Crítica
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Sinopse
Um pianista polonês luta para sobreviver à perseguição dos nazistas aos judeus na Segunda Guerra Mundial.
Crítica
Wladyslaw Szpilman não foi um homem comum. E isso não se foi devido ao seu temperamento, ou por ter liderado multidões ou por algum grande invento. Seu maior mérito era um dom, o qual sempre teve e que passou a vida aperfeiçoando-o. Foi tão bem sucedido nesse propósito que alcançou fama e fortuna. Szpilman era pianista, conseguia tirar das teclas de um piano poesias sonoras, melodias que encantavam numa primeira audição. E que salvaram vidas também. Afinal, foi por causa delas que ele se manteve vivo durante a maior tragédia humana do século XX, a Segunda Guerra Mundial. A história de Szpilman e sua trajetória através do nazismo que assolou a Polônia, sua terra natal, é contada em O Pianista, longa assinado por Roman Polanski que chegou a ser indicado a sete Oscars, inclusive a Melhor Filme.
Premiado em três categorias na maior festa do cinema, O Pianista teve nesse feito um reconhecimento aos seus principais pilares: a direção precisa de Polanski, a atuação equilibrada de Adrian Brody e o roteiro seguro de Ronald Harwood. Foi, também, sua consagração definitiva. Não, no entanto, que tivesse sido um requisito imprescindível ao seu sucesso. Afinal, já havia sido considerado o Melhor Filme do ano no BAFTA (Oscar inglês), César (Oscar francês), Goya (Oscar espanhol) e pela Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA, além de ter ganho a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Esta, em última instância, pode ser considerada uma vitória de Szpilman (falecido em 6 de julho de 2000, portanto, antes das filmagens), que teve suas memórias justificadas numa obra digna dos seus feitos. Mas não se deve esquecer nunca de Roman Polanski, que com este trabalho retomou os rumos de sua carreira, após duas décadas de longas controversos, indo em direção de clássicos como Chinatown (1974), que inscreveram seu nome como um dos mais inventivos autores cinematográficos da sétima arte.
A trama deste filme, aliás, é muito similar à história de vida do próprio cineasta, ele mesmo um refugiado da guerra. Apesar de ter nascido na França, com 3 anos de idade já morava na Polônia, e sentiu com força todas as consequências do nazismo. Sua mãe morreu num campo de concentração, e só reencontrou o pai anos mais tarde, quando adolescente, tão vitimado pelos horrores vividos que o relacionamento dos dois estaria abalado para sempre. Entretanto, O Pianista conta a experiência de Szpilman, uma figura real, e se suas semelhanças com a de Polanski podem sugerir uma afinidade, é de se imaginar possa ter justificado seu interesse e dedicação, mas não mais do que isso.
Szpilman morava em Varsóvia quando seu país foi invadido por Hitler e seus seguidores. A partir daí, segue-se as atrocidades já relacionadas ao holocausto: privações, absurdos preconceituosos, crimes indescritíveis, restrições, fome, assassinatos, selvageria irracional. Nada que já não tenha sido mostrado em tantas outras produções do gênero. Mas, ao contrário de obras como A Lista de Schindler (1993), não há aqui por que embelezar uma realidade tão seca: a fotografia é dura, quase estática, e não existe vestido vermelho que possa distrair a atenção de uma barbárie que não deve ser eclipsada. Tudo é forte, como realmente deve ter acontecido. As maquiagens são deixadas de lado, e o que presenciamos é um horror que perdura nos olhos e na mente.
Szpilman, como é fácil prever, sobreviveu. Passou pelo pior, mas manteve-se ileso para contar. Essa “sorte” deve-se a um único fato: tratava-se um artista. A arte fluía dos seus dedos, e a magia da beleza que protagonizava não tinha cor, fronteira, religião ou ideologia política: qualquer um se sensibilizava diante desse apelo universal. Por isso é poupado, mas não imune às desgraças ao seu redor: sua família é dizimada, sua paixão acaba nos braços de outro, seu emprego é abandonado e sua vida eliminada a tal ponto que a única coisa permitida era respirar, trancado num buraco na parede atrás de um armário gigante. Szpilman não foi um herói, não tem em seu histórico nenhum feito singular. Ou, por outro lado, teve apenas um – provavelmente o mais importante: resistiu. Esse é seu exemplo, e também sua lição.
O Pianista tem como mérito o desempenho hipnotizante de Adrien Brody, um ator de escolhas nada óbvias. Se antes do prêmio talvez seu melhor momento havia sido sob o comando de diretores como Ken Loach (Pão e Rosas, 2000) e Terrence Malick, após o estrelato tem se perdido entre produções ambiciosas (King Kong, 2005) e outras mais descartáveis (Predadores, 2010). Apesar de reprisado em sua carreira – ao menos até hoje – o excelente desempenho que aqui é possível verificar, ao menos nesse filme sua interpretação é de uma entrega absoluta, fazendo uso de um personagem de composição, sem decepcionar em nenhum instante. Somente seus olhos revelam tanto, que muitas vezes o silêncio é seu melhor aliado, num conjunto difícil de esquecer.
Por fim, além da cuidada reconstituição história e da fotografia crua de Pawel Edelman (parceiro habitual de Polanski), temos no enredo elaborado uma trama que vai crescendo com o seu desenrolar, que evita as soluções mais evidentes para oferecer uma luz ao protagonista e ao desenrolar dos fatos. Situações adjacentes, que poderiam servir mais como distração do que avanço, como o general alemão que simpatiza com o drama do pianista, já no final da guerra, ou mesmo a relação desse artista com sua música, acabam sendo sabiamente contornadas em passagens determinantes. Assim, sua mensagem ganha a força que precisa para ressaltar sua importância e pertinência, tornando-a atual e impossível de ser ignorada. O Pianista é uma aula, de respeito, arte e vida. Para ser vista, entendida e refletida.
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sobre o filme um assunto bem interessante sobre o nosso passado e tbm sobre a guerra da alemnha