas, contemporâneo. Afinal, são inúmeros os títulos recentes que optaram por deixar de lado os meninos e apostar nas garotas para a condução de suas histórias. É também o que acontece por aqui, quando o espectador é convidado a acompanhar a trajetória de Nina, uma menina de 13 anos, um tanto rebelde, que passa seus dias brincando na rua não somente por gostar desse tipo de diversão, mas também para fugir do clima pesado que enfrenta cada vez que volta para casa. Os pais estão sempre discutindo, um não entende o outro, e na maioria das vezes, os argumentos parecem direcionados à criação da filha – enquanto o pai acredita que deveriam ser mais rígidos, a mãe prefere confiar na criança e deixá-la explorar o mundo de acordo com sua vontade.

Se esse debate parece pertinente, também pode ser visto a partir de um outro ponto de vista. Afinal, o homem reclama da esposa pela educação que acredita que a filha está recebendo. Mas não seria tarefa dele também participar desse processo, ao invés de relegá-lo como se fosse responsabilidade única da mulher? Ele deixa claro estar insatisfeito com o resultado, mas ao invés de fazer parte da mudança, decide apenas reclamar em uma atitude beligerante e conflituosa. Esse é um detalhe dentro da narrativa, mas pertinente para se analisar o olhar assumido pelos realizadores, que buscam uma relevância, ao mesmo tempo em que fazem uso de argumentos e recursos um tanto desconectados com o momento no qual buscam se inserir. Essa combinação também soa tortuosa durante a continuidade da trama, que coloca duas moças disputando pelo coração de um mesmo rapaz e um velho ardiloso enganando uma jovem inocente com promessas vazias. Nada que já não se tenha visto inúmeras vezes, portanto.

Antes de atropelar detalhes da narrativa, basta dizer que, na tentativa de escapar da realidade triste que precisa enfrentar no âmbito familiar, Nina acaba assumindo uma postura de Alice, mergulhando na toca do coelho e indo parar em um mundo de maravilhas que deveriam apontar para a típica jornada do herói – no caso, heroína – mas terminam optando por se contentarem em apenas reciclarem algumas passagens aventurescas dignas de qualquer bom jogo de videogame. Nada muito inovador, como se percebe, mas ainda assim eficiente o bastante para prender a atenção da audiência. Nesse contexto alternativo, Nina precisa reparar seus erros e aprender a confiar nos outros – mesmo que esses sejam estranhos que ela mal conhece – pois se sozinha não é capaz de resolver seus problemas, dividindo-os com as pessoas certas é provável que o fardo de carregá-los se torne mais leve.

É nesse novo cenário, que surge lá pela metade da trama, que a personagem principal se vê atrás do tal pergaminho vermelho do título. O objeto, longe de adquirir maior relevância dentro do enredo, serve mais como uma desculpa para cada uma das mudanças pelas quais Nina se vê obrigada a lidar. Nessa estrutura absolutamente convencional, similar a tantas outras frequentes no gênero, o filme perde a oportunidade de se mostrar único, por mais que se esforce em inserir uma personalidade mais regional – como o bicho-preguiça de estimação ou a aldeia de sacis, por exemplo. São figuras bonitas e que funcionam em cena, ainda que não estimulem maiores novidades no resultado das ações perseguidas. Assim, O Pergaminho Vermelho se mostra alegre e divertido sem grandes exageros, na mesma proporção em que se contenta dentro das dimensões que a própria realização assume para si, sem ousar ir além de limites pré-estabelecidos. É bonito, mas também, ordinário.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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