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Sinopse

Simon e Robyn são um casal vivendo exatamente como planejaram. Até que um dia encontram casualmente um antigo amigo dele, a quem passam a ver com uma frequência estranha, ao mesmo tempo em que começam a receber misteriosos presentes na porta de casa. Conforme a situação fica mais insustentável, segredos de mais de vinte anos começam a ser revelados, levando Robyn a se questionar o quão bem conhece o marido.

Crítica

Keep in the dark to stay out of the light”, diz a canção que embala os créditos finais de O Presente, projeto que marca a estreia de Joel Edgerton como diretor e roteirista. A mensagem pontua de forma angustiante o efeito provocado pelo filme ao reafirmar a incerteza que permeia toda a sua duração. Misturando elementos de Violência Gratuita (2007), Oldboy (2003) e Alfred Hitchcock, o longa se recusa a entregar soluções fáceis que pudessem satisfazer o espectador em sua torcida por esse ou aquele personagem. De fato, o cineasta de primeira viagem subverte expectativas ao constantemente reposicionar seus personagens dentro da nossa área de afeto ou desprezo, o que contribui para tornar essa experiência ainda mais instigante.

Se de primeira parece que o estreante se prepara para trilhar um lugar comum a uma linha de thrillers envolvendo sociopatas, logo seu roteiro passa a enxergar Gordo (interpretado pelo próprio Edgerton), através de Robyn (Rebecca Hall), dona de uma opinião que serve de contraponto à do marido, Simon (Jason Bateman), ex-colega dele que está decidido a não ceder às suas investidas amigáveis. Tal postura faz emergir nele não só segredos de infância, como também o seu pior lado, rapidamente convertendo-o em antagonista da própria história.

Essa mudança de foco é construída pelo realizador com tanta eficiência que é admirável que ele se sinta seguro para excluir Gordo de cena por um bom tempo. Brincando, enquanto isso, com a insegurança de Robyn, que é palpável através de planos que sugerem alguém andando pela casa, pela varanda e espreitando esquinas de corredor. Esse ponto de vista nos leva a temer pela designer, sempre enquadrada como uma figura fragilizada e gentil, apesar de ser a única personagem razoável o suficiente para notar que nem Gordo é de todo maluco, como nem Simon chega a ser uma vítima. E que, na verdade, os casos podem estar trocados.

Nesse ponto, Rebecca Hall é responsável por uma figura de olhar gentil, embora as linhas do seu rosto quase sempre indiquem dor e mágoa. Paralelamente, Edgerton vive um homem dissimulado, tal qual espera-se que seja, mas que não cai em obviedades por isso. De fato, seu Gordo nos revela até mesmo impotência em determinados momentos – repare como retira uma gravata borboleta do pescoço tentando não ser notado pela pessoa bem em sua frente – o que, de certa forma, ao menos o explica. É um alívio perceber que Joel não prefere tratá-lo como a figura unidimensional que outro filme poderia ter trazido, e apesar de estabelecê-lo como o grande algoz da trama, é engraçado notar, em retrospectiva, que Simon e Robyn, através da ação ou da passividade, acabam causando grande parte de seus problemas, não deixando que a produção se converta em um festival de quem é bonzinho e quem é o malvado.

Tenso ao provocar, primeiro, desconforto pelas situações providenciadas por Gordo, e depois pelas consequências desses encontros, O Presente se mostra uma boa surpresa vinda de um artista que como ator há tempos tem se destacado cada vez mais. Dono de um desfecho honesto, que não procura acariciar a cabeça do espectador com respostas e soluções mágicas, o filme ainda apresenta um roteiro exímio que foge dos clichês de diálogos, apesar de brincar com eles diversas vezes, elaborando conversas que não só impulsionam o desenrolar das ações, como também soam genuinamente interessantes. Tal qual o filme como um todo.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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