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Crítica


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Sinopse

Erin Bell é uma detetive durona do Departamento de Polícia de Los Angeles. Há muitos anos, a jovem Erin infiltrou-se em uma gangue no deserto da Califórnia e a história terminou muito mal, causando danos psicológicos severos em sua vida. Agora, depois de uma pista cruzar o seu caminho, vê uma chance de resolver seus traumas do passado e embarca numa jornada perigosa em busca do assassino Silas.

Crítica

A tão propalada caracterização de Nicole Kidman para viver a protagonista de O Peso do Passado é instrumentalizada como uma muleta pela cineasta Karyn Kusama. Sempre com o semblante pesado, olhares melancólicos e um esforço hercúleo para expressar uma série de dores a atravessando, a atriz australiana força a mão para criar uma personagem decalcada de outras tantas. Erin (Kidman) começa o filme dizendo saber exatamente quem é responsável pelo cadáver cravejado de balas estendido no chão. A forma como a cena é construída, com ela andando firmemente, se afastando dos investigadores enquanto fala, dá pistas mais que suficientes para matarmos a charada, ou seja, parte-se de uma previsibilidade considerável. Porém, não é, exatamente, na surpresa que o enredo de sustenta, mas na abordagem de uma personalidade difícil, a dessa mulher que parece carregar o peso do mundo nos ombros, sobretudo por conta da missão antiga que resultou num trauma difícil de esquecer. Ele é a típica figura torturada em busca de algo que lhe dê um pouco de paz.

O Peso do Passado alterna a caçada dessa policial a um antigo desafeto que está novamente no pedaço e flashbacks telegrafados que oferecem o contexto necessário. Acompanhamos, portanto, desde os preparativos para que ela e Chris (Sebastian Stan) se infiltrem numa gangue de ladrões de bancos, chefiada pelo arremedo de vilão imprevisível vivido por Toby Kebbell. Some a isso uma turbulência familiar inserida na trama como ares de artificialidade e temos um resultado muito aquém das expectativas. Erin precisa, em meio a todo o torvelinho, lidar com a rebeldia da filha adolescente que mora com o pai. Esse dado de instabilidade apenas serve para acrescentar outra camada à miserabilidade de quem perambula como um fantasma. As brigas com o genro valentão, as duras conversas com a jovem irredutível, em suma, o traço doméstico pouco acrescenta ao todo, senão uma tensão banal. O filme, aliás, é uma sucessão de momentos dispensáveis, assinalados pelo exagero geral da caracterização.

Dentro da perseguição movida pela necessidade de vingança, ainda há espaço para uma malfadada delineação romântica. O Peso do Passado, então, acrescenta outra demão à sua ineficácia para construir cenários. A relação entre Erin e Chris, inicialmente profissional, acaba ganhando contornos pessoais, mas, tanto pelos poucos vislumbres da intensidade do sentimento quanto pela inocuidade dos instantes de romance ela não dá liga. Karyn Kusama investe boa parte de suas fichas na paramentação que leva Nicole Kidman a parecer um defunto esquecido de deitar. A composição carece de sutilezas, soando demasiadamente empostada e inorgânica. O resultado é a pouca empatia gerada com uma personagem instada a carregar a produção nas costas. O vai e vem temporal é burocrático e suas instâncias são demarcadas ordinariamente por cortes de cabelo e estados de ânimo vagamente diferentes. A tessitura narrativa do longa deixa copiosamente a desejar.

O sentimento que compele a protagonista a percorrer uma senda pedregosa é a vingança. No entanto, falta a Erin o pathos necessário para termos noção dos limites que ela se dispõe a transpor a fim de garantir a execução desejada. É tudo gritado, verbalizado, histriônico, mas paradoxalmente desprovido de vivacidade. Quando se instala na seara dramática, O Peso do Passado deixa evidentes suas fragilidades conceituais e de execução. Nicole Kidman erra a mão ao construir uma figura sobremaneira carregada, embasada na elaboração física, num processo adorado por Hollywood, o de embrutecer atrizes reconhecidas, também, por suas belezas. Charlize Theron fez algo parecido – mas com substância, aí estando o grande diferencial – e ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Monster: Desejo Assassino (2003). Verdade seja dita, Kidman não é ajudada pelo roteiro rocambolesco e previsível, tampouco pela direção que acentua as falhas e os lugares-comuns ao invés de apostar numa construção dramática menos inofensiva e tola.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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