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Sinopse

Contratados como estagiários de uma misteriosa empresa londrina, Paul e Sophie percebem rapidamente que o ambiente do empregador não é normal. Paul recebe a missão de encontrar um portal secreto.

Crítica

Eis uma missão longe de ser considerada simples: a descoberta de uma nova franquia mágica capaz de rivalizar em números e alcance como os atingidos pelas sagas Harry Potter e O Senhor dos Anéis. Desde o início do século XXI – ou seja, há mais de duas décadas – estúdios ao redor do mundo e realizadores das mais variadas origens e referências tem se empenhado nesse sentido. Alguns (poucos) até chegaram perto, como os responsáveis pela série Game of Thrones (2011-2019). Mas a verdade é que a imensa maioria tem falhado miseravelmente nestes esforços. Ainda que, nem sempre, tais resultados justifiquem tamanho desprezo ou decepção. Um dos mais recentes exemplos deste tipo de performance muito aquém do potencial que seus elementos abrigam pode ser encontrado neste O Portal Secreto, filme que poderia se sentir razoavelmente confortável ao lado de tantos outros que, assim como ele, também chegaram ao público repleto de boas intenções – e, como bem se sabe, destas o inferno está cheio.

Baseado no primeiro livro da série J.W. Wells & Co., escrito por Tom Holt (composta, ao menos até o momento, por oito volumes), O Portal Secreto acompanha as desventuras de Paul Carpenter (Patrick Gibson, de Sombra e Ossos, 2023), um jovem britânico prestes a ser despejado do minúsculo apartamento onde mora em Londres por não conseguir emprego nem mesmo como vendedor de café – e também por estar sendo abandonado pela única pessoa que conhece na cidade, o amigo com quem dividia o aluguel. Sozinho e sem ter a quem recorrer, acaba, ao acaso – ou assim é levado a pensar – indo parar em uma entrevista num escritório que não anuncia o que faz, nem o que precisa e muito menos qual seria a sua função por ali. Motivado por toda essa estranheza – mas também pela necessidade que lhe bate à porta – comemora como se fosse o gol da vitória quando é avisado, no dia seguinte, ter sido aceito. Mas qual atividade ele terá que desempenhar? Pouco faz ideia. Mas quem nenhuma outra opção possui, qualquer corda atirada em sua direção serve como sinal de socorro.

Eis que a responsabilidade que está prestes a receber é justamente na empresa J.W. Wells & Co., e sua seleção foi feita pelo próprio Wells – ou quase isso. Na verdade, quem o escolheu foi Humphrey Wells, único herdeiro de John Wells, fundador da companhia (e atualmente desaparecido). A questão é que, a despeito do seu talento – já duplamente reconhecido pelo Oscar – o convocado para esse papel foi Christoph Waltz, um ator que tem, rapidamente, ficado marcado por entregar sempre o mesmo tipo de personagem, seja como o icônico Coronel Hans Landa, de Bastardos Inglórios (2009), ou mesmo em produções menos notórias, como na cinebiografia Grandes Olhos (2014). Ou seja, uma figura sedutora, de lábia afiada, mas personalidade duvidosa, disposto a um ato traiçoeiro quando menos se espera. Exatamente o que mais uma vez acontece. Aparecendo como pai e filho, é na figura desse último que ganha mais tempo em cena, prometendo uma rotina encantadora ao novo empregado, mas sem conseguir disfarçar que possui uma agenda pessoal, a despeito do que declara em frente aos demais.

É estranho perceber a demora que o diretor Jeffrey Walker, em parceria com o roteirista Leon Ford (Love Me, 2021-2023), leva para revelar o que existe por detrás de tantas distrações e desculpas sem sentido: a J.W. Wells & Co. é uma empresa que se ocupa em proporcionar coincidências, em atender aos pedidos mais secretos das pessoas – como um amor verdadeiro, uma mudança de profissão, um reencontro inesperado – como se fosse não mais do que um ato do destino (quando, na verdade, cada uma destas situações teria exigido grandes esforços por parte daqueles que, de fato, as tornaram possíveis). Entre os muitos recursos que dispõem para que a magia aconteça, além de duendes prestativos e utensílios de escritório com funções nada óbvias, há o tal portal do título: não mais do que uma porta, na verdade, capaz de se abrir em qualquer lugar imaginado por aquele que sua maçaneta girar. É este o artefato que Wells está a procura, pois acredita tê-lo perdido – e, por uma razão não muito bem esclarecida, Paul seria o único capaz de encontrá-la.

Entre figuras exóticas – mas sem muita função em cena, como as vividas por Rachel House ou Chris Pang – e outras cujo potencial poderia ter sido melhor explorado (Miranda Otto brilha a cada aparição, se mostrando como uma rival à altura do vilão, por mais que não lhe sejam concedidas as oportunidades ideais para roubar as atenções), há ainda um Sam Neill exagerado (em um papel pensado originalmente para Guy Pearce) e uma Sophia Wilde que se confirma como a verdadeira revelação do elenco, controlando o andar dos acontecimentos com maior desenvoltura do que o desajeitado vivido por Gibson. Mas são todos não mais do que peças de um tabuleiro disposto às pressas, sem cuidado ou esmero, algo que recai em sua totalidade na conta de Walker, cineasta vindo da televisão e que nunca havia lidado com um desafio de tamanha dimensão. Assim, o que consegue é o rascunho de uma obra não mais do que curiosa, que promete muito, mas tropeça sem conseguir se firmar em um caminho sólido. E no processo, ainda desperdiça a artesania dos que hoje respondem por Jim Henson (Os Muppets, Vila Sésamo). Os elementos, como se vê, estavam ao alcance. Faltou saber manejá-los com eficiência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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