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Sinopse

Ted está de volta, mas não sozinho desta vez. Na companhia de sua sobrinha Tina, ele terá uma nova e perigosa missão.

Crítica

O primeiro O Poderoso Chefinho (2017) já era um filme de uma piada só – afinal, como não rir de um bebê de terninho e gravata agindo como se fosse adulto? – que, surpreendentemente, fez tanto sucesso (mais de US$ 500 milhões nas bilheterias mundiais) que se desdobrou em uma série (O Chefinho: De Volta aos Negócios, 2018-2021), em um curta (O Chefinho: Pega Esse Bebê!, 2020) e nessa inevitável continuação para a tela grande, O Poderoso Chefinho 2: Negócios da Família. O curioso, no entanto, é que mesmo apelando para uma fórmula extremamente óbvia – ao invés de um, agora são dois bebês – o roteiro elaborado por Michael McCullers (que já havia se aventurado por esse universo no longa anterior e também no live action Uma Mãe para o Meu Bebê, 2008) é hábil em, literalmente (ou quase isso), tirar leite de pedra, construindo uma trama dona de uma dinâmica própria, envolvente o suficiente para prender as atenções tanto dos pequenos – afinal, o público ao qual o projeto se dirige – como também dos espectadores mais adultos, graças a uma variedade de referências e acréscimos presentes apenas para disfarçar uma ausência do que dizer.

Apesar de ter se passado quatro anos entre um longa e outro, as duas histórias ocorrem com um intervalo de umas duas décadas, aproximadamente. Tim, o irmão mais velho, agora é um homem adulto, casado e pai de duas meninas, uma prestes a entrar na adolescência e outra recém-nascida. É essa segunda, Tina, que se revela também funcionária da BabyCorp – assim como o tio Ted anos atrás – e delega aos dois irmãos uma missão especial: imagina-se que o diretor de uma escola para crianças superdotadas – frequentada, entre outras, por Tabitha, a primogênita – seja, na verdade, um vilão perigoso, e para descobrir a verdade os rapazes terão que tomar uma fórmula que lhes devolverá a condição infantil, apropriada para se infiltrarem no ambiente suspeito. E pronto: todo o diferencial que O Poderoso Chefinho 2 tinha a apresentar – os personagens do filme anterior como adultos, um novo bebê, dessa vez uma menina – é deixado de lado antes do terço inicial da trama, e o que se tem mais uma vez são os dois irmãos velhos conhecidos do público: um menino abismado diante de uma realidade que nem desconfiava e um garoto de fraldas que se comporta como gente grande. Mais do mesmo, portanto.

Mas nem tudo é repeteco. Afinal, se em O Poderoso Chefinho o grande embate se dava entre os protagonistas, dessa vez cada um tem algo a realizar, e “inimigos” próprios com os quais lidar. Sim, pois ao chegarem no colégio são encaminhados a classes distintas – afinal, não são da mesma idade – e enquanto o pequeno ficará encarregado de tocar os acontecimentos, não só enfrentando sozinho o antagonista e abrindo espaço para um exército de bebês do mal, como também estrelando referências à clássicos que vão de Fuga de Alcatraz (1979) até Kill Bill (2003), o lado mais problemático dos acontecimentos ficará a cargo do mais velho, que acabará como colega da própria filha. A situação que se cria entre eles parece inspirada diretamente na aventura De Volta Para o Futuro (1985), mas enquanto lá a atração entre mãe e filho era driblada por desvios da narrativa, por aqui a mera insinuação de um envolvimento maior entre pai e filha já soa complicada, possibilitando uma leitura que espera-se que apenas os mais adultos deverão depreender.

Enquanto essas reflexões parecem habitar um campo de possibilidades mais restrito, o espectador infantil poderá se entreter com todos os corres e pegas entre adultos zumbificados, um plano diabólico para eliminar os pais e crianças que, no meio de tanto choro e confusão, querem apenas atenção e carinho. E se o diretor Tom McGrath (da trilogia Madagascar) é eficiente em tirar as reações mais extremas e inesperadas das situações que combina, por outro lado desperdiça as novas oportunidades que se apresentam, sem investigar seus potenciais no âmbito que talvez merecessem. Outras novidades, como os bebês ninjas, a pônei ciumenta e até mesmo a fortuna do tio Ted são descartadas sem maiores cuidados, desperdiçando elementos que poderiam ter colaborado com a criação de um cenário ainda mais diferente e inovador.

Mesmo assim, O Poderoso Chefinho 2: Negócios da Família se mostra um investimento de resultado garantido, seja para os produtores, que conseguiram extrair um enredo (quase) inédito a partir de figuras e contextos já muito explorados, como também para a audiência, que irá se deparar exatamente com o esperado, sem surpresas e, portanto, decepções. Há muita correria (a transformação dos adultos em crianças), explosões (a ida para a escola) e cores em profusão (o ambiente escolar), mas o que resta ao final é pouco diante de tanto alarde. É como se todo esse barulho existisse apenas para disfarçar uma imensa ausência de discurso. Tem humor, diverte e provoca reações imediatas – mas não mais do que isso. E assim que termina, rapidamente deverá ser esquecido. Exatamente como esperado, afinal, é preciso que se siga consumindo as mesmas coisas, mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez. Ou não.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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