Crítica
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Sinopse
Harper e Charlie trabalham como assistentes para dois executivos em Manhattan. O temperamento e a dinâmica de seus chefes transformam suas vidas em um verdadeiro inferno. Desesperados e exaustos, os dois jovens se juntam para elaborar um plano um tanto quanto ousado: fazer com que os seus superiores se apaixonem e, dessa forma, fiquem mais tranquilos em relação ao trabalho.
Crítica
Charlie gosta de Suze, mas não tem tempo para ficar com ela. E isso por estar sempre às ordens para atender Rick, seu chefe workaholic. Assim como Kirsten, outra profissional que passa mais tempo no escritório do que em casa. Quem sofre com isso é sua assistente, Harper, que, por sua vez, não gosta de ninguém – ou, ao menos, não até agora. Afinal, estamos diante de uma comédia romântica, e é esta, justamente, a maior qualidade de O Plano Imperfeito: não ter vergonha alguma de se assumir tal qual foi concebida. Por outro lado, é claro também que tamanha honestidade traz consigo uma série de elementos que ou já estão desgastados, pelo uso contínuo por produções similares, ou a restringe diante de voos maiores, impossibilitando-a de ir além dos limites impostos pelo gênero. Ou seja, é um jogo de ganha-e-perde: há pontos positivos, mas também alguns inevitáveis deslizes.
Harper (Zoey Deutch) sonha com o dia em que se tornará uma grande jornalista. Para tanto, acabou indo trabalhar ao lado de uma das melhores da área. Kirsten (Lucy Liu) está dedicando corpo e alma ao site que lançou há pouco, e por isso precisa do seu braço direito a todo instante. Tanto é que, quando finalmente consegue chegar em casa, Harper mal tem forças para se atirar na cama, quanto mais escrever um artigo próprio que possa levar até a análise da sua diretora. Mais ou menos o que sente na pele Charlie (Glen Powell), que se mata para demonstrar serviço ao lado do analista Rick (Taye Diggs), na esperança que um dia esse o note a ponte de lhe oferecer uma melhor posição na empresa. O problema, no entanto, é justamente esse: ambos – Harper e Charlie – são verdadeiros capachos para seus empregadores, e não é confortável, para esses, se livrar deles, oferecendo novas oportunidades – afinal, quem irá fazer o que eles fazem com tamanha destreza? É por isso que, se querem que algo aconteça de novo em suas rotinas profissionais, não será fazendo o mesmo de sempre que irão conseguir.
Pois a ideia que lhes surge é a mais inesperada – e só viável por estarmos diante de um tipo de filme como esse. Se Kirsten e Rick passam o tempo todo trabalhando, e por isso sobrecarregam seus auxiliares, a solução é justamente ‘aliviá-los’. E qual melhor maneira disso acontecer, se não através do amor? É por isso que os jovens decidem ‘cyranar’ (dar uma de Cyrano, aquele que banca o cupido para outros na peça de Edmond Rostand), tratando de organizar tudo o que sabem a respeito de seus patrões para que um acabe se apaixonando pelo outro e, com isso, permitindo que seus empregados tenham mais tempo livre para fazer o que realmente querem, como pessoas normais, seja se dedicar a um novo trabalho ou mesmo ser mais presente ao lado da namorada.
O que seria de se esperar em um argumento como esse? Que Rick e Kirsten de fato caíssem de amores, apenas para logo em seguida descobrissem que haviam sido enganados. Pois então, O Plano Imperfeito não é tão previsível assim. E ainda que o amor aconteça para aqueles na mira da flecha, ele também irá envolver os dois responsáveis pela artimanha. Conta muito para torcermos por esse resultado o carisma de Deutch e de Powell, que funcionam bem juntos – ainda que ela se saia relativamente melhor do que ele, resultando em o roteiro oferecer mais espaço a sua personagem. Ele, por sua vez, não apenas perde tempo ao lado de uma garota que soa estar sempre desinteressada – não será difícil trocá-la pela protagonista – como, também, com o colega gay de apartamento. Excessos que, se contidos, tornariam o conjunto um pouco mais harmonioso.
Com ares de O Diabo Veste Prada (2006), seja pelos cenários ou pelas relações envolvidas, O Plano Imperfeito ao menos não é tão ambicioso, deixando claro reconhecer que suas pretensões são mais tímidas – e, talvez por isso mesmo, mais fáceis de serem alcançadas. Lucy Liu e Taye Diggs aproveitam para lembrar dos tempos de Ally McBeal (1998-2002), quando ambos atuaram juntos pela primeira vez, e funcionam como casal e nas funções de chefes estressados. E se o desenrolar das tramas por vezes acaba soando um tanto forçado, é sabido que o terreno aqui é o da fantasia romântica, e ao trilhar tais caminhos algumas liberdades precisam ser assumidas e, inegavelmente, também aceitas. Dito isso, o resultado é leve o suficiente para não se incomodar com tantas coincidências ou pontas soltas, apenas se contentando com este quase conto de fada, sem passes de mágica ou truques da cartola, mas absurdos adoráveis que distraem sem pesar na consciência.
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