Crítica
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Sinopse
Eric é um jovem rebelde à procura de respostas. Durante um fim de semana, ele resolve se hospedar em uma estação de esqui. Tudo que quer é a tranquilidade da natureza e praticar snowboard. Depois de algum tempo explorando a área, no entanto, ele é pego de forma inesperada por uma gigantesca tempestade de neve. Perdido, e sem conseguir contato com ninguém, somente algo extraordinário poderá salvá-lo.
Crítica
Baseado no best-seller Crystal Clear, de Eric LeMarque e Davin Seay, O Poder e o Impossível é uma trôpega escalada do inferno astral à glória do milagre. Aliás, a religiosidade é inerente à maneira como o cineasta Scott Waugh articula os passos dessa jornada de superação, em diversos sentidos. Os letreiros iniciais, que dão conta da base verídica da trama, robustecem a sensação de testemunho de fé que o filme nem se esforça para camuflar, em meio ao desespero do homem completamente sozinho numa paisagem nevada e aparentemente sem saída. Eric (Josh Hartnett) já começa expiando, em off, seus pecados, confessando o caráter errático da conduta pregressa, quando era um promissor jogador de hóquei. Ele atirou tudo para o alto em virtude da personalidade bastante explosiva, incorrendo no uso de drogas ilícitas, assim, colocando a própria vida em risco. Antes de uma audiência importante com a justiça, há o isolamento numa montanha para a prática do snowboard. Numa das descidas, ele se perde.
O roteiro de O Poder e o Impossível estabelece um encadeamento sintomático dos erros do protagonista, falhas de caráter que, não é difícil notar, vão sendo gradativamente expurgadas pela provação dos oito dias de isolamento na natureza hostil e opressora. Eric se desgarra por ser arrogante, vide os desafios desmedidos, primeiro, à fúria do meio ambiente, e, segundo, ao aviso de proibição em determinado lugar não aconselhável aos esportistas. Embora insista em manter a trama prioritariamente focada nos empenhos de sobrevivência do rapaz, Waugh reforça canhestramente essa demonstração das características reprováveis do personagem de Hartnett nos excertos do passado que entrecortam o presente para, pretensamente, conferir-lhe dinamismo. Vemos, portanto, o jovem intempestivo na quadra, peitando superiores, fazendo tudo errado, mesmo que almeje acertar. A leitura de um versículo da bíblia antevê essa dinâmica. O viés dogmático é subjacente, mas incontornável.
Do ponto de vista da imagem, o realizador não consegue extrapolar os registros mais óbvios, isso quando não escorrega feio na tentativa de diversificar perspectivas. As tomadas subjetivas de Eric descendo a montanha, ou as feitas com a câmera acoplada em seu equipamento, por exemplo, se mostram adequadas ao intuito de sublinhar a aventura. Todavia, tais procedimentos são utilizados novamente mais tarde, com o drama totalmente instaurado, do que decorre uma sensação incômoda de deslocamento. O Poder e o Impossível se atém demasiadamente à caminhada do protagonista pelo terreno nevado, apostando em inconsistências como o grande tempo dele completamente nu na temperatura muitos graus abaixo de zero ou a facilidade com que espanta os lobos famintos à sua espreita. O mais importante ao filme, obviamente, é apresentar essa purificação pela via do sofrimento, uma penitência imposta para que Eric possa se tornar alguém melhor. Ou seja, a concepção religiosa se escancara.
Num dos flashbacks, vemos a mãe de Eric, interpretada por Mira Sorvino – uma escolha, no mínimo, duvidosa, especialmente se constatarmos que a atriz e Hartnett possuem uma diferença pequena de idade, algo como um pouco mais de dez anos –, criticando o marido por ele exigir demais do filho. Aliás, a proximidade entre a genitora e o rebento é ressaltada repetidas vezes num tom excessivamente melodramático. Pois bem, ainda assim, o posicionamento levemente sobressalente, que instaura um desengonçado paradoxo de abordagem, é, de certa forma, o elogio enviesado ao resultado dessa criação rígida, já que Eric seguidamente continua, resiste, ao lembrar-se dos ensinamentos do homem que sempre forçou os seus limites. O Poder e o Impossível se ressente da falta de sutilezas, de ambiguidades, permanecendo enfadonhamente num terreno doutrinário mal disfarçado de trajetória de sobrevivência pura e simples. Sem inventividade, Scott Waugh oferece mais do mesmo, numa embalagem piegas e insossa.
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