Crítica
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Sinopse
Nicolas Cage está falido e para se recuperar financeiramente precisa aceitar um convite estranho: aceitar US$ 1 milhão para comparecer à festa de aniversário de um super fã que é chefe do crime. É quando um agente da CIA o aborda para que ele interprete o grande papel de sua vida: Nicolas Cage.
Crítica
Houve uma época, tempos atrás, e talvez por isso muitos hoje em dia não recordem, na qual Nicolas Cage foi um ator bastante respeitado. Dono de duas indicações ao Oscar, ganhou pelo desempenho arrebatador em Despedida em Las Vegas (1995) – e de forma incontestável, e não, como muitas vezes acontece, por causa da campanha ou para compensar o ‘conjunto da obra’. Além disso, era também um campeão de bilheterias, à frente de blockbusters como A Rocha (1996) e A Outra Face (1997). No entanto, tudo isso desandou com o passar dos anos, e hoje ele ostenta nada menos do que 8 indicações às Framboesas de Ouro, e seu último longa a ter sido exibido nos cinemas foi Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança (2011), há mais de uma década. Desde então, apareceu em nada menos do que 33 (!!) projetos diferentes, todos lançados diretamente em VoD ou streaming. Diante desse retrospecto, o simples anúncio de um título como O Peso do Talento, no qual Cage interpreta a si mesmo como um astro decadente em busca de redenção, soa por demais auspicioso. É de se lamentar, porém, que a proposta não passe um argumento de uma só piada, que uma vez superada recai nos mesmos clichês que tanto fizeram sua carreira, como também deram fim a ela.
Num dos primeiros momentos do longa escrito e dirigido pelo desconhecido Tom Gormican (Namoro ou Liberdade, 2014), Nicolas Cage (como dito, interpretado pelo próprio Nicolas Cage) vai a um almoço de negócios com o diretor David Gordon Green (com quem trabalhou, na vida real, no elogiado – e por quase ninguém visto – Joe, 2013). O objetivo é discutir a possibilidade do ator estrelar o próximo projeto do cineasta, que considera ser sua “grande chance de virada”. O realizador não parece empolgado, no entanto, e se mostra reticente durante a conversa, a ponto do candidato ao papel praticamente se ajoelhar implorando pelo trabalho. A cena transpira vergonha, mas essa é a ideia: quem acompanha a trajetória de Cage nos últimos tempos sabe que ele se tornou conhecido por aceitar qualquer convite que lhe fosse feito, seja a oferta interessante ou não. O que se costuma dizer, entre leigos, é que alguém com esse tipo de comportamento está agindo assim para “quitar os boletos atrasados”. Pois bem, na ficção, o que era motivo de riso se torna a desculpa oficial: “se você quer pagar suas dívidas, é melhor aceitar”, lhe aconselha seu agente.
A proposta em questão, que chega após mais uma negativa, é para participar da festa de aniversário de um milionário espanhol (Pedro Pascal, se divertindo com os exageros mais do que em Mulher-Maravilha 1984, 2020, por exemplo), que se considera seu “maior fã”. É para atuar quase como um animador particular, a conclusão de uma jornada repleta de glórias no passado, mas não só é o que lhe restou, como também será com todo o luxo possível e, no final, recebendo um cheque de US$ 1 milhão. Se o filme ficasse restrito a esse imbróglio, à inadequação de uma antiga estrela de Hollywood tendo que se sujeitar aos mais diversos tipos de constrangimentos e uma passagem pelo inferno que lhe proporcionasse a reflexão necessária para reencontrar o caminho para o topo, é provável que por aqui se identificasse uma gema que, de fato, colocasse o nome de Cage mais uma vez entre aqueles que se devem observar com atenção a cada temporada. Infelizmente, não é o que acontece.
Pois, assim que aterrissa na Espanha, Cage é interpelado por dois agentes do FBI (Tiffany Haddish e Ike Barinholtz, um mais sem graça do que o outro) que acreditam que o anfitrião seja um traficante de drogas internacional responsável pelo sequestro da filha do candidato à presidência da Catalunha, e o colocam – Cage, no caso – como espião dentro da mansão do bandido para ajudá-los na operação de resgate. Assim, o que deveria ser uma ficção curiosa motivada pelos paralelos com a vida real do ator se torna em uma aventura genérica que tenta emular a noção de que o intérprete e o personagem que este tem nas mãos são, de fato, a mesma pessoa. Afinal, como explicar que, mesmo frente às situações mais perigosas e arriscadas, Cage consiga se safar de todas elas, não apenas sobrevivendo, mas também alcançando seus intentos? A partir desse ponto, tudo irá se resumir a isso, com esse agente secreto improvisado – já visto em diversas produções similares – tendo que lidar do melhor jeito que conseguir diante de cada ameaça que surgir pelo seu caminho. Ao mesmo tempo, a inspiração que parecia estar por trás do conceito aqui apresentado é deixada de lado, se provando ser apenas um começo, mas nunca um fim.
Entre mortos e feridos, é salutar se deparar com um Nicolas Cage não na sua melhor forma, mas confortável o suficiente para rir de si mesmo – até certo limite, que fique claro. Para os fãs mais fervorosos há uma série de citações de Wikipedia a respeito de sucessos anteriores de sua filmografia (Feitiço da Lua, 1987, O Guarda-Costas e a Primeira Dama, 1994, 60 Segundos, 2000, e O Capitão Corelli, 2001, são alguns dos lembrados). Porém, mesmo essas brincadeiras se mostram como causa de embaraço, visto que nenhuma delas consegue ser tão bem aproveitada quanto a feita com Paddington 2 (2017) – um filme do qual Nicolas Cage não participou! Para completar, ainda são desperdiçados nomes como Neil Patrick Harris e Demi Moore (que nem uma linha de diálogo possui!). Assim, O Peso do Talento se confirma como não mais do que uma brincadeira de ocasião, que irá render um ou outro respiro de alívio à sua figura-chave, mas longe de se mostrar capaz de resgatar aquilo que anuncia – e que parece estar, enfim, perdido para sempre.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Ticiano Osorio | 5 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
Francisco Carbone | 8 |
Bruno Carmelo | 6 |
MÉDIA | 6 |
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