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Sinopse

George Taylor, um astronauta americano, viaja por séculos em estado de hibernação. Ao acordar, ele e seus companheiros se vêem em um planeta dominado por macacos, no qual os humanos são tratados como escravos e nem mesmo tem o dom da fala.

Crítica

No mesmo ano em que o filosófico 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e o alegórico Barbarella (1968) chegaram às telas, uma outra aventura espacial estreou provocando um frenesi como há muito não se via: O Planeta dos Macacos, dirigido por Franklin J. Schaffner e estrelado por Charlton Heston. O cineasta ganharia seu Oscar em seu filme seguinte, o drama de guerra Patton: Rebelde ou Herói? (1970), enquanto que o protagonista havia sido premiado com uma estatueta dourada pelo grandioso Ben-Hur (1959). Ou seja, os créditos eram de respeito, ainda que a trama despertasse desconfianças: um lugar desconhecido (ou nem tanto) dominado por símios das mais diversas raças, no qual os humanos fossem tratados como animais de estimação (ou pior)? Porém haviam outros elementos envolvidos que garantiram não só o sucesso da empreitada, como sua pertinência até os dias de hoje – além de um final marcante e absolutamente inesquecível.

Baseado no romance de Pierre Boulle – ele próprio oscarizado pelo roteiro de A Ponte do Rio Kwai (1957) – O Planeta dos Macacos é bem sucedido em combinar as inquietações quanto ao futuro da humanidade presentes no longa de Kubrick com a diversão colorida da odisseia estrelada por Jane Fonda – apenas para usarmos como referência as duas produções irmãs citadas no começo deste texto. Antes ainda dos créditos de abertura somos apresentados a um cenário futurístico: estamos no ano 2.637, em uma nave espacial cruzando o universo. O capitão Taylor (Heston) está gravando suas recomendações finais antes de se juntar aos seus colegas em um sono profundo enquanto se dirigem de volta para casa. No entanto, ao aterrissarem, se descobrem em um planeta estranho, no qual homens e mulheres perderam a inteligência, ao mesmo tempo em que chimpanzés, orangotangos, babuínos e gorilas representam a força dominante. A realidade se inverteu, e não a favor dos seres humanos.

É interessante perceber as mudanças de tempo que o filme explora. Quando no espaço, descobrimos que os seis anos da viagem representaram mais de 700 anos terráqueos. Ou seja, estes astronautas não possuem mais referências, e tudo o que um dia conheceram não mais existe. Quando a viagem acaba, os dezoito meses do trajeto significaram mais 1.300 anos na Terra. Estamos no ano 3.971, mais de dois milênios longe de casa. Esse número é importante, pois voltará à discussão central da história, porém num outro contexto. Essa revelação também antecipa a grande revelação do filme, algo que soa como um grande spoiler, porém vai de encontro a uma surpresa ilusório e sem esperanças. Uma postura corajosa, que só aumenta o valor desta obra.

Quando Taylor e seus colegas – assim como vários outras pessoas sem identidade – são capturados por macacos caçadores, são levados aos cuidados de tratadores e cientistas. Entre estes últimos está Zira (o oscarizada Kim Hunter, num papel recusado por Ingrid Bergman, que posteriormente afirmou ter se arrependido dessa decisão) e seu noivo, Cornelius (Roddy McDowall), experts que acreditam na evolução das espécies e afirmam que homens e símios podem ser mais próximos do que a crença vigente. Nesta realidade, ciência e religião são duas forças interligadas, e ambas pregam o maior distanciamento possível em relação ao ser humano. Esse discurso, defendido pelo Ministro Dr. Zaius (Maurice Evans), vem de um conhecimento ao qual nem todos possuem acesso, mas que pode revelar uma verdade muito mais drástica e perturbadora.

Apesar de um início bastante lento – passa-se mais de meia hora até que o primeiro macaco apareça e, finalmente, tenha-se uma cena de ação – O Planeta dos Macacos não decepciona aqueles atrás apenas de entretenimento eficiente. Há várias sequências de perseguição, lutas e embates corporais. Porém seu diferencial está justamente no desenvolvimento da narrativa, que pode ser encarada tanto como uma feroz denúncia em relação à Guerra Fria e ao medo nuclear que poderia exterminar a humanidade como uma história de ficção científica que vai além de uma leitura superficial e passageira. Afinal, não foi por acaso que este longa ganhou quatro sequências diretas, uma releitura em 2001 e um recomeço da franquia em 2011, com mais dois episódios até o momento.

Um quinto do orçamento de O Planeta dos Macacos foi gasto no desenvolvimento das técnicas de maquiagem, tão revolucionárias até então que mereceram um Oscar especial pelo esforço – a categoria não existia até então. Este aspecto, no entanto, é o que soa mais datado nos dias de hoje – afinal, fica evidente se tratar de homens com máscaras de pouca mobilidade. Este talvez seja o maior erro da versão comandada por Tim Burton, que mantinha a mesma visão de símios humanoides, e o maior ganho do reinício da saga com Planeta dos Macacos: A Origem (2011), em que os animais são completamente digitais. O avanço da tecnologia representou um acréscimo e tanto, porém se os novos filmes se preocupam em traçar os acontecimentos que levaram até o panorama aqui apresentado, é justamente este filme, lançado há mais de quatro décadas, que contém os elementos necessários para toda essa discussão. Em resumo, tem-se uma competente aventura que, inesperadamente, revelou-se com o passar dos anos ser um épico à altura daqueles lançados na mesma época.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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