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Sinopse

Diante de quatro pessoas que parecem ter atingido o fundo do poço, um homem misterioso oferece esta alternativa: todos ganham uma semana para voltar a se apaixonar pela vida.

Crítica

O conceito não é novo, tampouco impopular. A ideia de ressignificar a vida terrena sob viés radiante aos que nela encontram descrença foi popularizada ainda na Era de Ouro de Hollywood, com A Felicidade Não Se Compra (1946), um dos filmes dos mais assistidos nos EUA durante as festividades natalinas. Além de James Stewart, astro que encabeça o título dos anos 1940, até Adam Sandler já surgiu nas telas com tal conteúdo em Click (2006). Em O Primeiro Dia da Minha Vida, é Toni Servillo, astro habitual do cinema italiano contemporâneo, que encara a proposta de favorecer uma idealização de mundo no qual a próxima benção pode estar na esquina mais próxima.

Adaptado do livro homônimo de sua própria autoria, o diretor Paolo Genovese (Perfeitos Desconhecidos, 2022) dispõe peças comuns de tramas dessa divisão. São elas: Arianna (Margherita Buy) é policial que convive com a insuportável dor de ter perdido a filha; Napoleone (Valerio Mastandrea) é coach motivacional que não enxerga mais brilho no cotidiano; Emília (Sara Serraiocco) é ginasta que acabou numa cadeira de rodas; e Daniele (Gabriele Cristini, de 12 anos) é influenciador digital pré-adolescente que sofre bullying. Esses carentes personagens desistiram da existência e se encontram no limbo. Uomo (Servillo), misterioso agente celestial que se revela personalidade principal do enredo, os acolhe e esforça-se para que eles voltem a se entusiasmar com a jornada terrestre.

Em tonalidades de realismo mágico, o protagonista transporta o espectador a universo otimista. Cada melancólico figurante deve encarar satisfações passadas e prazeres que ainda estão por vir, valorizando a compreensão de que a tristeza se recompensa no contento que deve chegar brevemente. A narrativa assim se sustenta por boa parte da empreitada, com direito a maneirismos calculados, como diálogos a respeito da beleza das atribulações diárias, da aliciante promessa de momentos inesquecíveis e das surpresas que as relações interpessoais podem revelar. Durante tais sequências, faixas como “Experience”, de Ludovico Einaudi, e “Hallelujah", de Leonard Cohen, tornam o percurso confortável, mas também previsível.

Entretanto, sem recorrer a spoilers, vale ressaltar atípico ingrediente nessa sopa de dizeres positivos que propõe contradições ao contexto. Há um papel específico no grupo que carrega mais do que o preto e branco da credulidade no milagroso. Por meio desse indivíduo, o responsável não entrega totalmente o longa ao melodrama, motivando dualidades e derrotas irremediáveis. Esse componente, inclusive, torna o papel de Servillo um tanto mais cativante, ainda que seu carisma seja, corriqueiramente, suficiente para sustentar qualquer aposta oscilante.

Embora conte conte com elenco competente e momentos interessantes, o resultado, por vezes, cai na armadilha do sentimentalismo banal, sacrificando a profundidade das questões abordadas em prol de resposta agradável e comercial, simplificando a complexidade da experiência humana. Mesmo considerando o insucesso divino, com combinações que possibilitam bons debates pós-sessão, O Primeiro Dia da Minha Vida é mais uma regular história de autocomiseração e redenção.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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