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Crítica


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Sinopse

Mariane viaja ao Paquistão depois que seu marido jornalista é sequestrado por terroristas. Em meio a uma tensão quase insuportável, ela vai precisar correr contra o tempo.

Crítica

Uma das grandes apostas para o Oscar 2008, Angelina Jolie, protagonista de O Preço da Coragem, acabou frustrando seus fãs e ficando de fora das cinco finalistas. Um absurdo, no mínimo. Ela consegue deixar de lado todos os seus mais costumeiros maneirismos, submergindo num personagem de grande destaque, mas nunca tentando se sobressair à história que está sendo contada. Este é, sem sombra de dúvidas, o melhor trabalho dela no cinema - superior inclusive ao oscarizado Garota, Interrompida, que lhe valeu o prêmio de Coadjuvante em 2000 - e um filme acima de tudo relevante, tanto cultural quanto politicamente falando. Isso sem falar de que este desempenho foi reconhecido por praticamente todas as principais premiações do cinema norte-americano, indicado ao Globo de Ouro, ao Broadcast, ao Independet Spirit, ao Satellite, ao Sindicado dos Atores e segundo os críticos de Londres e Chicago, entre outros. A única - e notória - exceção foi o Oscar. Um pormenor que de forma alguma tira o brilho desta obra de inestimável valor.

Os méritos de O Preço da Coragem começam na escolha do diretor: o inglês Michael Winterbottom, reconhecido por obras políticas como O Caminho Para Guantanamo (2006), Código 46 (2003), Neste Mundo (2002) e Bem-Vindos A Sarajevo (1997). E ele mostra todo o seu domínio na forma como conduz esta história verídica, baseada no livro escrito pela jornalista francesa Marianne Pearl, que viu seu marido, o norte-americano Daniel Pearl, ser sequestrado e brutalmente assassinado enquanto cobria os conflitos do Paquistão para o Wall Street Journal. Isso aconteceu em janeiro de 2002, e a notícia correu o mundo todo, chegando inclusive aos ouvidos do casal de atores Brad Pitt e Jolie. E foram eles que decidiram que esta tragédia não poderia morrer assim, e que merecia ser levada a um público maior, como forma de anúncio e protesto. Assim, com ela como protagonista e ele como produtor, chegaram até Winterbottom, que tomou para si a missão de transformar aquela série de acontecimentos num enredo forte, chocante, envolvente e, acima de tudo, real. Tão duro quanto a própria vida.

Daniel (interpretado de forma muito convincente por Dan Futterman) foi fazer uma última entrevista antes de terminar seu trabalho no dia 23 de janeiro. Esta é a data oficial do seu desaparecimento. A partir de então o governo do Paquistão, dos Estados Unidos, o Wall Street Journal, a CIA, a polícia local e ONGs internacionais se uniram para tentar uma solução pacífica para o caso. Infelizmente, isto não foi possível. Como este desfecho é mais do que conhecido, o diretor sabiamente não procura fazer disto um mistério. O que nos ganha é o modo sério como este desenrolar de ações é relatado, numa edição inteligente e não cronológica, como peças de um grande quebra-cabeças que vão sendo colocadas ao pouco na nossa frente, para que completamos o trabalho montando-o segundo nossa lógica. Processo muito similar ao que os envolvidos devem ter se confrontado naqueles dez fatídicos dias de suspense e tensão. Assim, O Preço da Coragem só cresce, seja se pensarmos nele como obra cultural ou debate sociológico.

O mundo é um lugar repleto de contradições. A forma como Mariane Pearl encarou esta tragédia é mais uma dessas. O tempo todo ela permaneceu honesta ao que seu coração sentia, aos ideais que ela e Daniel sempre acreditaram e a uma visão de mundo justa e equilibrada. Pode parecer loucura algumas de suas decisões, atitudes ou sentimentos. Mas não teriam como ser diferentes. Mais do que uma emocionante história de amor, este é o relato, como diz o título original, de um coração de muito valor, disposto a encarar as durezas da vida de cabeça erguida e ainda seguir procurando por algo que mereça ser parabenizado. Assim como deve ser a impressão de qualquer um de nós após assistir a este filme: com respeito e a consciência de ter recebido uma lição que não deve ser esquecida.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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