Crítica
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Sinopse
Theodore Decker sobreviveu a um atentado terrorista, mas perdeu sua mãe na tragédia. O pai o leva para Las Vegas, mas sua vida está em Nova Iorque, onde irá trabalhar como antiquário, ao mesmo tempo que guarda um secreto inconfessável.
Crítica
Há algo de muito belo em O Pintassilgo. Está ali, na frente do espectador, e o diretor John Crowley não se cansa em reforçar essa sensação. Mas, tal qual a pintura que dá título ao filme, dada como perdida após um atentado terrorista, mas guardada secretamente sob os cuidados de um dos personagens, essa beleza também está escondida, provavelmente aos cuidados de um dos envolvidos, sem, no entanto, ficar claro quem está se esforçando tanto para mantê-la longe da audiência. Talvez seja a obra original, o best seller de Donna Tartt premiado com o Pulitzer, ou a elaborada fotografia do oscarizado Roger Deakins (Blade Runner 2049, 2018), passando pela intricada montagem de Kelley Dixon (vencedora do Emmy por Breaking Bad, 2013) ou mesmo o elenco repleto de nomes conhecidos, como Nicole Kidman e Jeffrey Wright, entre outros. São tantos superlativos reunidos que, curiosamente, um acaba por se sobrepor ao outro, resultando em algo não mais do que morno, bege sob todos os aspectos. Bonito, mas não particularmente marcante.
Theo Decker foi ao museu com sua mãe. Na verdade, estavam a caminho da escola, onde deveriam se encontrar com o diretor para discutir o fato do garoto ter sido pego com cigarros. Como estavam adiantados, pararam para um rápido momento de cultura. O suficiente para se separarem – ele numa sala, ela noutra – para sempre. Uma bomba explodiu, e a mulher – assim como muitos outros que ali estavam – se foi para sempre. Sobrou o garoto, agora órfão. Em meio às ruínas, conseguiu pegar para si o pequeno quadro que estava exposto até minutos antes – o tal Pintassilgo – e ainda receber um anel de um senhor desconhecido. O primeiro passo, portanto, foi se adaptar à família Barbour, que o acolhe nesse momento de desespero. O segundo, é ir atrás do dono da joia, um antiquário também disposto a recebê-lo. Nos primeiros, encontrará um lar. No segundo, um sentido para sua nova vida.
Crowley dirigiu há alguns anos o drama romântico Brooklyn (2015), que chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Isso o colocou em condições de assumir essa adaptação, esperada desde o lançamento do livro, em 2013, quando permaneceu por semanas na lista dos mais vendidos do New York Times. A escrita elaborada, no entanto, se perde entre as tantas idas e vindas temporais. Assim como o espectador é convidado a acompanhar os passos do pequeno Theo Decker (vivido na infância por Oakes Fegley, de Meu Amigo, o Dragão, 2016), também é obrigado a se confrontar com o desânimo do adulto Theo, agora na pele de um apático Ansel Elgort. A criança está lidando com um forte trauma, buscando seu lugar na ordem das coisas, descobrindo novos mundos entre a Nova Iorque que parece lhe virar as costas e uma Las Vegas árida que não parece ter espaço para ele. Já sua versão mais velha apenas reage, sem saber ao certo para onde ir. A imagem, única lembrança antes da queda, é mais um símbolo do que algo concreto.
O roteiro de Peter Straughan (indicado ao Oscar por O Espião Que Sabia Demais, 2011, mas responsável também pelos constrangedores Especialista em Crise, 2015, e Boneco de Neve, 2017) parece se ocupar quase que exclusivamente de tornar difícil e complicado o que é simples e até mesmo um tanto óbvio. Personagens-clichê, como o pai aproveitador vivido sem brilhantismo por Luke Wilson, se confrontam com figuras interessantes, porém pouco exploradas, como Boris (Finn Wolfhard/Aneurin Barnard), o melhor amigo. A própria matriarca de Kidman é uma presença tão etérea quanto mal aproveitada, assim como o misterioso artesão interpretado por Wright, que acaba não dizendo a que veio. Enquanto Fegley tem muito com o que lidar, Elgort parece incapaz de mergulhar nos seus sentimentos, optando por uma solução mirabolante envolvendo mafiosos internacionais e uma ida a Amsterdã que mais distrai do que entretém.
Sem saber o que fazer direito com os personagens reunidos, Crowley ainda tropeça numa série de coincidências e reviravoltas sem sentido, resultando em um filme de quase 150 minutos de duração que poderia ter se resolvido tranquilamente com uma hora a menos. O Pintassilgo se propõe a falar de pessoas envoltas por conceitos elitistas, ainda que estes respondam a instintos básicos, como afeto, segurança e aceitação. Perdido entre discussões vãs a respeito da mais valia do original frente a uma cópia, esquece de refletir que, quando a necessidade de se sentar se faz urgente, tanto faz o modelo da cadeira a ser oferecida. Pouco importa de quem é o abraço, quem entrega o beijo, de onde vem a porta que se abre e aquela que se fecha. Estes pequenos detalhes, se melhor explorados, poderiam fazer desse um grande filme. Os elementos estão todos ali, esparsos, sem alguém capaz de organizá-los da melhor maneira. Isso, sim, é digno de lamento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Rodrigo de Oliveira | 7 |
Francisco Carbone | 3 |
Adriana Androvandi | 6 |
MÉDIA | 5 |
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